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Prisão de Marin traz conforto à família Herzog

Prisão de Marin traz conforto à família Herzog


 

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Passados 40 anos, delator de Vlado é preso por corrupção

 

No final de maio o futebol mundial foi abalado por um escândalo de grandes dimensões. Sete dirigentes da Federação Internacional de Futebol (FIFA) foram detidos, em Zurique, na Suíça, acusados de promoverem um esquema de suborno e propina na comercialização dos direitos de transmissão dos jogos e de marketing das competições internacionais.

Entre os presos está o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, acusado de ser um dos delatores do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura militar. Antes de se tornar ex-governador de São Paulo, Marin foi deputado estadual pela Arena (partido de sustentação do regime militar), onde utilizou a tribuna da Assembleia Legislativa paulista para acusar o jornalismo da TV Cultura, dirigido por Vlado, de ser um reduto de comunistas, em pleno período da repressão.

A prisão de Marin trouxe, 40 anos depois da morte de Vlado, uma espécie de alento à família Herzog. É o que revela o filho do jornalista assassinado pela ditadura, Ivo. “Representou sim um conforto para nós. A presença dele nos eventos públicos sempre foi um atestado de impunidade que nos trazia muita indignação. É um dos maus caráteres envolvidos com o contexto do assassinato do meu pai. Pelo menos este vai ter o final da sua vida em desgraça, envergonhando a si e sua família e, espero, na cadeia”, afirmou.

Ivo Herzog considerou a detenção de Marin como uma grande notícia. “Marin, assim como outros do futebol, sempre se achou acima da lei. Com certeza ele não esperava que isto fosse acontecer com ele. Neste momento, ele está sendo preso por um dos crimes que ele cometeu, os ligados ao futebol. Com certeza sua ficha tem crimes em outras áreas, da época em que ele foi governador, por exemplo”.

Segundo Ivo, a sua família também espera que os torturadores e todos aqueles que colaboraram com os militares sejam presos pelas suas ações na ditadura. “Marin foi preso pelas pilantragens que fez no futebol. Não pela sua ação na ditadura. Com certeza nosso sonho é que ele e os outros fossem punidos pelos crimes cometidos durante o regime militar”, disse.

Ivo lembrou ainda o Prêmio Vladimir Herzog, criado no Sindicato dos Jornalistas como uma homenagem a seu pai. “Sem dúvida, a maior homenagem que pode ser prestada e tem sido feita é a manutenção desta memória através do Prêmio Vladimir Herzog, que desde seu início teve o Sindicato dos Jornalistas na comissão organizadora. Manteve-o por todos estes quase 40 anos. Da mesma maneira, o Espaço Vladimir Herzog (o auditório do Sindicato) que, mais do que levar o nome do meu pai, tem sido um palco único, hospedando inúmeros movimentos sociais que ajudaram a construir o nosso país dentro daquilo que meu pai lutava: justiça, liberdade e democracia”, completou.

 

J. Hawilla envolvido  no escândalo da Fifa

Outro brasileiro envolvido no escândalo de corrupção da Fifa é J. Hawilla, dono do grupo Traffic, proprietário da TV TEM, afiliada da Rede Globo no Interior, nas cidades de São José do Rio Preto, Bauru, Sorocaba e Jundiaí.  Hawilla, patrão de centenas de jornalistas, admitiu os crimes aos promotores dos EUA e detalhou como aconteceu a distribuição de US$ 100 milhões em propinas, concordando em devolver o dinheiro.

Mesmo gerenciando milhares de dólares, Hawilla, um jornalista que se tornou empresário de comunicação e marketing, chegou a atrasar os salários dos trabalhadores, precisando inclusive da intervenção do Sindicato quando era proprietário dos jornais Diário de São Paulo (comprado ao grupo Globo) e Bom Dia, com pedidos de fiscalização da DRT nas empresas, conseguindo um acordo para regularizar os pagamentos.

Em 2013, Hawilla, sócio da Rede Globo, decidiu se desfazer dos impressos e oficializou a venda do Diário de São Paulo e da Rede Bom Dia para a Cereja Comunicação Digital. A negociação de venda envolveu um acordo realizado com o SJSP junto a Traffic, que indenizou os trabalhadores pelo acordo de estabilidade que havia sido assinado entre as partes de garantia emprego até dezembro daquele ano.

J. Hawilla é sócio de Paulo Daudt Marinho, filho e herdeiro de João Roberto Marinho, na TV TEM de São José do Rio Preto. O próprio João Roberto é sócio de dois filhos de J. Hawilla (Stefano e Renata) na TV TEM de Sorocaba.

Hawilla construiu seu império de comunicação iniciando a carreira como repórter de campo. Mas foi negociando placas de publicidade em estádios que o negócio começou a prosperar. Fazia isso ao mesmo tempo que ocupava o cargo de diretor de Esportes da Rede Globo em São Paulo.

A parceria entre Hawilla e a TV Globo se mantém até hoje. A produtora TV 7, ligada à Traffic, produz os programas Auto Esporte e o Pequenas Empresas, Grandes Negócios. No Brasil, a maioria das transmissões dos jogos foram transmitidos com exclusividade pela TV Globo, que cede alguns jogos, com limites restitos, para a TV Bandeirantes.


Discurso sentenciou Vlado

Em 1975, quando ocupou o cargo de deputado estadual pela Arena (partido de sustentação da ditadura). Marin utilizou a tribuna da assembleia legislativa paulista para acusar Vlado de transformar a TV Cultura em um reduto de comunistas, em pleno período da repressão.

“Essa omissão por parte da Secretaria do Estado e do governador não pode persistir. Mais do que nunca é necessário agir para que a tranquilidade reine novamente nesta Casa e, principalmente, nos lares de São Paulo”, disse Marin em discurso na assembleia.

Por trazer esta denúncia à público em 2012, o jornalista Juca Kfouri foi processado por Marin e posteriormente absolvido pela Justiça. “Juca teve a coragem de denunciar e publicar os discursos de Marin na Assembleia Legislativa onde ele denunciava Vladimir Herzog abertamente e pedia repressão ao telejornalismo da TV Cultura, dirigido por Vlado, a quem acusava de subversivo, comunista, aquelas coisas que conhecemos bem. Isso, mais as notas do então jornalista dedo-duro chamado Claudio Marques, que escrevia coisas como “o hotel da rua Tutóia (Doi-Codi) está esperando a turma da TV Viet Cultura” e mais as ligações dele e de outros deputados com a repressão levaram, com certeza, à prisão, tortura e morte de Vladimir Herzog”, lembra a diretora do Sindicato, Rose Nogueira.

 

Legenda: Ivo Herzog em atividade no Sindicato (no fundo retrato de seu pai).

Foto: Douglas Mansur

 

Matéria publicada no jornal Unidade, edição 376, Órgão Oficial do Sindicato dos Jornalistas

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