Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Logo da Federação Internacional de Jornalistas
Logo da Central Única dos Trabalhadores
Logo da Federação Nacional de Jornalistas

Jornalista Fernando Pacheco Jordão morre aos 80 anos

Jornalista Fernando Pacheco Jordão morre aos 80 anos


Com 60 anos de jornalismo, Jordão também enfrentou a ditadura e foi peça-chave para a denúncia do assassinato de Vladimir Herzog 

Na foto, Vladimir Herzog (à direita) e Fernando Pacheco Jordão na BBC de Londres

O jornalista Fernando Pacheco Jordão, de 80 anos, morreu na noite desta quinta-feira (14), na capital paulista, em decorrência de problemas de saúde. O velório ocorre nesta quinta-feira (14), das 14h às 22h, na TV Cultura (Rua Cenno Sbrighi nº 378 –  Água Branca) e o corpo será cremado na manhã desta sexta-feira (15), no Crematório da Vila Alpina (Av. Francisco Falconi, 437 – Jardim Avelino).

Ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) , ele se dedicou ao jornalismo por seis décadas, começando em 1967 como locutor e redator na Organização Victor Costa em São Paulo, extinto grupo de comunicação controlador das rádios Excelsior, Cultura e Nacional.

Foi copydesk no jornal O Estado de S. Paulo, de onde foi para a TV Excelsior para criar e editar o telejornal “Show de notícias”, que também apresentava. Foi contratado pela BBC londrina em 1964 e, quatro anos depois, voltou ao Brasil para trabalhar na TV Cultura, onde atuou ao lado de Vladimir Herzog, amigo desde a época do Estadão, e criou o telejornal “Hora da Notícia”.

Nos anos 1970, Pacheco Jordão também trabalhou na TV Globo como editor do Jornal Nacional em São Paulo e dirigiu o Globo Repórter, permanecendo na emissora até 1979. Apesar das passagens pelo rádio e jornal impresso, foi na televisão que o jornalista se destacou principalmente pela inovação no formato.

Jordão e a denúncia da morte de Vladimir Herzog

Na direção do Sindicato entre 1975 e 1978, Jordão esteve ao lado de Audálio Dantas no enfrentamento à ditadura quando a entidade denunciou a farsa do suicídio forjado de Herzog, morto em 25 de outubro de 1975 pelos agentes da ditadura em decorrência das torturas sofridas no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), na Rua Tutóia.

Em entrevista ao site do SJSP, Audálio, ex-presidente do Sinicato, destacou o papel fundamental de Pacheco Jordão para que o Sindicato denunciasse o assassinato de Vlado.

Com Dantas, Pacheco Jordão redigiu o texto inicial do documento no qual a entidade  manifestava sobre o caso e a inconformidade do SJSP com a ação dos militares ao prender ilegalmente os profissionais de jornalismo.

“Foi nesse contexto que o Herzog foi apanhado, torturado e morto. Além disso, com a nota do Sindicato, conseguimos manter o corpo em velório até dois dias depois, quando foi sepultado no cemitério israelita. No mesmo texto, afirmamos que a autoridade militar era responsável por quem estava sob sua guarda, e isso era o ponto central”, disse Audálio.

O ex-presidente do SJSP recorda que estava em Presidente Prudente participante de uma palestra para estudantes de jornalismo quando recebeu uma ligação de Jordão comunicando a morte de Vlado, e a primeira decisão foi de redigir a nota com posicionamento do Sindicato.

“Cheguei, fui diretamente para a casa do Jordão, onde ele já tinha redigido boa parte da nota sobre o assassinato. Quando chegamos ao Sindicato, na manhã do dia 26, a entidade já totalmente tomada pelos jornalistas que acolheram os primeiros versos de protesto contra o crime, e essa nota foi lida como se fosse uma assembleia, que foi ainda mais importante por ter sido espontânea a expressão de indignação dos profissionais”.

Para Audálio, além do significado político, o texto também é significativo por ser uma obra conjunta de jornalistas que não se conformavam com aquela situação.

“O Jordão, que era amigo íntimo do Vlado, foi naquele momento, e em outros de atuação do Sindicato, uma peça da maior importância. Era um grande articulador, um grande cidadão que, no papel de diretor, foi fundamental para que, depois do assassinato, partisse do Sindicato a decisão do culto ecumênico que levou 8 mil pessoas à Praça da Sé. Tivemos a felicidade de ter companheiros com a firmeza do Fernando Pacheco Jordão. Ele pensava, agia e estava sempre disposto à luta para reagir à ditadura”, destaca o ex-presidente.

Pacheco Jordão ainda escreveu “Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte”, publicado pela primeira vez em 1979, sendo o primeiro trabalho investigativo e minucioso a respeito da tortura institucionalizada pelo regime militar no país, para que não houvesse dúvidas quanto ao assassinato de Vlado.

Pela importância de seu legado ao jornalismo brasileiro, ele também dá nome Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, voltada aos jovens estudantes da profissão, numa iniciativa criada em 2009 pelo Instituto Vladimir Herzog.

Como destacou o jornalista Juca Kfouri em postagem de seu blog “vidas como a de Fernando Pacheco Jordão, são, de fato, eternas….”.

Escrito por: Flaviana Serafim – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Foto: Arquivo/Instituto Vladimir Herzog

veja também

relacionadas

mais lidas

Pular para o conteúdo