O gráfico José Gomes, conhecido como Chocolate, trabalhou 16 anos na Abril. Como os outros, foi demitido sem receber seus direitos, e agora corre o risco de perder sua casa por falta de pagamento das prestações. “Às vezes não tenho dinheiro nem para ir procurar trabalho”, diz ele.
A história de Chocolate faz parte da série “Vítimas da Abril“, lançada na segunda-feira (10) para mostrar os impactos que a demissão em massa seguida do calote dado pela Abril têm provocado na vida dos centenas de demitidos e seus familiares. Foram 804 celetistas demitidos sem receber verbas rescisórias nem multa do Fundo de Garantia, e outros cerca de 200 freelancers dispensados sem pagamento dos serviços prestados.
Como a empresa entrou em recuperação judicial em 15 de agosto, o pagamento que deveria ter sido feito aos demitidos foi protelado junto com a dívida de outros credores na recuperação. Pela proposta apresentada pela Abril, dependendo do valor, pode levar até 18 anos para quitação dos débitos com os demitidos e o deságio pode chegar a 92% do montante da dívida (leia mais em Plano de recuperação da abril geral revolta).
A iniciativa de realizar os vídeos partiu dos próprios demitidos, organizados por meio de comissões e com apoio de seus sindicatos, entre os quais o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), e é mais uma entre as várias ações que têm sido promovidas para denunciar o calote da Abril.
O primeiro vídeo da série mostra o gráfico Claudio Teixeira, 53, demitido sem receber seus direitos depois de 24 anos de dedicação à empresa. Teixeira tem um filho especial, Giovane, de 16 anos, que precisa de fisioterapia e outras formas de assistência médica, mas com a demissão a família perdeu o plano de saúde (veja a íntegra em Meu filho especial precisa de tratamento).
“Estou arcando do meu bolso sem ter condição nenhum porque meu filho não pode ficar sem tratamento. Se ele não fizer o tratamento tem dificuldade para andar. (..) Tenho procurado emprego por aí e não tem sido fácil por causa da minha idade”, relata Teixeira.
O quarto vídeo, lançado nesta quarta-feira (12), é do jornalista Bruno Favorreto, 36, que é paraplégico e trabalhou por 12 anos na Abril. Ele também perdeu o plano de saúde e sequer foi incluído na lista de credores da recuperação judicial. Ao relatar o impacto da demissão e do calote em sua vida, o profissional explica porque os irmãos Civita “são os Corleone do Brasil”, em alusão às personagens do filme “O poderoso chefão”.