O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) reuniu em assembleia virtual, na última terça-feira (26), dezenas de trabalhadores credores da Editora Três para informar e debater os rumos da recuperação judicial da editora. O terceiro leilão da gráfica, destinada ao pagamento das dívidas trabalhistas, não recebeu nem mesmo ofertas pelo valor de R$ 28 milhões, 30% abaixo da avaliação oficial, de R$ 40 milhões.
Diante da falta de ofertas, os credores da classe 1 farão uma assembleia formal, convocada pelo juiz, com as seguintes possibilidades: aceitar o terreno no qual se localiza a gráfica em Cajamar (SP) em pagamento das dívidas, aguardar novas ofertas pela área ou solicitar novo leilão à Justiça (eventualmente, com nova avaliação).
O imóvel está localizado em uma Área de Proteção Ambiental (APA), o que dificulta a sua venda. No entanto, em reunião realizada com a empresa antes da assembleia, o Sindicato foi informado de que a Editora obteve recentemente um parecer assinado por especialista que estabelece a possibilidade de compensação ambiental dentro da mesma bacia hidrográfica, permitindo ampliar a área construída do terreno à venda. Com isso, a empresa afirma já ter recebido o contato de novos interessados na compra.
O Sindicato dos Jornalistas se opõe a receber o terreno como quitação dos débitos trabalhistas e entende que a empresa é responsável por levantar os recursos para quitar todos os créditos trabalhistas. Para o Sindicato, uma nova avaliação pode ser muito importante, pois, caso o valor do terreno seja inferior ao montante em dívidas trabalhistas, pode-se colocar em xeque a proposta de recuperação judicial aprovada, pois é obrigatório quitar os débitos trabalhistas.
A assembleia desta terça-feira (26) demonstrou que os jornalistas credores estão em alerta e acompanhando os desdobramentos da recuperação judicial.
Para garantir o pagamento dos jornalistas, o Sindicato solicitou a atualização dos valores da dívida trabalhista e acompanha de perto as propostas de compra. A assembleia decidiu que o SJSP solicite à Justiça a realização de uma nova assembleia de credores em 31 de agosto, para que os trabalhadores decidam sobre os rumos da recuperação judicial.
O Sindicato seguirá acompanhando o desenrolar dos fatos e pretende convocar nova reunião com os jornalistas antes da assembleia de credores, na perspectiva de garantir que a dívida seja totalmente paga o quanto antes.
Recuperação judicial
A Editora Três, que publica as revistas Istoé, Dinheiro, Rural, Menu, Motor Show e Planeta, requereu recuperação judicial em maio de 2020. A dívida global da empresa está na casa das centenas de milhões de reais – sendo cerca de R$ 40 milhões referentes a dívidas trabalhistas e mais de R$ 200 milhões a fornecedores, bancos e outras empresas. Já a dívida tributária pode chegar a um bilhão de reais.
Esta é a segunda vez que a empresa entra em recuperação judicial. A primeira começou em 2008. No entanto, a empresa sequer quitou muitas das dívidas com os credores da primeira recuperação, que terminou em 2016. Apesar disso, a Justiça autorizou essa nova medida de socorro ao grupo empresarial.
O plano de pagamento das dívidas, já homologado pela Justiça, prevê o pagamento integral das dívidas trabalhistas de até 250 salários mínimos; deságio de 50% para a faixa de crédito entre 250 e 350 salários mínimos; e, para a parcela de créditos acima de 350 salários mínimos, alocação na classe 3, dos quirografários, com deságio de 94% a 95% (!!), 4 anos para começar a receber o devido, e pagamento em 10 parcelas anuais (em resumo, um calote!).