No mês de outubro, o jornalista e escritor Oswaldo de Camargo, lançou em sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, o livro “Raiz de um Negro Brasileiro”, que faz um esboço autobiográfico dos fragmentos de sua memória. Na oportunidade, ele também recebeu o título de Cidadão Paulistano.
O autor nasceu na cidade Bragança Paulista e testemunhou várias gerações de negros no país, mas uma de suas tristes lembranças aconteceu na infância. “Infelizmente, para a vergonha do meu país, eu descobri que era negro e brasileiro, sobretudo negro, a partir do momento em que eu – com 12 ou 11 anos – tive a primeira visão de que o Brasil era um país preconceituoso. Foi quando eu tentei ser padre. Foi então que eu comecei a ver que o Brasil tinha preconceito na vida religiosa e na vida social”.
Passar por esses enfrentamentos étnicos fez com que o autor pensasse na sua forma de atuação e em tudo que se foi conquistado. “Este preconceito que eu percebi fez aos poucos eu criar uma reflexão a respeito deste problema que envolve outras pessoas além de mim. Estou com 79 anos, sou de uma geração que nasceu 50 anos depois da abolição. Eu não estou aplicando exatamente o que aconteceu comigo aos tempos de hoje, mas, na verdade, os tempos de hoje e as conquistas que nós tivemos, que já estão ai em alguns setores do poder público, foram em grande parte realizadas por pessoas como eu que sofreram diretamente a estreiteza que o país punha diante dos negros”.
Sobre o a profissão de jornalista, Oswaldo relata a sua experiência e o que viu de perto em tempos atrás.” Eu sou jornalista do Estadão. Participo há 38 anos, onde sou revisor e redator. Durante estes anos a presença de negro no Estadão era de um ou dois, 38 anos. A vida universitária do negro é parca, o empresariado negro não chega a 5%. A representação do negro em picos de ascensão é mínima em um país que tem 50 e tantos por cento de negros e mulatos”, relatou.