No último dia 23 de maio, o colunista Josias de Souza, do Portal UOL, escreveu um artigo em seu blog criticando o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), ao qual ele não é filiado. O motivo foi o fato de a entidade ter divulgado em seu site uma manifestação convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) contra os ataques da mídia à Petrobras. “Se Cristo voltasse à Terra e intimasse o Sindicato dos ‘Jornalistas’ de São Paulo a optar entre os malfeitores da Petrobras e os repórteres que os denunciam, a casa sindical aprovaria em assembleia: ‘Abaixo a mídia golpista, morra o reportariado’, destilou a verve de Josias. “Com isso, ficaria claro para todos: se os sindicatos fossem feitos à base de lógica, faltaria matéria prima”. É mais provável que se Cristo retornasse à Terra, ele voltaria para expulsar os vendilhões, desta vez não do templo, mas da imprensa, que alugam suas penas aos poderosos por algumas moedas.
Aparentemente, o colunista, com a pouca isenção que seu papel de escriba exige, esquece que o Sindicato, além de cutista, não pedirá permissão à Folha de S. Paulo ou a quem quer que seja para nortear suas ações sindicais. Participará de atividades que lhe convier. Afinal, ao contrário do que a Folha apregoa, o país felizmente vive em plena democracia, muito embora o jornal tenha dito que o Brasil não viveu uma ditadura militar, mas uma “ditabranda”.
Josias e seus patrões, certamente, ficarão indignados ao constatar que este número o Unidade, o órgão oficial do Sindicato, abre espaço para que três jornalistas apresentem suas versões sobre a história política e a prisão do ex-ministro José Dirceu e sobre a posição do Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Penal 470. Que, sabemos, foi um julgamento político, cheio de falhas e que condenou sem provas efetivas Dirceu e outros ex-dirigentes do PT.
Os jornalistas conhecem muito bem o seu papel. Sabem que são obrigados a escrever ou opinar seguindo a linha editorial do veículo que o contrata. Nem tudo o que sai publicado nos jornais é exatamente aquilo que os profissionais pensam ou querem. Como dizia o grande Cláudio Abramo, “liberdade de imprensa é liberdade de empresa”. As empresas jornalísticas têm um lado, e geralmente esse lado não é o mesmo dos trabalhadores.
Não é à toa que setores avançados da sociedade civil lutam bravamente para democratizar a informação. A Lei dos Meios, como é chamada, não quer controlar o conteúdo do que é publicado, mas quebrar o controle econômico absoluto dos meios de comunicação por algumas famílias.
Um grande passo para a democratização da mídia foi dado recentemente no Congresso Nacional com a aprovação do Marco Civil na Internet, avanço que transforma o Brasil no primeiro país a aprovar uma lei que estabelece princípios, garantia de liberdade de expressão, respeito aos diretos humanos, à privacidade, direito de defesa estabelecido em legislação e a neutralidade livre e aberta da rede mundial.
Além disso, o Marco Civil impede o bloqueio, monitoramento, filtragem ou análise de conteúdos por provedores, garantindo ampla liberdade de troca de informações e conteúdos. É exatamente para impedir que os empresários de comunicação e os jornalistas que lhes servem também monopolizem esta importante ferramenta que democratiza as informações.
O Sindicato é um espaço para todas as tendências políticas. Seu auditório, que se orgulha de levar o nome de Vladimir Herzog, jornalista assassinado pela ditadura, abrigou – e abriga – muitas lutas pelos direitos humanos, pela igualdade social, contra qualquer tipo de preconceito. A entidade sempre esteve ao lado dos trabalhadores jornalistas, que necessitam de sua entidade de classe para se proteger de patrões cujo interesse é apenas o lucro pelo lucro, que aviltam os salários, as condições de trabalho e precarizam o mercado.
Exemplo maior é, sem dúvida, o empenho dos empresários de comunicação em acabar com a necessidade do diploma em jornalismo, o que ocasionou a desregulamentação total do mercado de trabalho.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo continuará a lutar pelos direitos dos cidadãos e a levantar todas as bandeiras em defesa da profissão. Afinal, a liberdade de imprensa deve servir fundamentalmente à liberdade de expressão, e não só à liberdade dos empresários da grande mídia.