Dia 7 de abril é data de dupla comemoração: é o Dia Mundial da Saúde, instituído em 1948 quando da criação da OMS (Organização Mundial de Saúde) e também o Dia do/a Jornalista, criado pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em homenagem a Giovanni Battista Libero Badaró.
No entanto, em época de pandemia e fascismo, não é data para se comemorar, mas para refletir. Dossiê produzido pelo Departamento de Saúde da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) apontou que, pelo menos, 314 jornalistas brasileiros perderam a vida em decorrência da Covid-19, entre abril de 2020 e fevereiro de 2022, praticamente, uma morte a cada dois dias, o que coloca o Brasil como o país com maior incidência de óbitos de jornalistas no mundo por causa da pandemia.
Muitos dos sobreviventes desenvolveram sequelas, que ainda estão sendo estudadas, mas que em diversos casos comprometem a capacidade laboral do exercício da profissão: dificuldade de memorização e concentração são dois dos fatores mais comumente apontados entre profissionais de imprensa afetados pela pandemia.
Aliado a isso, o isolamento social, o trabalho remoto e a precarização constante das condições de trabalho, assédio para manter a produtividade e trabalhar sob condições de risco também geram consequências para a saúde física e mental dos trabalhadores/as. As novas relações de trabalho geradas a partir da pandemia se tornaram o sonho de consumo dos empresários de mídia, que cortaram custos e jogaram, mais uma vez, a conta nas costas dos/as trabalhadores.
Algumas redações praticamente desativaram suas sedes para continuar indefinidamente com o trabalho remoto como novo padrão da relação capital trabalho. Uma emissora de TV em São Paulo quis cortar o ar-condicionado da redação para economizar energia elétrica, ato que não foi adiante devido à chiadeira dos profissionais. Esses são apenas alguns exemplos do “bestiário de barbáries” promovido pelo patronato midiático brasileiro.
O que parecia óbvio nos discursos, se tornou ainda mais óbvio na prática: tão importante como salário, remuneração justa, respeito profissional etc. é a saúde individual e coletiva. Por isso se faz necessária a defesa do SUS (Sistema Único de Saúde) – que salvou milhares de vidas – e o avanço das garantias estabelecidas em convenções coletivas.
Para a categoria e as entidades sindicais de representação, o momento é de repensar o modelo de relação de trabalho imposto a partir da pandemia e dos avanços tecnológicos, buscar nos acordos coletivos estabelecer novas regras de atenção, prevenção e cuidados com a saúde e cobrar das empresas sua responsabilidade para com a saúde e segurança das/os trabalhadoras/es. Para isso é fundante a mobilização da categoria.
Sete de abril, dia de dupla comemoração e uma única reflexão: jornalistas merecem respeito e não há respeito sem cuidados com a saúde.
* Norian Segatto é diretor do Departamento de Saúde, Previdência e Segurança da FENAJ e membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo