O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudia a atitude dos secretários municipais de Araraquara, Antônio Martins (de Governo) e Rudi Bouer Zytkuewisz (Segurança Municipal) pelo cerceamento do trabalho do jornalista profissional Raphael Pena, profissional vinculado ao Sindicato dos Servidores Municipais de Araraquara e Região (Sismar). Trata-se de flagrante ato de perseguição pessoal, prática de censura e ataque à liberdade de imprensa.
Raphael, que trabalhou como repórter por dois anos no jornal Tribuna Impressa de Araraquara, foi impedido, mediante o uso de força e de agressão física, de participar de uma entrevista coletiva com o prefeito da cidade, Marcelo Barbieri (PMDB), fato que confronta a legislação brasileira. O decreto lei 972/1969 determina em seu artigo 1º que “o exercício da profissão de jornalista é livre, em todo o território nacional”, sobretudo quando diz respeito às questões públicas.
O jornalista, que já enfrentou problemas com cerceamento de seu trabalho na Câmara Municipal da cidade no início do ano, desta vez muniu-se de uma câmara escondida e pode mostrar o flagrante desrespeito com que o secretário Antônio Martins trata o profissional de imprensa, alegando que ele não poderia participar da entrevista coletiva “pelo posicionamento de veículo de vocês” e que “vocês inventam um monte de coisas lá”. O secretário alega ainda que o Sindicato “tem cores partidárias” e que “imprensa de sindicato não participa de coletiva”.
Para a direção do SJSP, é importante ressaltar que o secretário Antônio Martins criou uma lei de imprensa particular. Jornalistas não podem ser discriminados no exercício de sua função. Não se pode questionar questões partidárias dos profissionais. Também é inaceitável que se discrimine a imprensa sindical, principalmente a ligada aos funcionários públicos municipais que, não só pode como deve acompanhar e registrar entrevistas do prefeito e dos secretários municipais, que no exercício de suas funções públicas, devem prestar contas à população, sejam eles funcionários públicos ou não.
Leia o relato do jornalista sobre o episódio:
“Hoje, todos os limites foram ultrapassados e a violência física foi o argumento de quem está no poder. Enquanto esperava junto com vários jornalistas e cinegrafistas pela coletiva de imprensa sobre uma possível paralisação dos médicos por falta de condições de trabalho, assunto pertinente ao sindicato para o qual eu trabalho e para a categoria que ele representa, fui convidado a me retirar para uma sala ao lado pelo secretário municipal de Governo, Antônio Martins.
Ele me disse que não poderia participar da coletiva por ser muito crítico e dizer inverdades, as quais não soube precisar. Disse também que sindicato não deve ter cor partidária. Que imprensa de sindicato não participa de coletiva. E olha que ele é sociólogo hein!
Não aceitei seus argumentos, uma vez que o assunto da coletiva dizia respeito aos servidores e ao sindicato e me juntei aos outros jornalistas na sala de imprensa onde a entrevista iria ocorrer.
Outro secretário, desta vez o de Negócios Jurídicos, Ricardo Santos, me pediu para ir conversar “lá fora”. Respondi que não poderia sair, pois a coletiva já estava para começar. Ele me disse que o prefeito não queria a minha presença. Que eu iria tumultuar.
Num gesto que seria negado por muitos jornalistas, submeti minhas perguntas ao secretário, que a esta altura já estava acompanhado do coordenador municipal de Segurança Pública, Rudi Bouer Zytkuewisz. Bouer me ameaçou de ser levado à delegacia caso não saísse.
Eles deixaram a sala sem me convencer a sair. Logo depois, que coincidência, a coletiva mudou de sala. Um aviso repentino e os jornalistas foram rapidamente em direção à única saída existente naquela parte do prédio.
Ao entrar no corredor, fui retirado à força por Bouer do meio de outros jornalistas. Ele tentou me puxar pelo braço para dentro de um banheiro, pedindo em tom agressivo para eu entrar. Em seguida, o guarda municipal identificado na farda como Gotardo, me atingiu violentamente no braço esquerdo e começou a torcê-lo, alegando que eu estava tumultuando.
O vice-presidente do Sismar, Marcos Zambone, que estava na sala de espera, interveio imediatamente. Pediu que me largassem, que eu estava fazendo o meu trabalho. Bouer chamou “reforço” mentindo: – ele invadiu a sala do Prefeito -, repetiu três vezes. – Pode levar! – continuou. Vieram mais dois guardas, da ROMU, sem identificação na farda, mas cujos nomes, segundo testemunhas, são Virgilio e Gomes e me pegaram o outro braço.
Neste momento eram quatro me segurando, torcendo meu braço, me ameaçando, dizendo que iriam me levar à Polícia, que eu iria preso por desacato. Torceram também o braço do Zambone e o ameaçaram. Bouer chegou a pedir que me algemassem.
Depois de convencer os guardas que eu não representava ameaça nenhuma e nem queria fugir, queria era ir embora dali, eles aliviaram as torções. Bouer disse, então, que não me levaria à Polícia se eu fosse embora. Mas não sem antes fazer mais ameaças.
Eu e Zambone fomos levados ao subsolo do prédio da Prefeitura de elevador junto com Bouer e os três guardas. Se existem câmeras de segurança no térreo, devem ter filmado a porta do elevador se abrindo, duas mulheres não conseguem pegar o elevador pois ele está lotado conosco.
Na garagem, somos ameaçados mais uma vez de sermos incriminados por desacato. “Se for dizer que tá machucado fala agora que eu te levo pra delegacia”, disse Bouer a mim enquanto os três guardas enfileirados lado a lado nos observavam à distância. Me senti num filme americano de quinta categoria. Máfia total”.
O SJSP se solidariza com Raphael Cruz e deverá encaminhar um ofício de protesto ao prefeito Marcelo Barbieri contra o desmando e se coloca à disposição do profissional para eventual ação jurídica.
Veja o vídeo gravado pelo jornalista