Mesmo depois do parecer do Ministério Público do Trabalho (MPT) da 15ª Região alegar que é legítima a greve histórica dos jornalistas da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), em Campinas, a empresa, que alega problemas no fluxo de caixa, continua intransigente, não paga os salários e demais direitos atrasados desde janeiro e a Justiça demora a responder.
O movimento grevista está esperando há quase dois meses uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região para que a RAC pague os direitos básicos dos trabalhadores e trabalhadoras. Há 73 dias em greve, jornalistas resistem na luta para garantir o recebimento de salários atrasados há quatro meses, 13º, férias, vale refeição e Fundo de Garantia (FGTS).
No último dia 20 de abril, a empresa pagou apenas 2/4 do salário de janeiro. Os trabalhadores e trabalhadoras estão pressionando parlamentares, buscando apoio da Câmara Municipal de Campinas, visitando gabinetes, dialogando com vereadores e vereadoras e conversando com entidades sindicais e populares, e com a população, com panfletagens na frente do TRT e atos de solidariedade ao movimento grevista.
A jornalista e diretora da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Márcia Quintanilha, mora na região e está acompanhando de perto a greve. Ela explica que a categoria reconhece o trabalho das entidades na defesa dos direitos dos trabalhadores, que estão indignados com a demora do julgamento da greve.
“Se fosse uma empresa que tivesse pedindo o julgamento, assim como outros casos, seria mais rápido. Por ser uma greve que não prejudica o trânsito e nem fatores essenciais para a população, foram os trabalhadores que pediram o julgamento”, explica Márcia, que também é diretora do Sindicato dos Jornalistas do estado de São Paulo (SJSP).
O advogado do SJSP na regional Campinas, Marcel Barbosa, disse que a atitude da empresa é displicente e ressalta que os jornalistas estão abertos à negociação.
“A RAC está tratando a luta desses trabalhadores com muita indiferença. Não estão nem um pouco preocupados, porque nem procuraram os trabalhadores para um possível acordo. Os trabalhadores só querem receber seus salários, fundo de garantia, férias e 13º, direitos trabalhistas básicos”, explicou Marcel.
Para o jornalista e diretor do SJSP da regional Campinas, Agildo Nogueira Júnior, a empresa está apostando no desgaste. “Em outros momentos, em casos como este que já dura dois meses sem acordo na Justiça, a empresa sempre nos procurava, mas dessa vez estão intransigentes e radicais”, disse o jornalista.
Para o presidente do SJSP, Paulo Zocchi, esta greve é a mais longa do jornalismo brasileiro e a resistência dos jornalistas é impressionante. Ele fala também da importância da solidariedade da população, dos movimentos sociais e populares para que esta greve saia vitoriosa.
“É uma greve combativa e a perspectiva é buscar ajuda política, sindical e popular para continuar resistindo. Além de pressionarmos o TRT para que dê celeridade ao processo, os defensores da democracia e de direitos precisam colaborar de alguma forma. A luta é de todos nós e juntos somos mais fortes”, diz.
Fundo de greve, solidariedade e consciência política
Reconhecendo a importância histórica da greve de jornalistas, a Fenaj mandou um ofício para o TRT, solicitando a celeridade do julgamento, e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo contribui juridicamente com a luta dos trabalhadores em Campinhas, além de coordenar uma campanha de arrecadação para o Fundo de Greve, que sustenta a paralisação e dívidas dos grevistas.
Vários trabalhadores da RAC com dificuldades financeiras conseguiram usar o fundo de greve para pagar pensões alimentícias, aluguéis, contas de água e gás. Existe um conjunto de ações, como bazar, doações e campanha de alimentos, para sustentar o fundo de greve.
O diretor regional do SJSP, Agildo Nogueira Júnior, trabalhador da RAC, diz, emocionado, sobre a solidariedade das pessoas e do processo de evolução da consciência política da greve. “Está todo mundo trabalhando para dar certo. Quando apareceram casos de pensão alimentícia, todo mundo se mobilizou”.
“No começo da greve havia resistência geral sobre política, mas agora além do trabalho do SJSP com a campanha pelo fim da violência contra jornalistas, os trabalhadores da RAC participaram dos atos Lula livre na região e vão participar do 1º de maio, coisas que jamais aconteceriam antes dessa greve. A gente está todo dia lutando por direitos e dialogando sobre o momento histórico do País”, disse Agildo.
Saiba como ajudar:
É possível contribuir com qualquer quantia ao fundo de greve dos jornalistas da RAC por meio de depósito ou transferência bancária na seguinte conta:
Caixa Econômica Federal
Agência 4070
Conta corrente 1143-3
(caso o depósito ou transferência seja entre contas da Caixa, o código da operação é 003)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
CNPJ 62.584.230.0001-00
Quem preferir, pode colaborar com o fundo de greve por meio de doação de cesta básica na sede da Regional Campinas do SJSP, que fica na Rua Dr. Quirino nº 1319, 9° andar, no centro campineiro.