Considerado entre as mais significativas distinções jornalísticas do país, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos reconhece, desde a sua primeira edição, concedida em 1979, trabalhos que valorizam a Democracia e os Direitos Humanos.
Em 2021, são 700 produções que concorrem em sete categorias: Artes (ilustrações, charges, cartuns, caricaturas e quadrinhos), Fotografia, Produção jornalística em texto, Produção jornalística em vídeo, Produção jornalística em áudio, Produção jornalística em multimídia e Livro-reportagem.
As peças inscritas estão em fase de avaliação pelo Júri de Seleção. A divulgação dos finalistas está programada para o dia 14 de outubro e a escolha dos vencedores será feita por representantes das entidades que compõem a Comissão Organizadora no dia 16 de outubro, em sessão pública.
Prêmio Especial Vladimir Herzog 2021
Desde 2009 as instituições promotoras retomaram a proposta original do Prêmio de homenagear, a cada edição, personalidades e profissionais com atuação destacada nas causas relevantes da Democracia, da Justiça Social e dos Direitos Humanos.
Nessas últimas quatro décadas já foram homenageados Lourenço Diaféria (in memoriam), David de Moraes, Audálio Dantas, Elifas Andreato, Alberto Dines, Lúcio Flavio Pinto, Perseu Abramo (criador do Prêmio, in memoriam), Marco Antônio Tavares Coelho, Raimundo Pereira, Sandra Passarinho, Rubens Paiva (in memoriam), Mino Carta, Mauro Santayana, Daniel Herz (in memoriam), Eduardo Galeano (in memoriam), Elio Gaspari, Cláudio Abramo (in memoriam), Tim Lopes (in memoriam), D. Paulo Evaristo Arns (in memoriam), Rose Nogueira, Bernardo Kucinski, Patrícia Campos Mello, Glenn Greenwald, Hermínio Sacchetta (in memoriam), Luiz Gama (in memoriam), Sueli Carneiro e Laerte.
Neste ano, Neusa Maria Pereira e Alex Silveira recebem o troféu símbolo do Prêmio – a meia lua recortada com a silhueta de Vlado, uma criação do artista plástico Elifas Andreato. Abdias Nascimento e José Marques de Melo são os homenageados in memoriam.
Neusa Maria Pereira
Paulistana formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, Neusa Maria Pereira foi repórter e revisora de alguns dos principais jornais do país. Também integrou a equipe do “Versus”, importante jornal da imprensa alternativa que circulou de 1975 a 1979, durante a ditadura civil-militar.
Neusa Maria foi a primeira mulher negra a publicar um texto sobre feminismo negro na imprensa brasileira e foi uma das organizadoras do histórico ato público realizado nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo, em 1978, que marcou a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU). Atualmente, dirige a Abayomi Comunicação, que desde 2012 edita o jornal “Escrita Feminina” distribuído para mulheres da periferia de São Paulo.
Homenagear Neusa Maria Pereira é jogar luz sobre a história invisibilizada de quem, com sua luta, ajudou a abrir as portas do jornalismo brasileiro às mulheres negras. Que esse reconhecimento também ajude a inspirar um número cada vez maior de jovens negras a quebrar as muitas barreiras que a sociedade brasileira ainda lhes impõe.
Alex Silveira
Em 18 de maio de 2000, durante cobertura de um protesto de professores na Avenida Paulista pelo jornal Agora SP, o repórter fotográfico Alex Silveira foi atingido no olho esquerdo por um disparo de bala de borracha, o que lhe causou a perda de 90% da visão. Desde então, ele tenta responsabilizar o Estado pelo ocorrido. Apesar de a indenização ter sido concedida em 1ª instância, o TJ-SP reformou a decisão em 2014 considerando que havia culpa exclusiva do fotógrafo por seu ferimento por ter ficado no local do tumulto.
No mês de junho de 2021, por 10 votos a 1, o STF responsabilizou o Estado pela grave lesão sofrida por Alex – decisão essa que pode restabelecer a justiça e ajudar a resgatar a importância social do jornalismo, pois abre caminho para jurisprudência em outros processos e casos de violência do Estado contra profissionais da imprensa.
A indicação de Alex Silveira para receber o Prêmio Especial Vladimir Herzog é um reconhecimento por sua luta em defesa do exercício profissional e uma posição pelo fortalecimento da liberdade de imprensa. É igualmente a celebração de uma decisão que responsabiliza o Estado pelos ferimentos causados por um agente seu a um jornalista que estava no local dos fatos exercendo uma atividade de interesse público e social.
Abdias Nascimento
Ícone da luta contra o racismo e pelos direitos humanos no Brasil, Abdias Nascimento dedicou uma vida inteira a apontar a desigualdade racial como uma das chagas nunca curadas de nosso país. Foi jornalista, artista plástico, escritor, poeta, dramaturgo, professor universitário e senador. Destacou-se como cientista social e como autor de importantes trabalhos que tratam da temática afro-brasileira considerados referência obrigatória nesse campo de estudos.
Em 1980, auxiliou na criação do Memorial Zumbi; em 1982, elegeu-se Deputado Federal pelo PDT do Rio de Janeiro; na década seguinte, ocupou a cadeira de Senador da República. Foi também titular da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Foi o primeiro deputado federal do país a desenvolver projetos de lei de políticas afirmativas. Como suplente do antropólogo Darcy Ribeiro no Senado, assumiu a cadeira entre 1991 e 1992 e de 1997 a 1999. Em 2021, a morte de Abdias completa 10 anos.
Homenagear Abdias Nascimento é lembrar que o jornalismo precisa ser mais plural e igualitário. Além disso, é também uma forma de restituir ao jornalismo de hoje, tão empenhado em serviços de consumo, algo da pública voz cívica que ele tinha no passado, a exemplo da imprensa abolicionista e republicana das quais Abdias foi protagonista.
José Marques de Melo
Desde “Uso dos meios de comunicação” e “A reforma do ensino de Jornalismo”, no final de 1960, José Marques de Melo publicou 173 livros, colaborou com capítulos em mais de 150 outros, fora as centenas de artigos em revistas científicas. Todos fundamentais para um conceito que ele próprio cunhou: o “Pensamento comunicacional brasileiro”. Dentre seus livros, a obra mais citada é “A opinião no Jornalismo Brasileiro”, de 1985, elaborada a partir do aprofundamento nos estudos sobre os gêneros jornalísticos. É o mais frutífero autor das áreas de Comunicação e Jornalismo na língua portuguesa e na América Latina.
Nascido no interior das Alagoas, em 1943, formou-se em Jornalismo e em Direito, no Recife. Foi professor na Cásper Líbero, na Metodista e fundador do Departamento de Jornalismo da USP, de onde foi cassado pela Ditadura, só podendo retornar após a Anistia, em 1979. Nesse meio tempo, doutorou-se em Jornalismo e foi um dos criadores da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a Intercom.
Mas não somente o volume e a qualidade da obra, bem como suas realizações, demonstram a importância desta homenagem ao jornalista e professor José Marques de Melo. Formador de várias gerações de jornalistas, professores e pesquisadores do campo da Comunicação, sempre buscou reunir forças e construir caminhos de forma coletiva. Perdemos sua presença física em junho de 2018, mas seus ensinamentos, criatividade, provocações, visão de mundo e defesa da democracia e dos direitos humanos permanecerão para sempre no jornalismo brasileiro.
Sobre a premiação
A cerimônia solene do 43º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos será no dia 25 de outubro, segunda-feira, das 20h às 21h30, de forma virtual. A já tradicional Roda de Conversa com os Ganhadores também será remota com transmissão no dia 24 de outubro, domingo, das 17h às 19h.
O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – ABRAJI; Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB Nacional; Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo, Periferia em Movimento e Instituto Vladimir Herzog.
CALENDÁRIO
43º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos | 2021
- Divulgação dos finalistas: 14 de outubro, quinta-feira, em www.premiovladimirherzog.org
- Júri de premiação e divulgação dos vencedores: 16 de outubro, sábado, das 14h às 17h, em sessão pública de julgamento e transmissão ao vivo pela internet.
- Roda de Conversa com os Ganhadores: 24 de outubro, domingo, das 17h às 19h, em ambiente virtual.
- Solenidade de premiação: 25 de outubro, segunda-feira, das 20h às 21h30, em ambiente virtual.
Mais informações em www.premiovladimirherzog.org
O SJSP precisa de você!
Para que o Sindicato dos Jornalistas de SP continue a desenvolver o seu trabalho em defesa dos interesses da categoria, é fundamental a participação de tod@s na construção e no fortalecimento da entidade. Sindicalize-se! A mensalidade é de 1% do salário (com teto de R$ 60 na capital e de R$ 38 no interior) ou de R$ 60 e R$ 38 fixos (capital e interior) para quem não tem vínculo empregatício. O processo de sindicalização é online. Veja aqui.