Os jornalistas têm sido vítimas da violência policial. Agentes despreparados, que mais lembram os dos tempos da repressão, atiram sem pensar contra profissionais da imprensa e a população civil desarmada.
Uma das vítimas foi o repórter fotográfico Sérgio Silva, que prestava serviços à agência Futura Press. Ele foi baleado no olho esquerdo, teve lesões oculares e fraturas de órbita e acabou perdendo a visão. Nesta edição, o Unidade remonta um pouco deste lamentável episódio.
Sérgio foi alvejado covardemente durante as manifestações populares de junho, quando 23 jornalistas foram agredidos por policiais nos protestos e cinco foram arbitrariamente detidos. Todas estas agressões foram desferidas contra profissionais que realizavam cobertura das manifestações em São Paulo.
O SJSP realizou ato de desagravo contra as agressões sofridas pelos trabalhadores da comunicação, elaborou Carta Aberta às autoridades e disponibilizou suas instalações, assim como seu corpo de advogados para defender os profissionais. Também acionou a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) para que as agressões ganhassem repercussão dentro e fora do Brasil. Acompanhe a entrevista que Sérgio Silva deu ao unidade.
Unidade – Nas manifestações que aconteceram no país inteiro em junho ocorreram uma série de atos de violência contra profissionais que trabalhavam na cobertura dos protestos. A maioria delas cometidas por policiais. Como você analisa a violência policial contra os jornalistas?
Sérgio Silva – Acho que a violência promovida pela Polícia Militar contra a imprensa, ocorrida nas manifestações de junho, comprova o total despreparo e abuso de autoridade. A Polícia Militar é treinada para conter a multidão usando a força e as armas que possuem. Especificamente na noite de 13 de junho, quando esta violência ficou mais evidente. Existe o agravante da “liberdade” que os policiais estavam para usar todo o seu aparato sem economia. Eles tinham total aval do chefe de Segurança Pública do Estado e, no mínimo, do governador Geraldo Alckmin para atacar da maneira como atacaram as pessoas naquela noite.
Unidade – Você foi um dos jornalistas que sofreu agressões, levando um tiro de bala de borracha no olho, o que fez com que você perdesse a visão de um dos olhos. Poderia nos relatar como aconteceu?
SS – A polícia foi a primeira a atirar nos manifestantes que protestavam pacificamente. Fez um cerco na rua da Consolação, esquina com a Maria Antonia e começou a disparar bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. Ao mesmo tempo, as balas de borracha eram disparadas para todos os lados. Imediatamente procurei abrigo para a minha segurança atrás de uma banca de jornal e, mesmo assim, depois de vários minutos de ataque, estando distante da maioria dos manifestantes e dos outros colegas da imprensa, fui atingido no olho esquerdo depois de fotografar os policiais atirando contra as pessoas. Fui alvo do ataque covarde que a polícia cometeu.
Unidade – Quais medidas você pretende tomar?
SS – Farei o que todo cidadão deve fazer ao sofrer com a brutal violência da polícia militar ou de qualquer outro órgão do Estado. Irei processá-los judicialmente. Politicamente, estou em uma campanha para acabar com o uso da arma com bala de borracha. Esta campanha está com mais de quarenta e quatro mil assinaturas de pessoas de todo o país e teve repercussão até fora do Brasil, inclusive, tenho assinatura de pessoas da Turquia, país que vive um problema muito pior do que o nosso com esta questão das armas letais e químicas. A campanha pode ser acessada no site www.change.org.
Unidade – Daqui para frente, como fica sua vida profissional?
SS – Daqui para frente minha vida profissional será 100% prejudicada. Mesmo com um olho, sei que poderei fotografar, mas não como antes. Perdi a noção da profundidade de campo, da nitidez e foco na fotografia, o que para todo e qualquer profissional, é fundamental para o bom desempenho do trabalho fotográfico. Eu amo a fotografia e jamais deixarei de fotografar, mas profissionalmente será bastante difícil ter o mesmo desempenho que eu tinha antes de ser atingido, além de ter o direito de competir igualmente com os outros profissionais. A visão do meu olho esquerdo foi arrancada de mim. Ela era um dos meus maiores instrumentos para a execução do meu trabalho.