Lançado em São Paulo, “Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação” compila mais de 160 imagens, além de textos, de profissionais da imagem envolvidos na luta contra a ditadura civil militar
Foto de Eduardo Simões durante assembleia no estádio da V. Euclides, durante a mais longa greve da época, em 1980, que durou 41 dias
São Paulo – No fim da década de 1970, o Brasil estava mergulhado no regime ditatorial iniciado com o golpe de 1964 (e que prolongou-se até 1985, com a eleição indireta de Trancredo Neves para a Presidência da República) – tempos de censura, repressão e violência de Estado. Neste contexto, os trabalhadores metalúrgicos dos polos de São Paulo e do chamado ABC paulista – Santo André, São Bernardo e São Caetano – resolveram aderir a um movimento de resistência grevista. Mobilizações que “são um marco na história das lutas populares no país”, como recorda o fotógrafo Ennio Brauns.
Brauns faz parte de um grupo de fotógrafos que aderiu ao espírito de luta da época, e passou a se dedicar integralmente ao movimento, e que tem parte de seu trabalho reunido no livro Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação, lançado ontem (4), pela editora da Fundação Perseu Abramo.
A narrativa da obra, organizada pelo cineasta Adilson Ruiz, é desenvolvida a partir de cinco artigos e 169 fotos, de nomes como o próprio Adilson Ruiz, Alipio Freire, Ennio Brauns, Renato Tapajós, Roberto Gervitz, Eduardo Simões, Hélio Campos Mello, Jesus Carlos, João Bittar, Juca Martins, Nair Benedicto, Ricardo Alves, Ricardo Giraldez e Rosa Gauditano.
“Todos os fotógrafos tinham consciência do que estava acontecendo e se posicionavam contra o regime. Foi um convívio diário. A proximidade ajudava no trabalho. Não era só uma questão de se posicionar bem em relação à foto, mas também de saber o que iria acontecer, estar bem informado”, afirma Brauns. O período das ações registradas foi de 1978 a 1981.
Adilson Ruiz ressalta a importância da obra diante da valorização de um discurso que ia de encontro com a visão da mídia da época. “Em vez de dividir o livro em dez sessões com os fotógrafos, resolvemos criar uma narrativa e usar a fotografia dentro dela. Esses fotógrafos criaram uma alternativa à narrativa oficial que a mídia hegemônica trazia”, explica.
Para o cineasta, o livro “recria aquele momento de luta dos trabalhadores sob a ótica de seus protagonistas: lideranças sindicais, trabalhadores anônimos, artistas, fotógrafos, cineastas, jornalistas”. Brauns engrossa o discurso da capacidade de união de atores sociais. “Expressão de uma experiência coletiva de trabalhadores que entusiasmou grande parte da sociedade nacional. Revelam a capacidade da solidariedade na luta contra o Estado autoritário, como poucas vezes se viu na nossa História.”
Durante o lançamento, realizado na sede da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, foi exibido o primeiro episódio da série documental que aborda o mesmo período retratado em Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação, e que será exibida pela TVT, Chão de Fábrica. Renato Tapajós, diretor da série, esteve presente e saudou a obra em conjunto com o livro como importantes expressões de um momento histórico do país.
Escrito por: Redação – Rede Brasil Atual
Foto: Eduardo Simões