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Na missa de 7º dia, Audálio é homenageado na Catedral da Sé

Resistir e lutar: é a mensagem na missa de 7º dia de Audálio Dantas

Missa de sétimo dia em memória do jornalista Audálio Dantas, na Catedral da Sé. Foto: Flaviana Serafim/SJSP“Sabemos que aquele ato ecumênico foi um dos grandes passos para a reabertura democrática do país. E nem por isso Seu Audálio parou de gritar contra as mortes que insistem em acontecer clandestinamente, especialmente contra negros e pobres da periferia, no que ainda chamamos de democracia. Eu proponho que a gente continue a resistir”. Recordando a mobilização que, em 1975, levou milhares a protestar contra o assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura, Juliana Kunc Dantas, filha de Audálio Dantas, prestou sua homenagem ao pai no altar da Catedral da Sé durante na missa de sétimo dia em memória do jornalista, que ocorreu na manhã desta terça-feira (5).

Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) de 1975 a 1978, Audálio Dantas morreu aos 88 anos no último dia 30 de maio, vítima de câncer.

A missa foi celebrada pelo arcebispo de São Paulo, Dom Odílio Scherer, e concelebrada pelo padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua e que conduziu um dos atos religiosos durante o velório de Dantas, no último dia 31 de maio, na sede do Sindicato.

Dom Odílio Scherer destacou a luta do jornalista pela redemocratização no Brasil e, fazendo uma reflexão sobre o sentido da existência e sobre os sofrimentos enfrentados durante a vida, afirmou: “Depende de nós aliviarmos os sofrimentos um dos outros, os do nosso mundo e os nossos próprios. Certamente Audálio fez sua parte para que os sofrimentos do próximo fossem não menores, mas aliviados”.

Assim como no velório, centenas de pessoas participaram da missa de sétimo dia na Catedral da Sé, todos e todas bastante emocionados tanto pela despedida ao jornalista quanto pela importância simbólica da cerimônia, pois há 42 anos, Audálio discursou no mesmo local durante o culto ecumênico em memória de Herzog e, graças à coragem de Dantas, foi onde começou o movimento que fortaleceu a sociedade para reagir e derrubar a ditadura.

“Audálio é o nome mais importante da história do Sindicato dos Jornalistas. Hoje tivemos uma primeira cerimônia em sua lembrança e com um simbolismo enorme que tem a Catedral da Sé. O ato ecumênico pelo Herzog foi um marco da resistência contra o regime militar e o início da derrocada da ditadura, e quem protagonizou aquele evento foi Audálio Dantas, a partir do Sindicato, onde esse ato foi organizado”, lembrou Paulo Zocchi, presidente do SJSP.

Lutar e resistir: embates que seguem

Apesar da tristeza e do luto em meio à manhã fria e chuvosa da capital paulista, o clima na catedral era de paz e, ao mesmo tempo, de disposição para dar continuidade ao embate pela democracia e pelos direitos humanos, lutas às quais Audálio se dedicou por toda a vida como guerreiro aguerrido.

Diretor da Oboré Projetos Especiais, o jornalista Sergio Gomes também prestou homenagem ao amigo no altar da Catedral da Sé, onde recordou não só da morte de Herzog, como a de outras vítimas da violência de Estado em diferentes períodos – a do líder estudantil Alexandre Vannucchi Leme, assassinado sob tortura aos 22 anos, em 1973, nos porões do Doi-Codi, e a do catador de recicláveis Ricardo Silva Nascimento, 39, executado a tiros pelo policial militar José Marques Medalhano, em julho de 2017, na Rua Mourato Coelho, em Pinheiros, na zona oeste paulistana.

A cerimônia em homenagem ao jornalista terminou na cripta da Catedral destacando a parceria de lutas de Dantas e de Dom Paulo Evaristo Arns. Foto: Flaviana Serafim/SJSP“No velório, ali estava Audálio mais vivo do que sempre, dizendo a esse mar de humanos que agora, mais do que nunca, era preciso empenho redobrado, de todos e de cada um, pela democracia, pela justiça, pela paz. Dizendo que as nuvens ameaçadoras e os presságios devem ser afastados e que não basta Deus querer. É preciso que o homem sonhe para que a obra nasça”, disse Gomes do púlpito da catedral.

Após o final da missa, os presentes desceram até a cripta da Catedral da Sé para encerramento da homenagem e para prestar condolências a esposa de Audálio, Vanira Kunc, ao lado das filhas Juliana e Mariana. Além delas, o jornalista deixa os filhos José e Ana, dos dois primeiros casamentos, netos e bisnetos.

Em frente à câmara mortuária onde está enterrado o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que morreu aos 95 anos, em 2016, o padre Julio Lancellotti falou sobre as lutas do religioso – que ficou conhecido como “cardeal da liberdade” e “bispo dos pobres” – e destacou a parceria de Arns e Audálio nos  embates contra a ditadura, por justiça e democracia.

“Os dois estão juntos porque sempre foram amigos, porque sempre lutaram juntos e estão unidos diante de Deus dizendo ‘não deixem o povo desanimar, não deixem o povo desistir e continuem lutando. Assim como está escrito na lápide de Dom Paulo, junto com o cardeal, Audálio foi um defensor exímio da dignidade humana”, finalizou o padre sob aplausos.

Em memória ao pai, a filha Juliana recordou os versos de Guimarães Rosa, aqui também compartilhados em homenagem à Audálio:

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”

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