Há 40 anos, a ditadura militar prendeu ilegalmente, torturou e matou o jornalista Vladimir Herzog, como fez com milhares de brasileiros. A resposta dos jornalistas de São Paulo a esse crime, organizada a partir de uma assembleia realizada em 27 de outubro de 1975, dois dias após a morte de Vlado, marcou a história de nosso Sindicato e a do Brasil.
O culto ecumênico realizado em memória de Herzog na catedral da Sé, em 31 de outubro de 1975, com a presença de milhares de pessoas – apesar de todo o esforço policial para impedir o acesso ao local –, constituiu-se em um grito coletivo de repúdio ao regime e tornou-se um passo inicial de uma longa caminhada, na qual as amplas camadas do povo brasileiro foram, paulatinamente, tomando as ruas, para pôr fim à ditadura, quase dez anos depois.
Na luta ferrenha e de longo prazo para esclarecer as circunstâncias do assassinato, descobrir os responsáveis e garantir sua punição – desmontando-se inicialmente a farsa do suicídio –, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo adquiriu uma ligação permanente e profunda com as causas democráticas. Já naquela assembleia histórica, feita em seguida à morte de Herzog, decidiu-se batizar o auditório da entidade com seu nome e abri-lo para todos os movimentos sindicais, sociais e democráticos que buscassem se organizar para enfrentar o autoritarismo vigente. Com isso, nos anos seguintes, nosso auditório e nossa entidade acabaram sendo o berço de inúmeras iniciativas de cunho democrático. Vem daí o impulso para o papel de protagonista do SJSP nos movimentos pela Anistia, pelas Diretas Já, pela punição dos torturadores e assassinos da ditadura, e na própria fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em 1983.
Hoje, ao homenagearmos a memória de Herzog, além de resgatar nossa própria história, buscamos também ressaltar a atualidade dos ricos ensinamentos que ficaram daquele episódio – e que nos ajudam a balizar a atuação sindical na difícil realidade em que vivemos.
Em primeiro lugar, há o valor inestimável da ação própria e autônoma dos trabalhadores na defesa da democracia. Isso nos motivou, nos últimos meses, a defender uma reforma política ampla em nosso país. A nosso ver, o melhor instrumento para isso seria uma Constituinte Exclusiva, no qual grandes decisões nacionais seriam colocadas nas mãos da população, e não resolvidas nas obscuras negociações do atual Congresso Nacional. Levou-nos também a nos opor a qualquer movimento golpista, que busque reverter pela força o resultado das eleições de 2014.
Não aceitamos, tampouco, medidas vindas do governo eleito pela maioria dos brasileiros para reduzir ou extinguir direitos trabalhistas – como projetos de lei que precarizam as relações de trabalho e o conjunto do ajuste fiscal em curso, de caráter recessivo, que beneficia o setor rentista. Essa foi a tônica de nossa participação em recentes manifestações e no 12º Congresso da CUT.
Vivemos com orgulho a nossa posse, em 19 de setembro, que encheu o auditório do Sindicato: além de jornalistas de diversos segmentos, regiões do Estado e setores profissionais, pudemos receber importantes lideranças sindicais, políticas e de movimentos sociais. Nela, reafirmarmos os nossos compromissos de campanha e nossa interlocução com a sociedade.
Nos defrontamos com um cenário difícil, marcado por demissões em massa e por duras campanhas salariais, no qual as empresas, apesar das benesses da desoneração tributária, buscam achatar os ganhos da categoria. Mas assumimos motivados a fazer o Sindicato cumprir bem o seu papel: organizar e representar correta e combativamente os jornalistas de São Paulo.
Direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP)