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Pochmann desafia empresários: apresentem seus balanços

Pochmann desafia empresários: apresentem seus balanços


 

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A edição 362 do jornal mensal do SJSP, o Unidade, traz uma entrevista com o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, criada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), sobre pesquisa elaborada por ela sobre a “Democratização da Mídia”. Ela foi realizada entre 20 de abril e 6 de maio deste ano, com 2.400 entrevistados em cinco regiões do Brasil. De quebra, ouviu a opinião dele sobre a Campanha Salarial dos Jornalistas e a comunicação dos trabalhadores.

Unidade: Como o sr. avalia em termos gerais, a pesquisa de Opinião Pública “Democratização da Mídia” elaborada pelo Núcleo de Estudos e Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo. Por que a Fundação decidiu fazer uma pesquisa sobre o tema?

Marcio Pochmann – Nós estabelecemos linhas de trabalho, entre elas, a realização de uma série de pesquisas que nos oferecessem respostas a várias dúvidas que a Fundação possui. Temas atuais que são referência de decisão no ponto de vista partidário. Um desses elementos é saber como é formada a opinião pública e o impacto daqueles que denominam a velha mídia em relação à nova mídia. Foi com este propósito que a pesquisa foi desenvolvida a partir de uma série de informações de como a população brasileira trabalha com o tema comunicação nos dias de hoje.  

Unidade: A pesquisa aponta que existe uma concentração da comunicação nas mãos de poucas famílias. Quais são as implicações deste quadro na vida política social e econômica do país?

MP – De certa maneira, na ordem econômica, a imprensa em geral faz uma defesa inegável das iniciativas e a concorrência dentro do capitalismo. E, a impressão que temos é que, com o controle de pouquíssimas famílias nos meios de comunicação no Brasil, a competição deixa de existir. Competição saudável que, inclusive, os meios de comunicação costumam defender. Há uma contradição paradoxal entre o que a imprensa comercial defende, a livre iniciativa e aquilo que, de certa maneira, é prática desse mesmo setor. Em segundo lugar, a presença de poucos em um setor importante e estratégico para o país termina sendo alimentado, inclusive, pela atual política dos governos nos diferentes níveis de aspirações, que é uma política que reparte recursos de acordo com a maior importância de cada um dos grupos. Esta decisão termina por fortalecer ainda mais os já poderosos grupos econômicos. O que também nos parece estranho, porque os governos, de maneira geral, também defendem a livre iniciativa. Portanto, se isso fosse uma verdade, a política deveria ser o inverso. Os recursos deveriam ser destinados a grupos menores porque, desta maneira, evitaríamos a concentração ainda maior nos velhos meios de comunicação no Brasil.

Unidade: A CUT, central a qual o Sindicato é filiado, faz uma campanha contra o PL 4.330, que dispõe sobre a Terceirização. E não consegue um debate mínimo nos meios de comunicação sobre o tema. O sr. acredita que este seja um dos efeitos da falta de democracia na gestão das comunicações do país?

MP – A ausência da competição saudável faz com que os temas de interesse da população não sejam tratados de maneira equilibrada. Esse é mais um exemplo em que você tem uma perspectiva mais patronal nos tratamentos dos temas que não são do interesse dos trabalhadores, que nem sempre ganham o mesmo espaço e relevância nos meios de comunicação. Por isso que o papel da política pública deveria ser voltado para os setores menos importantes na sua dimensão, para que pudessem competir com condições mais próximas da razoabilidade, especialmente, em um país de dimensão continental como é o Brasil.Sem falar que, evidentemente, a concentração faz com que tenhamos uma perspectiva de opinião pública muito difícil. Ela se dá a partir da heterogeneidade de renda, do poder existente em nosso país. Há, de certa maneira, uma tentativa de criar uma perspectiva nacional que torna muito difícil se olhar os telejornais nacionais, jornais e rádios da grande imprensa. Na realidade, é difícil ter uma convergência, a não ser arbitrariamente construída por poucos, que tenha capacidade de usar os meios de comunicação, que no fundo é uma concessão pública e não um direito privado.

Unidade: Como o sr. avalia a Campanha pela Democratização da Mídia, sobretudo o Projeto de Lei de Iniciativa Popular para Democratizar a Comunicação, que é desenvolvida pelo movimento social e sindical?

MP – É evidente que um país com tradição democrática como é caso brasileiro com mais de 500 anos de história, com 50 anos de experiência democrática, especialmente, de democracia mais representativa do que participativa, a defesa da democratização em vários níveis é absolutamente necessária porque, do contrário, dificilmente construiremos uma base democrática. Queria destacar outro aspecto paradoxal. Se olharmos o movimento sindical brasileiro, vamos perceber que ele é uma instituição que detém recursos significativos. Ele manipula entre 1 e 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Considerando os recursos que são repassados através da contribuição sindical anual, mensalidades e outras formas. Para mim, a grande imprensa do Brasil é justamente feita pelo movimento sindical. São mais de 10 mil instituições ligadas aos trabalhadores que possuem estrutura de comunicação. São jornais que, na verdade, não tem grande impacto no plano local, estadual e nacional porque, a meu modo de ver, é muito fragmentado. Nada impediria que os sindicatos fizessem um único jornal. Recursos não faltam. Se nós contabilizarmos a quantidade de recursos gastos e, se somarmos o número de profissionais disponíveis para esta tarefa, não tenho dúvida, que deve ser maior daqueles que denominamos de grande imprensa no Brasil.

Unidade: Os jornalistas, que estão em Campanha Salarial, têm encontrado patrões, donos dos meios de comunicação, com muita resistência. Tem havido muitas demissões e eles oferecem índices abaixo da inflação. Em sua opinião de economista, é concebível na atual situação do país oferecer índices abaixo da inflação para os trabalhadores?

MP – É um pouco estranho na medida em que se nós acompanharmos a trajetória das negociações coletivas de diferentes setores de atividade, é recorrente que as categorias estão obtendo ganhos salariais pelo menos equivalente ou acima da inflação. Não estamos vivendo um quadro recessivo, embora a expansão econômica não seja tão vigorosa. Neste sentido, não nos parece que as fontes de recursos dos meios de comunicação, que são as propagandas, tenham sido afetadas. Seria importante que nesta marcha de oferecer reajustes inferiores à inflação houvesse uma apresentação dos balanços, dos empenhos destas empresas, para que pudesse haver um diálogo mais franco e honesto a respeito da situação econômica do setor patronal.

Unidade: Perseu Abramo foi um jornalista que trabalhou nos principais veículos de comunicação de São Paulo e também na imprensa alternativa, como o semanário Movimento. Foi professor universitário e militante sindical desde a década de 50. Também ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) juntamente com Luiz Inácio Lula da Silva. Qual a importância de presidir uma Fundação como a Perseu Abramo? O que ela faz, especificamente?

MP – As fundações foram criadas pela legislação eleitoral para a produção de conhecimento estratégico, para atuação dos partidos e, ao mesmo tempo, para a formação recorrente de quadros. O objetivo das fundações é elevar a qualidade política no Brasil através de informações, estudos e pesquisas, a partir de conhecimento qualificado para que a atuação dos partidos seja cada vez melhor e, ao mesmo tempo, compatível com o que a população espera. Melhores quadros dentro dos partidos seriam resultado da atuação das fundações. Dito isso, eu tenho um enorme desafio que representa dirigir uma instituição como a Perseu Abramo, que se originou de um homem que tem relevância, identidade e trajetória pública para o país. O desafio é fazer valer justamente a atribuição estabelecida pela legislação de pode elevar a qualidade da política brasileira, especialmente a do Partido dos Trabalhadores.

Marcio Pochmann é economista, professor livre docente da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (2001-2004), presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2007-2012); consultor de instituições nacionais (DIEESE, FIESP, SEBRAE, MTE) e internacionais (OIT, BID, UNICEF); pesquisador-visitante em universidades na França, Itália e Inglaterra. É atual presidente da Fundação Perseu Abramo.

Foto: Roberto Parizotti

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