O Cineclube Vladimir Herzog exibe, na última terça-feira de novembro, dia 26, às 19h, “Torre das Donzelas” (2018 – 97m). Dirigido por Susanna Lira, documentário revive a experiência de ex-presas políticas e traz relatos da ex-presidenta Dilma Rousseff e de suas companheiras de cela do Presidio Tiradentes, em São Paulo, durante a ditadura. Torre das Donzelas era o apelido (um tanto sarcástico) dado a ala feminina desse presídio. Como o prédio onde ficava o presídio não existe mais, foi demolido nos anos 1970, o filme cria um espaço cênico, que imita o ambiente do cárcere e funciona como um estímulo à memória das personagens, tanto nos depoimentos à diretora, como nas conversas entre elas.
Para recriar o ambiente do presídio, a diretora Susanna Lira pediu para que cada uma desenhasse a Torre das Donzelas, como elas se lembravam. Durante a pesquisa, a equipe percebeu, que cada uma tinha uma memória distinta do lugar. “Então, resolvemos criar este lugar sugestivo, porque, na verdade, não sabíamos exatamente como era, e essa torre imaginária é, ao mesmo tempo, um espaço sugerido para se recuperar a memória coletiva delas”, explica a diretora e completa: “E reerguer esse espaço também é uma forma de resistir ao apagamento de memória, pois há um projeto de apagamento desses lugares, justamente para que não nos lembremos deles.”
Além de Dilma Rousseff, também participam do documentário Ana Bursztyn-Miranda, Maria Aparecida Costa, Rita Sipahi, Rioco Kayano, Rose Nogueira, Elza Lobo, Dulce Maia, Nair Benedicto, Leslie Beloque, Eva Teresa Skazufka, Robêni Baptista da Costa, Guida Amaral, Marlene Soccas, Maria Luiza Belloque, Nair Yumiko Kobashi, Ieda Akselrud Seixas, Lenira Machado, Ana Mércia, Ilda Martins da Silva, Iara Glória Areias Prado, Ana Maria Aratangy, Darci Miyaki, Vilma Barban, Telinha Pimenta, Sirlene Bendazzoli, Nadja Leite, Leane Ferreira de Almeida, Maria Aparecida dos Santos, Lucia Salvia Coelho e Janice Theodoro da Silva.
“Torre da Donzelas” recebeu os prêmios de Melhor Direção de Documentário e Melhor Documentários pelos júris oficial e popular no Festival do Rio, de Melhor Filme pelo júri popular na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília.
Susanna Lira é documentarista, pós graduada em direitos humanos e atua no mercado audiovisual desde 1994. Dirigiu cerca de 11 longas metragens, diversos curtas e séries de televisão. Entre seus trabalhos estão “Rotas do Ódio”, “Clara Estrela”, “Damas do Samba”, “Intolerância.doc”, “Levante!”, “Mussum, um Filme do Cacildis” e outros.
Debate com Rose Nogueira, Nair Benedicto e Rosalina Santa Cruz
Rose Nogueira é jornalista, militante política e integra o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Foi presa pela ditadura militar em 4 de novembro de 1969, mesmo dia da morte de Carlos Marighella. Na época, militava na Ação Libertadora Nacional (ALN) e trabalhava no jornal Folha da Tarde. Levada ao Deops, foi torturada e transferida para o Presídio Tiradentes, às vésperas do Natal de 1969. Foi solta após nove meses, mas ficou sob liberdade vigiada e por dois anos, teve que assinar, semanalmente, um livro na auditoria militar, e em 1972, foi julgada e absolvida. Retomou o seu trabalho e atuou na Editora Abril, TV Cultura, e Rede Globo, participando da criação do programa TV Mulher.
Nair Benedicto é fotógrafa. Em 1969, jovem, estudante, casada, com três filhos, foi presa, torturada e passou nove meses no Presídio Tiradentes. O motivo da prisão, até hoje ela não sabe. Posta em liberdade, abalada, procurou acalmar os filhos, voltar aos estudos e retomar a vida. Graduou-se pela ECA-USP, em 1972, e queria trabalhar com televisão, mas, lhe faltava um “atestado de bons antecedentes”. No início dos anos 1980 fundou, ao lado de outros fotógrafos, a Agência F4, precursora na área da fotodocumentação no Brasil. Participou da produção de livros e de audiovisuais sobre política, sexualidade, violência contra a mulher, a Amazônia e os povos indígenas. Em 2012, lançou o livro ViVer, que apresenta sua produção brasileira e trajetória artística.
Rosalina Santa Cruz é professora da PUC de São Paulo. Presa em 1972, no Rio de Janeiro, ao lado de seu companheiro à época, viveu sob graves torturas, ela militava na VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária). Também perdeu seu irmão. No dia 23 de fevereiro de 1974, o jovem estudante de direito Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atual presidente da OAB, desapareceu e foi assassinado pela ditadura militar. Rosalina possui graduação em serviço social pela Universidade Federal de Pernambuco, mestrado em Programa de pós graduados em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo e doutorado em Curso de pós graduados em Ciências Sociais, também pela PUC. É professora doutora do curso de Serviço Social da PUC, tem dois livros e vários artigos publicados com o tema gênero e direitos humanos.
Cineclube Vladimir Herzog
O Cineclube Vladimir Herzog é uma iniciativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP) e tem o apoio de militantes cineclubistas do cineclube Baixo Augusta. A proposta é resgatar espaço importantíssimo na resistência à ditadura e na luta pela redemocratização do país. Naquele tempo, filmes como “O Homem que Virou Suco”, de João Batista de Andrade, chegaram a um imenso público a partir das sessões realizadas por este cineclube. As sessões são sempre nas últimas terças-feiras de cada mês, seguidas por debates com realizadores dos filmes e/ou convidados. Para mais informações, visite nosso blog e nossas páginas nas redes sociais.
Data: 26 de novembro (terça-feira), às 19h.
Local: Rua Rêgo Freitas, 530, Sobreloja, República, São Paulo, SP (Sindicato dos Jornalistas de São Paulo)
Exibição gratuita.