A posse da nova direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) reuniu a categoria em cerimônia na tarde deste sábado (1), no auditório Vladimir Herzog, na sede da entidade, no centro da capital paulista. A cerimônia foi conjunta com a da nova Comissão de Ética do SJSP.
Com o cenário de retirada de direitos pela “reforma” trabalhista, agravado pela crise econômica e política decorrente do golpe à democracia, os dirigentes assumem a entidade com muitos desafios para o mandato que vai até agosto de 2021. A sustentação financeira do SJSP está entre as prioridades, pois é essencial para defesa da categoria que agora, mais do que nunca, é atingida pela precarização das redações e pela tentativa dos empresários de excluir direitos das convenções e acordos coletivos de trabalho.
“A reforma da CLT foi concebida para acabar com os direitos trabalhistas conquistados com muita luta. Por outro, foi planejada para minar a capacidade de articulação e resistência dos sindicatos, nos deixando sem recursos ao acabar com o imposto sindical e ao dificultar, ao mesmo tempo, o desconto de contribuições mesmo quando aprovadas por categorias profissionais em suas campanhas salariais”, criticou Cândida Vieira, ex-secretária de Finanças do SJSP que tomou posse como secretária geral na nova direção.
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Em seu discurso, Cândida defendeu que os próprios jornalistas devem assumir a sustentação financeira do SJSP por meio da sindicalização. “O tamanho e a capacidade de agir do Sindicato têm grande influência no futuro dos jornalistas. Nós é que definiremos coletivamente que tipo de trabalhadores seremos – ou aqueles com direitos e emprego de qualidade, ou os precários, vendendo capacidades e saberes a troca de remunerações miseráveis e condições de trabalho aviltantes”, destacou.
A sindicalista ressaltou ainda a importância da renovação da diretoria, com a ampliação da participação das mulheres jornalistas, que agora representam um mínimo de 50% na direção do SJSP.
Representando a CUT Nacional, o secretário-adjunto de Comunicação da Central, Admirson Medeiros Ferro Junior, o Greg, parabenizou os dirigentes da nova gestão pontuando que “mais do que nunca, essa direção tem que ir às bases conquistar mentes e corações para que mais jornalistas venham fortalecer o SJSP. Para onde se olha nesse Sindicato, vemos muitos símbolos e referências de luta. Que a nova direção tenha muita garra, persistência e união, como vocês já demonstraram com a unidade dessa chapa eleita”, concluiu.
Demissões na Abril
As demissões em massa na Editora Abril foi uma das questões debatidas durante a cerimônia, pois é reflexo da “reforma” trabalhista que facilita a dispensa coletiva sem negociação prévia com os sindicatos. A dispensa levou à demissão de um total de pelo menos 800 trabalhadores, dos quais cerca de 150 jornalistas. A empresa já foi a maior empregadora da base, com mais de mil jornalistas empregados produzindo cerca de 50 publicações regulares e, hoje, restam cerca de 200 profissionais nas redações do grupo.
Representando os demitidos pela editora, o jornalista Fabio Sasaki falou a relevância do Sindicato na situação enfrentada atualmente pelos que trabalharam na empresa, destacando que a atuação do SJSP na Abril ocorre há anos, seja nas campanhas salariais seja no esclarecimento dos profissionais quanto a seus direitos.
“É preciso ressaltar a importância de fazer parte do Sindicato, de ter um sindicato forte para que, nos momentos de dificuldade, possamos bater de frente em situações como a das demissões em massa que ocorreram na Abril, para nos fortalecermos e enfrentarmos melhor os desafios que vêm pela frente”, disse Sasaki.
O jornalista recordou que, antes das demissões em massa feitas pela editora no final de 2017, o Sindicato já havia convocado assembleias e esclarecido a gravidade da situação diante da proposta da empresa de demitir em massa e ainda parcelar as verbas rescisórias.
“Infelizmente, não houve uma adesão muito grande. Se houvesse um movimento maior dos trabalhadores, poderíamos enfrentar essa situação na Editora Abril com mais força agora. É nesse momento de demissão de centenas de jornalistas que vemos a força do Sindicato como uma entidade agregadora. Semanas atrás tivemos uma assembleia com a participação dos jornalistas e, se esse movimento tivesse ocorrido já em 2017, teríamos condição de enfrentar melhor a situação”, ponderou.
Luta por direitos passa pela reconquista da democracia
Convocando a categoria para que amplie seu engajamento nas lutas da entidade, o presidente reeleito do Sindicato, Paulo Zocchi, que também é funcionário da Editora Abril, destacou em seu discurso: “Não podemos aceitar esse estado de coisas, nem como jornalistas nem como cidadãos, e temos que construir os meios para nossa defesa e a do nosso Sindicato. Vemos aqui um fenômeno do mundo moderno – empresa falida e donos bilionários, as demissões se multiplicam no nosso setor e a reforma trabalhista reduz ainda mais as ferramentas de resistência”.
Para derrubada da “reforma” da CLT, da terceirização nas atividades fim das empresas e de outros retrocessos trazidos pelo golpe de Michel Temer (MDB), o sindicalista também defendeu a convocação de uma Assembleia Constituinte, soberana e democrática, para permitir à população uma saída positiva ao país.
Lembrando Audálio Dantas, ex-presidente do Sindicato que faleceu no final de maio depois de uma vida engajada nas lutas do SJSP, Zocchi também deixou claro o posicionamento da entidade em defesa do direito à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva às eleições presidenciais deste ano.
“Expressão de coerência férrea, Audálio Dantas, ao longo de toda sua vida, de seu apego perene à democracia, fez um pronunciamento público no início desse ano condenando o processo político que levou Lula à prisão e defendendo seu direito de se candidatar à presidência da República. Essa também é a posição expressa por esse Sindicato”, disse o atual presidente.
Zocchi explicou que essa opinião política não é a de todos os jornalistas que o Sindicato representa, mas é uma posição construída coletivamente, a partir do debate livre e democrático nas instâncias formais da entidade, tais como congressos, assembleias, eleições e reuniões. “Não se pode considerar que essa posição divide a categoria, como alguns dizem, pois aqui é a casa da liberdade de expressão, na qual os debates são livres e as decisões são democráticas”, completou.
A cerimônia de posse do Sindicato dos Jornalistas contou com a presença, entre outras entidades, da CUT Estadual São Paulo (CUT/SP), do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de São Paulo (Radialistas-SP), da Comissão de Justiça e Paz, da Associação Profissão Jornalista (Apjor), Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP) e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal (Sindcine).
A posse terminou com uma confraternização paga pelos recursos que sobraram da arrecadação feita pela Chapa 1, e com participação do grupo de samba “Breque Sincopado”, formado pelos músicos Lino Bater, Luiz Carlos Roque e Mauro Amorim.