Os episódios de violência policial contra jornalistas nas manifestações de rua no ano passado foram a debate em audiência pública da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público com a presença de representantes sindicais da categoria e do Ministério da Justiça.
Apesar de repórteres terem sido hostilizados por manifestantes e da morte do cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, o diretor de relações institucionais da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), José Carlos Torves, afirmou que dois terços das agressões sofridas pelos jornalistas partiram da polícia. “Nós já expressamos ao Ministério da Justiça que é preciso urgente [sic] uma revisão dos currículos de formação dos policiais, que ainda estão sendo formados no mesmo período da ditadura, que não podem enxergar um jornalista cobrindo uma manifestação, que a tentativa é pegar o material e agredir o jornalista. Isso é o que vem ocorrendo.”
Segundo Torves, que também representou a Central Única dos Trabalhadores (CUT), as agressões de manifestantes vieram de grupos violentos infiltrados nas manifestações. Além disso, ele acredita haver o hábito de confundir os jornalistas com a linha editorial dos veículos.
Já o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Augusto de Oliveira Camargo, afirmou que os jornalistas se veem em fogo cruzado: “ficam preocupados em não serem agredidos pela PM e em virarem alvo de parte dos manifestantes”.
Grupo de trabalho
A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça criou um grupo de trabalho com associações de jornalistas e de empresas jornalísticas para buscar diretrizes que auxiliem a proteção desses profissionais e o livre exercício da profissão.
O grupo de trabalho deve se encerrar ainda em abril.Segundo o assessor da Secretaria Nacional de Segurança Pública Guilherme Leonardi, esse grupo vai apresentar orientações para redução do risco no trabalho, como o uso de equipamentos de proteção.
Orientações aos profissionais
Segundo Leonardi, o grupo definirá orientações sobre como se preparar para a manifestação, como proceder durante a manifestação e, posteriormente, também como avaliar o que ocorreu, quais foram os danos, o que poderia ter ocorrido de forma diferente, o que poderia ter sido evitado. “São para todos os espectros. É importante que a gente reconheça o papel dos profissionais de comunicação, das entidades que possuem os veículos de comunicação e também dos profissionais de segurança.”
Para o deputado Policarpo (PT-DF), debates como o realizado pela Comissão de Trabalho são importantes para chamar a atenção sobre o tema. “Que esse debate sirva não apenas para permitir que o trabalho do jornalista seja feito com tranquilidade, mas ao mesmo tempo que chame atenção para esse problema. As pessoas têm que se manifestar, tem que fazer suas manifestações, mas de forma livre e sem violência, né?”Na Câmara, uma comissão externa que acompanhou as investigações sobre a morte do cinegrafista Santiago Andrade, encerrou os trabalhos no fim de março.
Texto – Câmara dos Deputados