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Mulheres jornalistas: rotina de lutas e desafios

Mulheres jornalistas: rotina de lutas e desafios


Conciliar emprego e vida pessoal é uma questão complicada para a maioria das mulheres em todas as profissões. No jornalismo o desafio é ainda maior porque, não raro, o trabalho tem hora para começar, mas não para terminar, com atividades até à noite, nos finais de semana e feriados. Jornada dupla, tripla, com algum freelance para complementar a renda, é algo comum, mas nem por isso menos complicado para as trabalhadoras.

As mulheres são maioria no jornalismo, representam 64% dos profissionais no segmento, e nas assessorias de imprensa o índice chega a 70%, segundo a pesquisa Quem é o jornalista brasileiro? Perfil da profissão no país, divulgada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em 2013.

Contudo, o percentual não indica que as mulheres jornalistas tenham conquistado melhores condições de trabalho. A maioria delas (46%) ganha até cinco salários mínimos e apenas cerca de 30% têm rendimento acima, numa profissão em que 98% da categoria tem formação superior e na qual quatro em cada dez têm pós-graduação, revela a pesquisa.

Como se não bastassem as desigualdades de gênero num mercado de trabalho em que as mulheres têm presença majoritária, outras questões impactam a carreira das jornalistas e tornam a rotina ainda mais desgastante.

O horário das escolas é incompatível com a jornada. Faltam creches, sejam públicas ou nas empresas, pois, apesar de terem o auxílio-creche garantido nas Convenções Coletivas, o valor não é suficiente quando é necessário custear a mensalidade de uma creche privada, reclamam as trabalhadoras.

Outra luta das mulheres, que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) reivindica em todas as campanhas salariais, é o direito à licença maternidade de seis meses.

Nesta reportagem, as trabalhadoras compartilham seus relatos e experiências para driblar as dificuldades da extensa rotina e garantir a realização que buscam dentro e fora da profissão.

Trabalho, maternidade e desigualdade

Jornalista da Elemídia, Mariana Nadai é mãe de gêmeos com dois anos de idade e diz que consegue conciliar as muitas jornadas graças o apoio do marido, com quem compartilha os cuidados com os filhos.

“Tenho uma grande sorte que é um marido participativo. Ele é freelancer e conseguimos nos estruturar para fique com as crianças quando é preciso. Mas, mesmo tendo apoio dele, sobram mais responsabilidades para a mulher só por uma questão social, mas pela própria carência que os filhos sentem da mãe”, relata.

A falta de tempo para conciliar as tarefas é o principal desafio na opinião de Lisandra Matias, da Editora Abril, mãe de uma menina de 13 e de um menino de 10 anos. Ela conta que fica com os filhos somente de manhã, para a ida à escola, e quando volta para casa, depois das 19h30.

“Eu gostaria de estar mais próxima deles, para acompanhar melhor o crescimento e o desenvolvimento. Tenho um pouco de culpa de não estar mais presente. Uma coisa positiva é que meu marido é professor e tem um horário mais flexível. Então, ele fica uma boa parte do tempo com eles”, relata.

Para Lisandra, uma das consequências de combinar maternidade e trabalho é a sensação de “estar sempre devendo. Parece que não consigo fazer nada plenamente, nem ser uma ótima mãe, nem ser uma ótima profissional,  exatamente porque tem o outro lado que me impede de me dedicar mais. Mas acho que isso tem a ver um pouco com a minha personalidade, de querer fazer tudo sempre 100%”, afirma.

Apesar dos entraves, a jornalista destaca o gosto pela profissão e que nunca quis parar de trabalhar. “Sempre falei para eles que, claro, trabalho também para ganhar dinheiro, mas igualmente porque eu gosto e me traz realização. Acho isso bem saudável. Eles entendem e valorizam”.

Políticas para as mulheres


Patrícia Euzélis é mãe de uma menina de 10 anos, é separada e a guarda da filha é compartilhada com o ex-marido. Ela cuida da filha no período da manhã, antes de começar a jornada das 8h às 18h como chefe de reportagem num jornal do interior paulista.

“Muitas vezes já saí da redação e voltei depois de buscar minha filha na escola.  Levar  trabalho para terminar casa é algo recorrente, não tem como ficar para o dia seguinte. É uma rotina muito estressante porque é difícil ainda ter que cuidar de casa. Ter algum tempo livre, só para você, é a primeira coisa que vai embora”, desabafa.

As mulheres não precisariam se desdobrar para conciliar trabalho e vida pessoal se houvesse equiparação salarial nas empresas, destaca Patrícia. “Trabalhamos para nos manter e a diferença salarial nos obriga a trabalhar mais tempo, e, por conta do machismo, temos que trabalhar mais para provar que damos conta, que somos capazes, coisa que os homens não precisam provar”, pontua..

Para Mariana Nadai, nas empresas e na sociedade em geral, falta um olhar às especificidades femininas, pois tudo é estruturado do ponto de vista do homem.

“Em nenhum momento a mulher é vista como mulher no meio empresarial e isso não é só em relação à mãe. Temos mesmo necessidades diferentes, desde as que não conseguem levantar da cama porque têm cólicas menstruais às que se tornaram mães e têm dificuldades por conta do horário das escolas. Direitos iguais é ela parecer como homem”, critica.

Para a jornalista, faltam políticas que apoiem as trabalhadoras nesse tipo de situação, como jornada reduzida para as mães, que poderiam fazer as mesmas tarefas num tempo menor e ter mais tempo para cuidar dos filhos. Mariana aponta, ainda, o problema da discriminação sofrida por elas nas entrevistas de emprego, pois as mães são questionadas sobre a idade dos filhos e sobre quem fica responsável quando a criança adoece

Lisandra avalia que faltam creches ou um auxílio-creche com valor que realmente dê conta de pagar um bom serviço para os cuidados dos filhos. A jornalista também ressalta a importância da licença maternidade mais longa e de uma jornada de trabalho menor, principalmente nos primeiros anos de vida da criança ou se ela tem alguma necessidade especial. “Mas não vislumbro uma saída, principalmente agora, com a reforma trabalhista”, opina.

Luta coletiva

Maria José Sarno se dedicou 31 anos ao jornalismo, dos quais 27 na Rede Globo, de onde se afastou no último mês de fevereiro. Ela também é psicóloga, mãe de um filho hoje com 33 anos, e se separou quando ele era criança. “Ele precisou ir para a escola desde cedo, o que sempre deixa as mulheres muito culpadas”, recorda.

Para lidar com a falta de tempo, Maria José destaca que um dos caminhos “é a qualidade quando não se tem quantidade. Nas oportunidades de estar com os filhos, é estar inteiramente, poder conversar. Rotina de trocas e convivências são fundamentais para driblar as dificuldades de manter o trabalho de jornalista e também as responsabilidades que se tem com a família”. Sair uma vez por semana para conversar é uma rotina que ela mantém com o filho desde que ele tem quatro anos de idade.

Segundo Maria José, faltam políticas para a sociedade brasileira como um todo porque o trabalho é um aspecto fundamental da vida, e acredita que a luta que é coletiva e não só das jornalistas.

“É preciso reunir as mulheres em torno de lutas necessárias, como ter creches para trabalhar e ter os filhos com responsabilidade de forma mais tranquila. Mas é uma luta coletiva, não só das jornalistas, que deve ser encampada também pelos homens, para creche e educação de qualidade. Não vivemos nessa dicotomia”, finaliza.

Escrito por: Flaviana Serafim – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

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