O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) enviará uma nota de protesto ao Governo do Estado, exigindo o fim da violência contra manifestantes e jornalistas.Ontem (12), durante manifestação organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento da tarifa do transporte público, a Polícia Militar usou de violência contra a imprensa, ao atirar bombas de efeito moral nas jornalistas Camila Salmazio (Rede Brasil Atual) e Fernanda Azevedo (TV Gazeta) e agredir o repórter fotográfico Felipe Larozza (VICE) com golpes de cassetete. Todos os profissionais agredidos estavam fazendo a cobertura do ato.
Camila em contato com o Sindicato, contou que acompanhava um grupo de 150 pessoas que queriam entrar na av. Rebouças para ir ao Largo da Batata. A PM bloqueava a passagem. Na Praça do Ciclista, sem nenhum diálogo, a polícia avançou contra os manifestantes com bombas de efeito moral, balas de borracha e gás de pimenta.
“Não havia para onde correr. A tropa ‘envelopou’ todas as saídas. Então, o dono de um hotel na rua da Consolação permitiu a minha entrada e me ofereceu vinagre para conseguir respirar melhor, quebrando o efeito das bombas”, relatou Camila. Retomando seu trabalho, a jornalista conseguiu alcançar o grupo na rua Sergipe. Mais uma vez, a polícia realizou o “envelopamento”. Desta vez, a jornalista, que acompanhava o final do bloco, foi atingida pelas bombas.
“No meio da fumaça, levantei os braços, segurei meu crachá na tentativa de me identificar e tentei sair do cerco. Um dos policiais apontou a arma para mim, me coagindo para que eu retornasse, e muitas bombas foram estouradas tão próximo que podia sentir os estilhaços”, afirmou. Com problemas para respirar, a jornalista encostou-se a uma parede e conseguiu chegar à rua Mato Grosso. Lá, deitou no chão e foi socorrida pela dona de um bar.
Outros profissionais também foram agredidos pela PM. A jornalista Fernanda Azevedo foi ferida em uma das pernas por um estilhaço de bomba de efeito moral. O repórter fotográfico Felipe Larozza foi agredido com um cassetete ao registrar a detenção de um manifestante, mesmo se identificando com crachá de profissional da imprensa.
Veja a nota do Sindicato:
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo vem mais uma vez repudiar veementemente a ação violenta da Polícia Militar do Estado de São Paulo contra manifestantes e jornalistas durante as manifestações contrárias ao reajuste da passagem de ônibus em São Paulo, ocorridas neste 12 de janeiro, que acabou por ferir jornalistas e impediu o trabalho livre da imprensa.
A ação da polícia, como está relatada por jornalistas que cobriam a manifestação, foi das mais violentas já vista. Nela, houve a inclusão de uma perversa manobra denominada “envelopamento”, que consiste em cercar os manifestantes por todos os lados, impedindo que se dispersem, enquanto se atiram bombas de efeito moral na multidão. É um ato de violência somente imaginável numa ação de guerra, concebida na lógica do combate ao inimigo interno, herdada da ditadura militar.
Mais uma vez, o Sindicato se manifesta reiterando a necessidade imediata de desmilitarização das polícias, como primeiro gesto para conciliar o Estado com a sociedade democraticamente organizada e, também, com a grande população trabalhadora, comumente vítima da ação truculenta e inúmeras vezes criminosa da Polícia Militar paulista, considerada das que mais matam no mundo.
O Sindicato dos Jornalistas abre suas portas a todos os profissionais que queiram se manifestar contra a truculência policial no Estado, convoca a auditoria da PM a se manifestar imediatamente para coibir ações semelhantes e responsabiliza o governador Geraldo Alckmin (PSDB), responsável maior na hierarquia de comando da PM, pela situação, e se dirige ao governador no sentido de que interrompa a violência policial contra o direito de manifestação e contra os jornalistas, que não fazem mais do que exercer o ofício de registrar e relatar os fatos de interesse público.