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Palmério Dória, presente!

Palmério Dória, presente!

Palmério Dória Vasconcellos, jornalista, morreu dia 31 de março em São Paulo aos 74 anos em decorrência de uma septicemia. Ele se encontrava internado no Hospital Premier onde se tratava havia sete anos.

Palmério Dória nasceu em 1948 na cidade de Santarém-PA, cresceu em Belém, mudou-se para São Paulo, trabalhou em várias publicações, foi chefe de reportagem na Rede Globo, diretor da revista Sexy, atuou na imprensa alternativa (Bondinho, Flor do Mal, Movimento, Opinião, EX e Pasquim) e escreveu livros de sucesso, entre eles “Honoráveis Bandidos – Um retrato do Brasil na era Sarney” e “O príncipe da privataria”.

Este currículo, muito divulgado nos noticiários sobre sua morte, apresenta um resumo correto de sua atuação jornalística, mas, para os amigos e admiradores de seu trabalho, não dá a dimensão exata de sua importância. Palmério Dória foi um dos expoentes da geração (que se reduz a cada ano) de jornalistas que testemunharam a conturbada evolução histórica do país na segunda metade do século XX.

Criança durante a crise do suicídio de Getúlio Vargas, jovem nos anos desenvolvimentistas de JK e Jango, vivenciou o golpe militar de 1964 e seus desdobramentos e se formou profissionalmente nas páginas de um jornalismo comprometido com a verdade em luta constante contra a censura oficial e a das próprias empresas durante a década de 1970.

Esta trajetória foi que o levou a trilhar os caminhos da imprensa alternativa, que tem como um dos pontos altos – pela importância histórica – a publicação em parceria com Sérgio Buarque, Vicent Careli e Jaime Saldanha, da primeira grande reportagem sobre a Guerrilha do Araguaia, um tema vetado pela censura oficial. Para muitos, este importante currículo pode simbolizar um momento específico do jornalismo que não mais representa a realidade da profissão que mudou radicalmente nas últimas décadas; atualmente não haveria mais espaço para este tipo de atividade na imprensa que se tornou mais “empresarial” e menos “aventureira”.

De certa forma – podemos dizer – Palmério concordaria com esta observação. Tanto que em seus últimos anos se tornou um ardoroso participante e defensor da internet como meio de renovar o jornalismo e seus últimos textos foram publicados poucos dias antes de falecer, ironicamente, no dia em que o golpe militar que tanto combateu, completou 59 anos. Palmério Dória foi, portanto, um jornalista cuja carreira traduziu fielmente o tempo em que viveu e atuou. E isto não é pouca coisa.

 

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