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Cineclube Vladimir Herzog debate mídia, democracia e resistência

Juliana Almeida - SJSP

Na noite de 22 de maio, o Cineclube Vladimir Herzog esteve no auditório da FAM para a exibição dos dois primeiros episódios da série documental Folha Corrida. A sessão foi aberta ao público e recebeu jornalistas e estudantes. A série documental, composta por quatro episódios, conta como foi a participação do Grupo Folha durante a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), e seu envolvimento com o regime que se instalou no país por longos 21 anos.

O evento contou com um debate com o cineasta Cleisson Vidal, produtor executivo da série, ao lado da presidenta da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), Samira de Castro, e do jornalista Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas. O debate foi mediado pelo coordenador da instituição, Vicente Darde.

Em sua fala inicial, Samira ressaltou a atualidade das questões levantadas pela série. “Vivemos tempos em que a imprensa é desacreditada, atacada, e em que jornalistas são ameaçados, muitas vezes por simplesmente fazerem seu trabalho.” Ela citou o crescimento da violência contra a categoria, as pressões políticas e econômicas dentro das redações e a precarização das condições de trabalho. “O jornalismo precisa ser valorizado como serviço essencial à democracia.”

Samira de Castro acrescentou que a perseguição aos jornalistas, intensificada nos últimos anos, faz parte de um projeto autoritário que busca deslegitimar a imprensa diante da sociedade. “Estamos vendo a volta de práticas que lembram os tempos da ditadura: o uso do Judiciário para censurar reportagens, o assédio judicial, a intimidação nas redes sociais”, disse. Para ela, é fundamental que os jornalistas se organizem, denunciem os abusos e busquem proteção coletiva.

Em resposta a uma pergunta do público sobre como transmitir o drama no audiovisual, Cleisson explicou que o ponto de partida é sempre a apuração. “Você precisa descobrir algo novo, que chame a atenção, e aí pensar na forma de contar essa história. Não existe fórmula. O essencial é ter repertório: assistir a muitos documentários, ler, experimentar. É assim que se cria uma linguagem própria.”

Thiago Tanji comentou sobre a importância do jornalismo crítico e do papel dos sindicatos. Ele destacou o impacto que obras como Cidadão Boilesen tiveram em sua formação, ao mostrar a complexidade do trabalho jornalístico em tempos de repressão: “É fantástico, enquanto consumidor da notícia, ter acesso a isso, para a gente ter algum senso crítico. A gente percebe o quanto o jornalismo continua sendo essencial e o quanto a nossa profissão é importante.”

Tanji também apontou os conflitos de interesse enfrentados por jornalistas no cotidiano das redações, especialmente quando os proprietários dos veículos têm interesses políticos e econômicos contrários aos dos trabalhadores. “Nós, jornalistas, somos trabalhadores. Recebemos salário, temos chefes, e muitas vezes somos confrontados com ordens que vão contra o que apuramos ou que descaracterizam o nosso trabalho.” Segundo ele, essas tensões ainda são muito presentes, e por isso o sindicato continua sendo essencial: “É o sindicato que nos ajuda a organizar nossas lutas, inclusive com a Folha de S.Paulo, seja por direitos trabalhistas ou pelo direito de fazer jornalismo com ética.”

Samira também aproveitou a ocasião para falar sobre o lançamento o Mapa da Violência contra Jornalistas, relatório histórico produzido pela FENAJ, que documenta as agressões sofridas por profissionais da imprensa no Brasil. A edição de 2024 registrou 144 episódios, incluindo casos de agressão física, assédio judicial e ameaças. “Quarenta por cento dos ataques vieram de políticos, assessores ou eleitores da extrema direita”, disse. Ela criticou a omissão das empresas de comunicação, que muitas vezes não oferecem qualquer tipo de proteção ou respaldo jurídico aos jornalistas. “As plataformas digitais também são cúmplices, porque permitem a disseminação do ódio sem nenhuma regulação.”

A presidenta da FENAJ encerrou sua fala com emoção: “Eu abracei o jornalismo aos 16 anos porque achava que com ele mudaria o mundo. Não sei se mudei o mundo, mas me mudei bastante. E acredito que o jornalismo ainda é uma ferramenta fundamental para a construção de uma sociedade mais civilizada.”

O Cineclube Vladimir Herzog acontece todo mês e a programação inclui documentários, curtas e longas-metragens que abordam questões sociais, políticas e culturais relevantes, sempre seguidos de debates com convidados especiais.

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