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Jornalista Alberto Dines morre aos 86 anos

Jornalista Alberto Dines morre aos 86 anos na capital paulista

Alberto Dines: 66 anos de trabalho num jornalismo ético e crítico. Foto: Ana Paula Oliveira Migliari/TV Brasil/EBC O jornalista Alberto Dines, fundador do Observatório da Imprensa, morreu na manhã desta terça-feira (22), aos 86 anos, na capital paulista. Também escritor, biógrafo e professor universitário, Dines  nasceu em 19 de fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro.

Trabalhou como jornalista por 66 anos, uma longa carreira com atuação nos principais veículos do país nesse período, desde revistas como Visão e Manchete, na década de 1950, jornais impressos como o Diário da Noite e Jornal do Brasil, nos anos 1960, e na Folha de S.Paulo, nas décadas de 1970 e 1980.

Ainda trabalhou na editora Abril até 1995 e, no ano seguinte, criou o site do Observatório da Imprensa, a partir de uma iniciativa do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, num projeto do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O próprio Labjor também foi criado por Dines, em 1994.

Em 1998, o Observatório ganhou uma versão para a TV com produção da TV Cultura de São Paulo e da TVE do Rio de Janeiro, estabelecendo a organização não governamental como fórum de discussões sobre temáticas variadas ligadas às coberturas do jornalismo, com o intuito de acompanhar criticamente o desempenho da mídia brasileira.

A ética e a crítica quanto ao jornalismo marcam a trajetória de Dines. Durante o golpe civil-militar ocorrido em 1964, o jornalista foi censurado e demitido várias vezes por diferentes veículos, pois nunca abriu mão da postura ética em seu trabalho, mesmo numa conjuntura conturbada em que boa parte da mídia nacional abraçou a “revolução” imposta à mão de ferro.

 No Diário da Noite, ele ignorou a ordem de não cobrir o caso do navio Santa Maria, sequestrado em Recife num protesto contra a ditadura salarista portuguesa, e foi demitido do jornal por Assis Chateubriand.

Quando o Ato Institucional Nº 5 foi decretado em dezembro de 1968, no governo Costa e Silva, aprofundando a ditadura com a perda de mandatos e a suspensão de garantias constitucionais, Dines foi quem coordenou a primeira página do Jornal do Brasil. Numa estratégia para driblar a censura, apelava à previsão do tempo para compor a narrativa necessária escrevendo “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos…”. Foi preso na mesma época por ter criticado a censura como paraninfo de uma turma da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde lecionava desde 1963. 

Outro marco da resistência de Dines à ditadura foi na cobertura do golpe contra o presidente chileno Salvador Allende, deposto em setembro de 1973, quando o jornalista novamente driblou o regime publicando uma matéria sobre o caso sem manchete na primeira página do Jornal do Brasil. Quando estava na Folha de S.Paulo, em 1980, também foi demitido depois de publicar um artigo em que denunciava a repressão da Polícia Militar ordenada pelo então governador Paulo Maluf contra os metalúrgicos em greve no ABC.

Em 1974, publicou a primeira edição do livro “O papel do jornal e a profissão de jornalista”, com foco na ética, no exercício da profissão, na importância da transparência, da consciência profissional e no interesse público envolvidos no jornalismo. Após 35 anos, quando o livro chegou à 9ª edição, a publicação foi relançada, em 2010, desta vez incluindo a questão da exigência do diploma para exercício do jornalismo.

Para a direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), nessas quase sete décadas de atuação, Alberto Dines deixa um legado inestimável ao jornalismo e aos jornalistas brasileiros, sobretudo por seu exemplo de posicionamento sempre ético e crítico à mídia nacional, imprescindível para o exercício da profissão que ele tanto amou.

Dines morreu no Hospital Albert Eistein, na zona sul paulistana, e a causa da morte não foi divulgada pela família. O jornalista deixa quatro filhos de seu primeiro casamento, com Ester Rosali Dines, e a esposa Norma Couri, também jornalista e com quem se casou pela segunda vez. O velório e sepultamento ocorrem neste 23 de maio, no Cemitério Israelita de Embu das Artes, na Grande São Paulo. 

Aos familiares e amigos de Alberto Dines, a solidariedade e as condolências dos e das dirigentes do SJSP.

São Paulo, 22 de maio de 2018

Direção – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

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