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Parlamentares questionam credibilidade do Congresso para fazer reforma política

Parlamentares questionam credibilidade do Congresso para fazer reforma política


Projeto está parado na comissão especial que trata do tema sob pedido de vistas coletivas


Brasília – Um projeto de reforma política que tramita numa comissão especial da Câmara dos Deputados está desde o último dia 30 de maio sob pedido de vistas coletivas, sem prazo para ser retomado. E passou a ser alvo de cobranças por parte de várias pessoas do mundo jurídico e político. Questiona-se que tipo de reforma política os parlamentares da atual legislatura teriam condições de fazer neste momento. A eventual necessidade de se substituir o presidente da República e até mesmo a defesa da antecipação das eleições de 2018 por alguns setores da política e da sociedade tornam essa tramitação inoportuna.

Segundo informações de integrantes da comissão especial, os trabalhos continuam sendo realizados, mas por meio de reuniões internas até que se chegue a um consenso sobre o tema. Muitos parlamentares, porém, dizem que não há interesse em levar a matéria adiante. “O momento político é o pior possível para se promover uma reforma. Nunca se viveu na história do Brasil momento como este. É inadmissível que se consiga definir regras para mudar o sistema político agora”, afirmou a deputada Luiza Erundina (Psol-SP).

“Defendo que se discuta sistema tributário, pacto federativo e organização dos poderes, que envolve um pouco de reforma política. Quando muita gente fala em reforma política, o que se discute é mudança no sistema eleitoral e não uma reforma, porque só reduz o tamanho da farra e do prejuízo do povo, mas não o elimina”, disse o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ).

“O projeto de reforma política que parte dos parlamentares, inclusive envolvidos na Lava Jato, tenta fazer, não é de reforma política propriamente. Temos no Congresso propostas bem articuladas sobre o tema dormindo nas gavetas. A principal delas deriva de uma iniciativa popular de lei, liderada pela OAB e CNBB, apoiada por mais de 100 entidades populares. Pede um sistema político democrático, austero, transparente e participativo. O atual Congresso, envelhecido na metade da legislatura, não tem condições de fazer uma autêntica reforma política, obcecado que está com sua autoproteção”, avaliou o deputado Chico Alencar (Psol-RJ).

Barreira e coligações

Enquanto estes três deputados traduzem o que muitos de seus colegas dizem em reservado quando se fala sobre o tema, a proposta atual de reforma política que foi apresentada pelo relator, deputado Vicente Cândido (PT-SP), na comissão especial, possui em seu texto a criação da cláusula de barreira e o fim das coligações nas eleições proporcionais – para vereadores, deputados estaduais e federais.

Cândido acatou a possibilidade de incluir no seu texto a PEC de autoria do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), que reduz o número de partidos. A proposta cria uma cláusula de desempenho eleitoral e acaba com as coligações proporcionais, de modo a permitir que as legendas que não alcançarem 3% dos votos válidos nas eleições para deputados federais, passem a ter restrições no acesso ao fundo partidário, bem como menor participação em comissões e redução do número de assessores e espaço de rádio e TV do Legislativo.

Uma regra de transição, que ainda está sendo estudada, propõe inicialmente que esse percentual seja de um mínimo de 2% em 2018, passando aos 3% em 2020. Os parlamentares integrantes da comissão especial também vinham discutindo a possibilidade de, no caso do financiamento de campanhas – obrigatoriamente público ou feito por pessoas físicas –, serem estipulados limites para doações, de forma a evitar os chamados autofinanciamentos.

Outra sugestão polêmica no relatório da reforma diz respeito ao voto distrital misto, que permite a eleição de um candidato por lista e outro por voto popular direto – em discussão. O texto ainda sugere, em seu teor, a formação de um sistema de refinanciamento das dívidas de partidos e candidatos, referentes a multas aplicadas pela Justiça eleitoral.

Vicente Cândido chegou a reconhecer ter sofrido pressão para incluir no seu relatório a PEC de eleições diretas, de autoria de Miro Teixeira, mas foi refratário à ideia. Sua opinião é que a tramitação da PEC deve acontecer da forma como tem sido observada: isoladamente, para não haver confusão entre regras circunstanciais e perenes.

Correlação de forças atrapalha

“Infelizmente, a correlação de forças no Congresso Nacional e na sociedade, hoje, está longe de oferecer as condições para que operemos a mudança estrutural profunda exigida”, afirmou o deputado Wadih Damous (PT-RJ), em artigo recente. Segundo Damous, os problemas crônicos para o exercício de cargos eletivos no Brasil têm origem no sistema pelo qual são eleitos os nossos parlamentares e governantes, “porque o modelo atual propicia terreno fértil para que prosperem o compadrio, o fisiologismo, o clientelismo e a corrupção”.

“O ideal seria que os setores democráticos e progressistas da sociedade, a partir de um alto patamar de mobilização e de capilarização desse debate, reunissem condições objetivas para um choque radical de democracia e cidadania nesse sistema no curto prazo”, afirmou.

De acordo com Damous, a convocação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política, seguida da convocação de um plebiscito para que a população chancele o texto elaborado pelos constituintes, seria o ideal. Mas ele pondera que apesar destas duas bandeiras terem de ser defendidas e tidas como referência, antes é preciso quebrar a resistência dos parlamentares.

Escrito por: Hylda Cavalcanti – Rede Brasil Atual
Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Câmara

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