As negociações com as empresas de Rádio e TV, neste ano, estão duras. Apesar dos excelentes resultados econômicos dos últimos anos, com forte expansão das receitas, os empresários se mostram irredutíveis. Não aceitam conceder aumento real de salários, ou seja, abrir mão de uma pequena parte do que ganharam.
Na mesa de negociações, a certa altura, ouvimos um representante patronal reclamar: “Ouvimos sempre que o faturamento das empresas cresceu muito, mas isso é uma informação dirigida ao mercado, pois na área comercial ninguém vai ficar reclamando”. Nossa bancada então registrou: “Quer dizer que o discurso varia segundo o público, não é? Para fora, está tudo bem, mas quando se negocia com os funcionários, só se fala em dificuldades”. De qualquer forma, são incontestáveis os números que demonstram o avanço financeiro do setor.
O episódio, porém, fala muito sobre o comportamento das empresas de Comunicação. São as campeãs do discurso conforme seus interesses – econômicos, políticos ou pessoais. Mas na prática, enquanto se arvoram como paladinos da verdade e da justiça em julgamentos sumários contra os seus desafetos políticos, age sorrateiramente contra os trabalhadores, inclusive os que produzem seus noticiários diários. Veja que na Rede Globo de São Paulo, a empresa que concentra 70% das verbas publicitárias, o todo poderoso diretor Ali Kamel, esteve pessoalmente na redação paulista, em fato raro e inusitado, para pressionar os jornalistas que por ventura aderissem ao Dia de Luta pelo Aumento Real da Campanha Salarial de Rádio e TV, convocado pelo Sindicato.
No mesmo momento em que os jornalistas se defrontam com este tipo de muro ao batalhar por um justo reconhecimento salarial, o patronato e as forças conservadoras fazem uma pressão enorme sobre o governo federal buscando ampliar suas vantagens. O setor de Comunicações já recebeu, em 2014, um bônus particular na forma da desoneração tributária, que os empresários trataram de embolsar, mantendo sua postura arrogante e prosseguindo na política de demissões.
Agora, propõe-se que a base do governo adote medidas que retiram direitos trabalhistas – como o acesso ao seguro-desemprego –, com a justificativa de economizar recursos para pagar a dívida pública. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) tirou posição claramente contrária, defendendo uma ação dos trabalhadores para barrar essas medidas. Nosso Sindicato, seguindo a orientação da central, defende plenamente esta posição. Não por acaso, estamos do lado contrário à cobertura dos grandes órgãos de imprensa, que não disfarçam seu entusiasmo pela disposição em retirar os direitos dos trabalhadores.
A cobertura da mídia apresenta uma abordagem claramente alinhada com a candidatura conservadora, bem hostil aos movimentos populares, como se o país pudesse ainda realizar um terceiro turno da campanha eleitoral. Não ao golpismo! Nosso Sindicato se compromete em respeitar a vontade da maioria da população brasileira, expressa nas urnas, e com o aprofundamento da democracia no país. Por isso, defendemos uma Constituinte Exclusiva para fazer a reforma política, na qual as disposições institucionais possam ser livremente debatidas pela população e modificadas por representantes democraticamente eleitos. Essa questão deveria ser submetida a um plebiscito popular: não pode ficar nas mãos do Congresso Nacional, eleito por regras que beneficiam o poder econômico, e que se mostra a instituição na qual menos confia o povo brasileiro.