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Financiamento colaborativo: Jornal Pessoal busca apoio para manter circulação

Financiamento colaborativo: Jornal Pessoal busca apoio para manter circulação


Criado em 1987 por Lúcio Flávio Pinto, o paraense “JP” é pioneiro da mídia alternativa e se mantém há quase 30 anos nas bancas sem publicidade


O jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto edita o Jornal Pessoal, ou JP, publicação quinzenal que circula em Santarém. O periódico quinzenal é o jornal alternativo e independente há mais tempo em circulação no país, surgido em 1987, muitos anos antes do atual movimento de mídias alternativas.

Há 30 anos o Jornal Pessoal é sustentado apenas pelo valor das vendas nas bancas, sem publicidade e sem alinhamento com os grupos de políticos e empresários da Região Norte do país.

“O JP publica o que a grande imprensa não publica Às vezes espero e se o fato não aparecer, ou aparecer manipulado, aí faço a reportagem.  Não basta recolher informação como se fosse um extrativista, é jornalismo de verdade, com apuração, e isso custa tempo e dinheiro”, explica o jornalista. Como exemplo, cita os diversos casos envolvendo a Vale do Rio Doce que, além de crimes ambientais, tem procedimentos de trabalho análogo à escravidão e não há denúncias porque a gigante da mineração é anunciante de várias mídias.

Para garantir a continuidade da publicação do JP, o financiamento coletivo tem sido o caminho. Duas recentes campanhas foram realizadas pela internet por parceiros do jornalista. A primeira tinha a meta de arrecadar R$ 10 mil e alcançou R$ 15 mil. Na segunda, foram arrecadados R$ 39 mil, mas o objetivo são R$ 160 mil, recurso necessário para a sustentação do jornal pelos próximos dois anos.

As campanhas para as “vaquinhas” emergenciais terminaram, mas o financiamento colaborativo é possível a qualquer tempo por depósito ou transferência bancária. Para colaborar, confira as informações acessando o blog https://lucioflaviopinto.wordpress.com/assinatura/

Lúcio Flávio afirma que todos os jornais impressos do mundo estão em crise, tanto devido à redução do público como dos pontos de venda e, avalia, a tendência é de redução ou extinção das bancas de jornal. Ele explica que, entre as dificuldades, estão os custos da distribuição e o aumento de cerca de 20% de no custo industrial para impressão. Incluindo perdas, encalhes e cortesias, o custo da comercialização chega a 60% dos R$ 5 cobrados pela venda avulsa  de cada exemplar.

Para enfrentar as dificuldades, que cresceram a partir de 2014, a criação do blog foi a alternativa para levar o JP também para a internet, permitindo o acesso por internautas e para além do estado do Pará.

Criador do JP é “um Davi no meio de Golias” da mídia brasileira


No jornalismo desde 1966, aos 15 anos, Lúcio Flávio Pinto é “um Davi no meio de Golias”, como resume em comentário um internauta leitor do blog do jornalista. Entre outros veículos, foi correspondente da BBC Radio News, repórter dos jornais O Liberal e A Província do Pará, e responsável pela sucursal do O Estado de S.Paulo na Amazônia.

O Jornal Pessoal surgiu da iniciativa de Lúcio Flávio depois de cobrir o assassinato de Paulo Fonteles, advogado e deputado estadual morto, em junho de 1987, por latifundiários devido ao seu ativismo junto aos movimentos do campo e da floresta no Pará.

Na época, os jornais paraenses, entre os quais O Liberal,  temiam represálias porque os suspeitos de envolvimento no crime eram anunciantes e os veículos se recusaram a publicar as reportagens. Na busca por um espaço independente para divulgar as matérias, o jornalista pediu demissão depois de 18 anos no Estadão e apostou tudo para criar o JP.

“Éramos amigos e, três dias antes da morte dele, nós conversamos longamente. Não foi só pelo envolvimento pessoal que queria denunciar. Era porque havia uma regra não escrita de que se matava pessoas militantes como ele no sertão do Pará, mas não na capital. Ele terminou morto na região metropolitana de Belém e isso foi uma escalada na violência”, recorda o jornalista.

Lúcio Flávio destaca, ainda, que o motivo de o periódico se manter há tantas décadas nesse formato é que “em plena democracia, é preciso ter uma mídia alternativa porque esse tipo de notícia não tem espaço nos jornais tradicionais. É a teimosia em querer publicar o que a grande imprensa não publica mais”.

Também professor e sociólogo, autor de dezenas de livros sobre a Amazônia, Lúcio Flávio é ganhador de várias premiações que reconhecem sua luta aguerrida pela liberdade de imprensa – entre as quais o Prêmio Vladimir Herzog – e é o único jornalista brasileiro a figurar entre os mais importantes do mundo segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras.

Além do Jornal Pessoal, o jornalista mantém os blogs A Vale que Vale sobre a mineradora multinacional; Cabanagem – O povo em armas na Amazônia, sobre os 180 anos da revolta, completados em 2015; e Amazônia Hoje, uma enciclopédia contemporânea com cronologia temática sobre a região.

Escrito por: Flaviana Serafim – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Foto: Reprodução/Biblioteca da Universidade da Flórida

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