A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) realizou na tarde desta quinta-feira (21) mais uma manifestação pública em protesto contra a intransigência patronal na Campanha Salarial de Rádio e TV. Desta vez, o ato aconteceu em frente à TV Gazeta, na avenida Paulista.
A atividade foi organizada a partir da arrecadação de calçados dos profissionais de imprensa, que simbolizam que os jornalistas, que gastam a sola do sapato para garantir o lucro das empresas, exigem respeito e verdadeiras negociações — que garantam no mínimo a reposição da inflação nos salários. Os calçados vieram de diversas redações, mas sobretudo as das TVs Globo e Record.
Os jornalistas optaram por esta forma de protesto porque, já decorridas seis rodadas de negociações da Campanha Salarial, os patrões se mantêm intransigentes, e continuam reafirmando a proposta de reajuste de apenas 5% contra uma inflação de 10,97% nos salários. Os jornalistas rejeitam qualquer acordo que não estabeleça a reposição integral da inflação nos salários e nas cláusulas econômicas.
No protesto, os dirigentes do Sindicato distribuíram uma Carta Aberta ao Povo de São Paulo (veja abaixo), na qual protestam contra a intransigência das empresas de comunicação, que receberam, de 2003 a 2014, mais de 13,9 bilhões de reais em verbas publicitárias do governo federal. Por emissora, a TV Globo contou com R$ 6,2 bilhões, a Record R$ 2 bilhões, o SBT R$ 1,6 bilhão, a Bandeirantes R$ 1 bilhão e a Rede TV R$ 408 milhões.
Em termos de verbas publicitárias, as empresas de Comunicação não têm do que reclamar: o setor teve crescimento de 1,84% no segmento de rádio e 8,07% na TV aberta em 2014. As rádios faturaram R$ 1,3 bilhão em 2015 e as TVs R$ 25,18 bilhões, incluindo as TVs por assinataura. Mesmo com queda de faturamento bruto em 2015, nada indica que houve significativa redução de lucros.
Afora isso, as empresas de Comunicação foram as mais beneficiados por uma enorme desoneração tributária, que significa a injeção de mais centenas de milhões de reais nas empresas às custas do caixa da Previdência Social. Com isso, garantiram com sobras suas margens de lucro, lançando mão também de cortes internos e aumento da pressão sobre os trabalhadores.
Agora, quando chegamos no momento de reajuste salarial, cuja data de referência é 1º de dezembro, querem corrigir nossos salários em apenas 5%, menos da metade da taxa de inflação (INPC) do período, de 10,97%. Isso é inaceitável para os jornalistas, que não vão concordar com nenhuma redução de salário real.
Esta é a Carta Aberta distribuída na avenida Paulista:
“Emissoras de TV e rádio ganham milhões, mas querem dar migalhas a seus jornalistas!”
Os jornalistas que trabalham nas TVs e rádios do Estado de São Paulo dirigem-se ao povo paulista para denunciar a ganância das empresas, que se mostram intransigentes na campanha salarial em curso, negando-lhes até mesmo a mera reposição da inflação nos salários. Como qualquer trabalhador, os jornalistas querem respeito e, no mínimo, a preservação de seus salários, num momento em que a inflação anual supera os dois dígitos, corroendo o poder de compra dos profissionais e de suas famílias.
Mesmo com o Brasil vivendo uma crise econômica, as empresas de televisão e rádio não têm do que reclamar. Só as cinco grandes redes de televisão – Globo, Record, Bandeirantes, SBT e Rede TV – receberam mais de 10 bilhões de reais, desde 2003, em verbas publicitárias do governo federal. Desde janeiro de 2014, o setor de comunicações é um dos mais beneficiados por uma enorme desoneração tributária, que significa a injeção de mais centenas de milhões de reais nas empresas às custas do caixa da Previdência Social. Mesmo que tenha havido alguma redução de faturamento, estão garantindo bem suas margens de lucro, também com cortes internos e aumento da pressão sobre os trabalhadores.
Agora, quando chegamos no momento de reajuste salarial, cuja data de referência é 1º de dezembro, querem corrigir nossos salários em apenas 5%, menos da metade da taxa de inflação (INPC) do período, de 10,97%. Em resumo, enquanto faturam milhões, querem rebaixar o ganho real dos jornalistas. Não aceitamos! Já enfrentamos seis rodadas de negociação, marcadas pela intransigência patronal, que não cede nada além dos 5%. As rodadas tornaram-se mera enrolação, para abater nossa categoria pelo cansaço. Mas estamos nos mobilizando em nossas redações para deixar claro às empresas que não vamos aceitar a redução real de nossos salários. Decidimos ainda denunciar esta situação ao povo paulista, cuja ação cotidiana também é batalhar para manter seus salários e seus empregos, sempre em busca de uma vida digna.
A intransigência patronal chegou ao ponto de se negarem até mesmo a negociar cláusulas sem impacto econômico direto, como medidas de proteção ao emprego, de prevenção a males de saúde ou de direito de consciência.
Dizemos bem claro às empresas: para fazer qualquer acordo, o mínimo é o reajuste pela inflação dos salários e das cláusulas econômicas! Não foram os trabalhadores que criaram a crise, e não é sobre as costas deles que deve recair o seu peso.
Quando a população assiste a Globo, Record, SBT, Rede TV ou Band, vê com seus próprios olhos a riqueza e o poder das grandes emissoras, e tem de saber que tudo isso é fruto do trabalho de milhares de trabalhadores, parte dos quais jornalistas. Somos uma categoria que trabalha para levar à população as informações necessárias para a vida no dia a dia. Não podemos aceitar ver nossa dignidade pisoteada. Exigimos a preservação de nossos salários e de nossos direitos. Contamos com o apoio do povo paulista.
21 de janeiro de 2016
Legenda: Os sapatos dos jornalistas na frente da TV Gazeta e os diretores no ato da Paulista
Fotos de Cadu Bazilevski