José Hamilton Ribeiro analisa crise na profissão; Sindicato faz defesa intransigente do Emprego e Salário
O jornalismo enfrenta uma de suas maiores crises. A opinião é do jornalista José Hamilton Ribeiro, consagrado repórter da Rede Globo de Televisão, que nos anos 90, por duas vezes, compôs a direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), editou o jornal Unidade e foi criador da coluna Moagem, que hoje ganha versão online no site do Sindicato.
Com 60 anos de profissão, José Hamilton continua em atividade como repórter especial do Globo Rural. Nos anos 90 ele escreveu para o Unidade o “Tratado Geral do Passaralho”, um artigo que pretendia desvendar a origem da palavra nas redações e denunciar as demissões da época. Para quem não sabe, “passaralho” é um jargão conhecido apenas na categoria para definir as demissões em massa, tema bastante atual, diga-se de passagem.
José Hamilton é um pesquisador da categoria. Há 18 anos, por ocasião do 60º aniversário do Sindicato, ele escreveu o livro “Jornalistas 1937 a 1997 – A história da Imprensa de São Paulo vista pelos que batalham laudas (terminais), câmeras e microfones. Em 2010 recebeu o título de Cidadão Paulistano da Câmara Municipal de São Paulo – é nascido na cidade de Santa Rosa do Viterbo, na região de Ribeirão Preto. Também é detentor de cinco Prêmios Esso e autor de oito livros.
“O que eu posso dizer é que nos meus 60 anos de jornalista nunca vi uma crise dessas. Acho que é a maior crise da imprensa, do jornalismo dos últimos tempos, do qual eu sou testemunha. Antes disso, eu também não acredito que tenha havido uma crise dessas proporções”, analisa Hamilton.
Defesa do Emprego
Para tentar reagir às demissões em massa, a direção do Sindicato entregou aos patrões no final de maio a pauta de reivindicações da Campanha Salarial de Jornais, Revistas e Assessoria de Imprensa, com cláusula para dificultar as dispensas.
A campanha salarial, cujo eixo é a “Defesa do Emprego e do Salário”, possui uma cláusula específica para que as empresas se comprometam a não promover dispensas sem justa causa.
Nesta cláusula, se aceita pelos patrões, as empresas só poderão fazer demissões por acordo de “interesse mútuo” entre o empregador e o trabalhador que, após os entendimentos, deverá formalizar seu interesse na rescisão, obtendo anuência do Sindicato e retornando ao RH para as formalidades legais.
Para José Hamilton Ribeiro, o “passaralho” atual é fruto do ajustamento da tecnologia da mídia, com a entrada da internet, que mudou as características da informação e solaparam a estrutura comercial. “A gente vê grandes empresas se ajustando, se apertando. E a primeira vítima é o trabalhador – o jornalista”.
Para ele, as consequências vão além de quem produz a notícia, mas também atinje quem as recebe. “A sociedade, de repente, fica desprotegida de uma cobertura profissional que antes tinha uma estrutura própria de vida e, hoje está abalada para não soçobrar.”
Sofrimento aberto
José Hamilton acredita que o momento é de “espanto” e, principalmente, de muita paciência e observação. “É preciso ficar de olho bem aberto para ver quais as oportunidades que este mundo cria porque a crise afeta de um lado e de certa maneira privilegia de outro e, os jornalistas precisam observar esta mudança para ver em que momento novamente podem ancorar o barco da nossa categoria”.
Em sua avaliação, a profissão foi muito afetada pelas mudanças no mercado de trabalho. “Se formos pensar em uma categoria em especial, eu acho que a nossa é a mais sacrificada”.
Para ele, os jornalistas são diferentes dos outros trabalhadores, porque existem alguns setores que não estão sendo tão afetados pelas demissões. “Acho que se você isolar uma categoria, a dos jornalistas está sendo a mais danificada, é a que está com o sofrimento mais aberto”.
Quem é José Hamilton Ribeiro
José Hamilton completará este ano 80 anos de idade. Ele está sindicalizado desde 1957, quando possuia apenas 22 anos. Em 1991, fez parte da junta governativa do Sindicato, presidido à época por Antonio Carlos Fon. Na gestão de 1994-1997, de Everaldo Gouveia Filho, foi diretor Cultural. Ele também editou o jornal Unidade e criou a coluna Moagem.
Começou a carreira na Rádio Bandeirantes. Em 1956, foi para a Folha de São Paulo, que deixava de ser Folha da Manhã. Cobriu a primeira missa realizada em Brasília, em 1957. Em 1962, na editora Abril foi redator-chefe da revista Quatro Rodas e, em 1966, fez parte da Revista Realidade.
Em março de 1968 foi enviado ao Vietnã como correspondente de guerra. Ele virou notícia ao perder a parte inferior da perna esquerda após a explosão de uma mina terrestre, na cidade vietnamita de Quang Tri.
Após se recuperar, Ribeiro não desistiu da profissão. Ganhou muitos prêmios, inclusive com reportagens feitas sob censura. Na década de 1970, passou alguns anos no interior paulista, mas retornou à capital em 1978, quando foi para a televisão.
Na TV Tupi foi diretor do programa Pinga-Fogo e dirigiu o Jornal Hoje, de Campinas. Em 1981 entrou no programa Globo Repórter e logo em seguida passou para o Globo Rural. Em 1985, junto com Humberto Pereira, diretor do programa, fundou a revista Globo Rural.
Foto: Comunicação UFSC