A cerimônia de premiação da 35ª edição Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, realizada na noite da última terça (22), no Auditório Simón Bolívar, do Memorial da América Latina, foi marcada por merecidas homenagens e denúncias de violações aos direitos humanos, principalmente contra os profissionais de comunicação. O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), José Augusto Camargo (Guto), fez um pronunciamento em homenagem ao jornalista Raimundo Rodrigues Pereira e, destacou sua importância na imprensa alternativa.
O secretário geral do SJSP, André Freire, entregou o prêmio ao jornalista e aproveitou seu discurso para criticar a grande mídia “hegemônica” e “conservadora”, e afirmar que para se fazer bom jornalismo atualmente é preciso enfrentar a “ditadura do grande capital”. Os outros dois agraciados foram Perseu Abramo (in memoriam) e Marco Antônio Tavares Coelho.
Destaque para Marilu Cabanãs, repórter especial da Rádio Brasil Atual, que recebeu o troféu das mãos do presidente do SJSP. Premiada na categoria “Rádio”, com a reportagem “Voz Guarani-Kaiowá”, a jornalista proferiu seu discurso em língua Guarani, enquanto a índia o traduzia para o português.
Em emocionado apelo à situação vivida pelo povo guarani kaiowá, a repórter finalizou: “Desejo que a presidente Dilma Roussef, parlamentares e juízes sejam firmes na defesa dos direitos indígenas consagrados na Constituição brasileira e não se curvem aos ruralistas, se isso não ocorrer este prêmio não fará o menor sentido.”
Participaram da solenidade o presidente do SJSP, José Augusto Camargo (Guto), o secretário geral, André Freire, a secretária de Relações Sindicais e Sociais, Evany Sessa, a secretária de Ação e Formação Sondical Telé Cardim, os diretores Wladimir Miranda e Zé Eduardo (secretário adjunto do Interior e Litoral) e a secretária de Sindicalização, Márcia Quintanilha, que representou a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) no evento.
Mais homenagens
Aos 87 anos, Marco Antônio Tavares Coelho recebeu pessoalmente o troféu de seu filho, Marco Antônio Tavares Coelho Filho. Zilah Abramo, esposa de Perseu, fez as honras em nome da família.
Com a apresentação de Juca Kfouri, da Folha de S.Paulo, UOL, CBN e ESPN, e Mônica Teixeira, da Abraji, o Prêmio também prestou homenagem a Antônio Maschio, agitador cultural, ator, chef e artista plástico, que morreu, nesta segunda (21), por pneumonia. Maschio estava com 66 anos.
Por sugestão de Juca, ao invés de se fazer 1 minuto de silêncio, a plateia, composta por cerca de 800 pessoas, aplaudiu o ator de pé, por 30 segundos.
Entrega dos prêmios
Com exceção de Marcelo Canellas e sua equipe da TV Globo, menção honrosa na categoria “TV Reportagem”, todos os jornalistas vencedores nas 9 categorias (artes, fotografia, jornal, revista, rádio, TV reportagem, TV documentário, internet e especial, cujo tema deste ano foi “Violências e agressões físicas e morais contra jornalistas e contra o direito à informação”), estiveram presentes para receber o prêmio.
A repórter do Portal UOL Janaina Garcia ofereceu a congratulação recebida na categoria “Especial” pela matéria “Existe terror em SP: o dia em que PMs atiraram ante aplausos e pedido de não violência ”, a todos os jornalistas brasileiros agredidos pela polícia e por manifestantes.
Autor da reportagem vencedora na categoria “Revista”, “O primeiro voo do Condor”, publicada na Brasileiros, Wagner William enfatizou o papel protagonista do Brasil na Operação Condor, fato revelado em sua reportagem: “a união das ditaduras militares do conesul não ocorreu no Chile em 1975. Essa operação foi criada no Brasil, em 1970”.
Mateus Parreiras, que integrou a equipe do jornal Estado de Minas que produziu a reportagem “Jornalistas assassinados no Vale do Aço”, ganhadora na categoria “Especial”, ofereceu o prêmio a Rodrigo Neto e Wagney Assis Carvalho, jornalistas assassinados na região metropolitana de Minas Gerais por um esquadrão de extermínio formado por policiais militares e civis.
Seguindo o exemplo, Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros dedicaram o troféu a ex-trabalhadores de frigoríficos que os ajudaram na produção do documentário “Carne Osso: o trabalho em frigoríficos”, vencedor na categoria “TV Documentário”.
Por fim, Ciara Núbia de Carvalho, do portal NE10, vencedora, ao lado de Juliana de Melo Correia, na categoria “Internet”, com o trabalho “Pelo menos um”, foi sorteada entre os jornalistas vencedores para uma viagem ao Museu do Apartheid, em Johanesburgo.
Prêmio Fernando Pacheco Jordão
O 5º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, realizado em conjunto com o Vladimir Herzog, também concedeu uma viagem ao Museu do Apartheid às estudantes Mariana de Camrgo e Marina Yoshimi, que, orientadas pelo professor José Carlos Fernandes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), produziram a matéria “Travestis e transexuais: luta por respeito nas salas de aula”. O mentor do grupo foi o jornalista Mauri König, repórter especial da Gazeta do Povo e diretor da Abraji.
Os demais grupos vencedores do Prêmio, apesar de não ganharem a viagem, também tiveram suas pautas patrocinadas pelo Instituto Vladimir Herzog e o apoio de um jornalista mentor na produção das matérias.
Cristiane Paião, Deborah Rezaghi e Raquel Bertani, da Faculdade Cásper Líbero, sob a orientação de Filomena Salemme, e com Dácio Nitrini como mentor, fizeram a reportagem radiofônica “Bulling velado: um retrato desconhecido de pessoas com deficiência”.
Glenda Carlos Ferreira e Nibberth Pereira da Silva, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), orientados por José Coelhos Sobrinho, com auxilio do jornalista Milton Bellintani, foram responsáveis pelo trabalho “Como bullying contra jovens indígenas estudantes de escola “de branco” perpetua o estereótipo negativo do índio”.
E o estudante da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Yuri Ebenriter, sob orientação de Luiza Carravetta, produziu o documentário “Jovens quilombolas rurais e urbanos do Rio Grande do Sul: preconceito e superação”. O mentor foi a jornalista Letícia Duarte, do Zero Hora.
“O pior de tudo é a indiferença da sociedade e dos próprios jornalistas com a violência que nos atinge”, disse Anabel Hernández, em entrevista ao jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Na manhã de terça (22), pela segunda vez em sua história, o Prêmio promoveu uma Roda de Conversa entre seus vencedores. A troca de experiências entre os participantes se deu na Sala dos Espelhos, no Memorial da América Latina, e contou com transmissão pela internet feita pela TV PUC.
Mediado pelos jornalistas Aldo Quiroga (PUCSP/TV Cultura), e Angelina Nunes (Abraji/Globo), o emocionado bate-papo reuniu 14 jornalistas, que, de forma apaixonada construíram uma verdadeira aula de bom jornalismo:
José Raimundo e Caio Cavechini, da TV Globo; Bianca Vasconcellos, Gustavo Minari e parte da equipe de reportagem da TV Brasil; Matheus Leitão, da Folha de S.Paulo; Marilu Cabanãs e Anelize Moreira, repórteres da Rádio Brasil Atual; Allan Costa Pinto, repórter fotográfico da Tribuna do Paraná; Kleber Soares, ilustrador no Correio Braziliense; Wagner William repórter da revista Brasileiros; Janaina Garcia, do Portal UOL; Ismael Xavier, do Diário do Pará; e Fausto Salvadori Filho, da revista Apartes.
Ainda estiveram presentes Nemércio Nogueira, diretor do Instituto Vladimir Herzog, Guilherme Alpendre, diretor-executivo da Abraji, estudantes de jornalismo vencedores do 5º Prêmio Fernando Pacheco Jordão e Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e coordenador do evento.
Texto e fotos: João Paulo Brito