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Sindicato e jornalistas debatem ações contra intimidação e pela liberdade de expressão nas redes

Sindicato e jornalistas debatem ações contra intimidação e pela liberdade de expressão nas redes

A intimidação e os ataques a jornalistas por figuras públicas nas redes sociais foram discutidos no ato-debate pela liberdade de expressão, realizado na noite desta segunda-feira (6) no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), no centro da capital paulista. O evento teve como debatedores a jornalista Janaina Garcia, do coletivo “Jornalistas contra o assédio”, o jornalista Diego Bargas e Paulo Zocchi, presidente do SJSP, com mediação da diretora da entidade, Priscilla Chandretti.

Têm crescido no Brasil os casos de jornalistas vítimas de haters, os “odiadores” virtuais que atuam nas redes sociais, e o Sindicato chamou a categoria para discutir o problema porque os ataques ferem a liberdade de expressão e censuram o trabalho jornalístico, atingindo também o direito da sociedade à informação.

Bargas foi alvo de um dos casos mais graves envolvendo ataque de haters incitados por figuras públicas na internet e acabou demitido pela Folha de S.Paulo, no último dia 13 de outubro, depois de publicar a matéria “Comédia juvenil ri de bullying e pedofilia” sobre o filme de Danilo Gentili, após uma entrevista do repórter com o “humorista” e com o diretor Fabrício Bittar.

“O que o Danilo fez pode ser feito por qualquer celebridade contra qualquer jornalista porque eu não tenho um Twitter de milhões de seguidores para poder revidar. Ele politizou algo que em momento algum foi tratado dessa forma”, criticou Bargas, que é jornalista de cultura e nunca cobriu a área de política. 

Jornalistas na fogueira, patrões ilesos

Gentili instigou seus milhares de seguidores – 15 milhões no Twitter e 13 milhões no Facebook – a reagir à matéria escrita por Bargas e, além do bombardeio pelos fãs do “humorista”, o repórter se tornou pauta de notícias falsas e foi chamado de “militante de extrema esquerda travestido de jornalista” na página do Movimento Brasil Livre (MBL). Na tentativa de justificar a demissão do repórter, a Folha alegou que Bargas  feriu as normas internas do jornal por se manifestar politicamente nas redes sociais.

“Na matéria que noticia minha demissão, a Folha não esclarece em qual conteúdo me manifestei nem o que eu disse nesses posts nas redes sociais. Se sou jornalista, estou numa manifestação, alguém tira uma foto minha e eu posso ser demitido? Quais são os critérios disso?”, questionou Bargas. O jornalista também destacou o problema da ficção criada por Gentili e o impacto para a carreira do repórter.

“Como vou explicar que meu trabalho é isento e dizer que isso tudo não é real? Quem disse que a entrevista é política? Em que momento coloquei alguma coisa política? O Danilo é quem disse que foi uma questão política, ele fez a mistura. Ele não me xingou ou insultou, mas usou isso como gatilho me chamando de ‘petista desonesto’ e, no Brasil, em 2017, é o que basta para colocar a pessoa na fogueira. Isso precisa ser levado em consideração por ele e pela Folha”, afirmou.

Bargas avalia, ainda, que é necessário discutir as expressões de ódio nas redes, que são diferentes do direito de manifestação. “As empresas têm como blindar os jornalistas desse ódio? A tendência é piorar e me mandar embora é um ‘cala a boca’ para todo mundo”, concluiu. 

Para Janaína Garcia, do coletivo “Jornalistas contra o assédio”, a preocupação é que o caso de Bargas reacendeu um linchamento virtual que vem atingindo os profissionais de comunicação. Para a jornalista, as empresas têm que ter algum tipo de ação jurídica mais eficiente para os casos em que os profissinais são atacados, pois vários têm tido suas vidas e carreiras devastadas por esses ataques virtuais.

“O jornalista está exposto, não é o patrão. Muitos dos xingamentos aos patrões quem enfrenta é o jornalista, é a pessoa física que vai em busca da informação à sociedade. Quem é mais fácil atacar? É mais fácil atacar o jornalista. E que respostas temos tido das empresas? Não tivemos resposta nenhuma e precisamos do Sindicato para fazer essa ponte e não só para remediar situações, mas para cobrar resposta das empresas”, destacou Janaína.  

Liberdade de expressão e defesa da categoria

O presidente do SJSP explicou que a defesa dos jornalistas por advogados das empresas está prevista nas Convenções Coletivas da categoria, mas que também é necessário discutir outros instrumentos para impedir os ataques e intimidações porque essas formas de agressão ferem o direito dos profissionais se expressarem.

“A orientação do jornal de que o jornalista não pode se manifestar precisa ser rejeitada de maneira cabal. Não é possível aceitar que a empresa casse o direito de liberdade de expressão, que  os direitos políticos sejam cassados por causa de um jornal. Não se pode ter liberdade de expressão com esses direitos políticos cassados”, disse Zocchi.

Ao final do debate, jornalistas e sindicalistas apontaram várias propostas de ações. Entre as medida dialogadas, os profissionais sugeriram que o Sindicato passe a contatar e a cobrar as empresas, além de um acompanhamento detalhado dos casos pela entidade.

Os dirigentes do SJSP também se comprometeram a analisar os regulamentos internos das empresas de comunicação para debater a legalidade dessas normas, bem como a conformidade com a ética jornalística. Outra proposta é a elaboração de uma cláusula nas Convenções Coletivas para tratar do problema da intimidação dos jornalistas.  

Convidado para o ato-debate, o coordenador do Núcleo de Combate ao Crime Cibernético do MP-SP, Paulo Marco Ferreira Lima, não pôde comparecer ao evento e, por isso, os jornalistas sugeriram ainda, que outra discussão seja realizada até o final de novembro, com o intuito de dialogar a questão com o promotor sob a ótica do crime pela internet e, ainda, pela perspectiva do trabalho, com a presença de um representante do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Escrito por: Flaviana Serafim – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

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