A editora Abril anunciou, em 11 de julho, a transferência de dez revistas para a editora Caras, com a qual mantém uma parceria. Com isso, cerca de 80 jornalistas serão transferidos para a nova empresa. A preservação dos empregos envolveu uma negociação inédita da empresa com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, que ocorreu entre 27 de junho e 10 de julho.
No final de junho, a editora Abril dirigiu-se ao Sindicato dos Jornalistas (SJSP) para anunciar que demitiria cerca de 100 jornalistas em 8 de julho. A empresa emprega mais de 900 jornalistas em suas redações. Esse contato acontecia dez meses depois de a Abril ter feito uma demissão em massa de 70 jornalistas, em 1º de agosto de 2013, e ser obrigada e negociar com o SJSP no Tribunal, depois de uma decisão judicial suspender a medida. Desta vez, ao procurar o Sindicato, a editora queria abrir negociação para fazer as demissões sem a oposição da entidade. Como a diretoria não concordou com a proposta, iniciou-se uma série de encontros para discutir a situação.
Semanas antes, a Abril havia demitido 105 funcionários administrativos, e a direção da empresa soltou uma nota anunciando o encolhimento de sua estrutura. A empresa alega que teve prejuízo no ano passado. Acontece que o Grupo Abril esteve por muitos anos em expansão, acumulando ganhos de vulto graças ao trabalho de seus profissionais, o que levou o proprietário da empresa a tornar-se uma das dez pessoas mais ricas do Brasil e a entrar na lista dos bilionários da revista Forbes a partir de 2013.
O Sindicato respondeu à empresa na linha de defesa dos empregos: propôs a suspensão das demissões e a negociação de formas de manutenção das vagas. Como não houve acordo, decidiu que chamaria imediatamente uma assembleia para mobilizar a categoria. Na reunião seguinte, a Abril comunicou que havia reduzido as dispensas para 80, propôs meio salário nominal para cada demitido, até seis meses de plano de saúde e que se mantivessem as negociações em sigilo, comprometendo-se em adiar os desligamentos enquanto se buscasse uma solução. O Sindicato considerou a proposta inaceitável e respondeu que continuaria a negociação, sob a garantia de que, se não saísse um acordo, houvesse tempo para realizar a assembleia com os jornalistas antes das demissões.
Em 7 de julho, a empresa comunicou a entidade que estava efetivamente fechando um negócio envolvendo títulos, que não haveria demissões naquela semana e marcou-se uma nova reunião em 10 de julho. Finalmente, nesta reunião, comunicou ao SJSP que a venda de títulos afastava a possibilidade de demissões, e garantiu à entidade que todos os jornalistas serão simplesmente transferidos de empresa, sem que haja desligamentos. O Sindicato só tomou conhecimento de quais títulos foram negociados quando a empresa divulgou oficialmente a venda.
O SJSP acompanha de perto a situação na editora Abril. Para o Sindicato, o caminho é investir em jornalismo, um bem essencial às sociedades do mundo contemporâneo. Certamente, com o crescimento da internet, há um desafio às empresas de comunicação. Mas os profissionais, que já realizam jornadas extensas em redações enxutas, não podem ser mais sacrificados para que os recursos financeiros da empresa sejam drenados para outras partes, em busca de elevadas taxas de rentabilidade.
Nesta situação difícil, o Sindicato dos Jornalistas cumpriu seu papel de defesa dos interesses dos jornalistas, sendo o principal deles a manutenção do emprego. A entidade comunica aos jornalistas que está acompanhando de perto o processo, para garantir que ninguém seja prejudicado. Convida mais uma vez os jornalistas a se filiarem à entidade, pois, quando mais representativo o Sindicato se torna, mais força ele tem para exercer seu papel de forma eficaz.
As negociações com a editora Abril foram realizadas pelos dirigentes José Augusto Camargo (presidente), Paulo Zocchi (Jurídico), Vitor Ribeiro (Conselho de Diretores) e pelo coordenador do Departamento Jurídico da entidade, Raphael Maia.