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Estereótipo da mulher na mídia é tema de oficina no SJSP

Estereótipo da mulher na mídia é tema de oficina no SJSP

 

Denise-Motta-Dau

Secretaria de Política para as Mulheres da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) convida categoria para discutir a linguagem e reprodução da imagem da mulher na mídia

No dia 29 de março, das 9h às 13h, o auditório Vladimir Herzog, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP)  será palco de mais um importante debate. O tema será a postura do profissional  de comunicação na  construção de estereótipos  e preconceitos sobre a mulher na mídia.

A oficina “O espaço da mulher no jornalismo” integra a programação do Dia Internacional da Mulher da Secretaria de Política Para as Mulheres da Prefeitura Municipal de São Paulo e tem parceira do SJSP. A oficina contará com as palestrantes Raquel Moreno,  militante no gênero e fundadora do Observatório da Mulher e a professora e pesquisadora da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA /USP), Roseli Fígaro.

Para entender melhor a proposta, o SJSP ouviu a secretária de Políticas para as Mulheres, Denise Motta Dau, que contou como surgiu a oficina de gênero para jornalista. Na entrevista, ela também faz um panorama das políticas de gênero.

 

SJSP: Como surgiu a ideia de fazer a oficina?

Denise Motta Dau: Essa oficina nasceu da necessidade de trabalharmos com os profissionais de comunicação, em especial as jornalistas. O nosso foco é construir uma abordagem inovadora, diferenciada do que a mídia usa atualmente, onde os jornalistas dependendo da postura da linguagem, reforçam preconceitos e  estereótipos. A nossa intenção é desconstruí-los a partir deste conceito.

A proposta da  oficina é conversar um pouco com os jornalistas capacitando-os para que quando fizerem suas matérias e seus textos se libertem destes estereótipos. Também analisaremos como a mídia vem tratando o papel e a imagem da mulher na sociedade.

SJSP: A secretaria já tem alguma política pública para este projeto?

DMD: Temos primeiramente essa oficina para trabalhar a linguagem e abordagem de gênero com os jornalistas. Nossa intenção é que desta experiência possamos pactuar desdobramentos e atividades que possibilitem a construção de uma agenda mais permanente com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Espero que esta seja uma primeira experiência positiva de muitas que virão.

SJSP:: Atualmente, como está a situação das mulheres em geral no mercado de trabalho?

DMD: As mulheres ocupam cada vez mais o mercado de trabalho, inclusive, em profissões que não são tradicionalmente consideradas femininas como engenharia, física, mecânica e construção civil. Porém, segundo o último estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) cerca de 70% recebem  menos que os homens no mercado de trabalho, mesmo que a escolaridade feminina seja maior.

O grande desafio é fazer que  as profissões onde há majoritariamente recursos humanos femininos como na área da saúde, educação e assistência social haja igualdade salarial.  As profissões exercidas mais pelas mulheres são infelizmente as profissões mais desvalorizadas no mercado. Esse processo dá o resultado  final para as mulheres ganharem menos em relação aos homens, porque nestas profissões há uma grande concentração de mulheres e de salários menores.

SJSP: O que a data de 8 de março conquistou efetivamente?

DMD: Muitas reivindicações das mulheres conseguiram ser incorporadas na agenda das políticas públicas, principalmente, nas condições de trabalho e salário. Muitas coisas avançaram desde o século 20, as mulheres passaram a lutar pelo direito  ao voto e pela redução da jornada de trabalho.

Acho que podemos comemorar a ampliação no mercado de trabalho, nos cargos de poder, nos espaços de comando. Foram criadas na gestão pública mecanismos institucionais de formulação de política para as mulheres, de formulação de políticas públicas para igualdade racial. Isso obviamente é um avanço importante e acredito que é irreversível.

Temos um leque de políticas públicas que estão sendo formuladas na Secretaria Pública de Política para as Mulheres na área da autonomia econômica visando a geração de trabalho e renda, no enfrentamento a violência contra a mulher.

SJSP: E a Lei Maria da Penha tem revertido o quadro de violência contra a mulher?

DMD: A Lei Maria da Penha é um arcabouço jurídico legal muito forte, mas para que a mulher acione todos os seus direitos e benefícios que a lei garante é preciso que os serviços públicos, que os municípios, que os governos municipais e estaduais sejam adequados para que as denúncias  possam ser encaminhadas. Para isso, é importante ter uma delegacia da mulher que funcione 24 horas com profissionais capacitados, enfim de uma retaguarda para que a legislação não fique no papel.

SJSP: Mediante ao quadro qual seria o grande desafio?

DMD: O desafio é consolidar uma política de estado que garanta a mulher os plenos direitos do ponto de vista do mercado de trabalho e do espaço doméstico, onde a mulher ainda acumula dupla ou tripla jornada. Segundo o Dieese, a mulher tem em média uma jornada de 40 horas semanal e 22 de trabalho doméstico, enquanto, os homens tem 9 horas.

SJSP: Há registro de agressão contra mulher no estado de São Paulo?

DMD: Após 7 anos da Lei Maria da Penha, mais mulheres passaram a ter coragem de denunciar. Há uma subnotificação destes crimes, portanto, ainda há necessidade de uma política de enfrentamento no caso de violência doméstica e sexual. O município de São Paulo não está classificada entre os mais violentos em relação as outras capitais do país. Estamos no 26º lugar mas para nós é inadmissível que uma mulher sofra qualquer tipo de agressão.

SJSP: A violência está relacionada a submissão ?

 DMD: Sim, em muitos casos. Muitos deles por questões culturais e religiosas que a sociedade acaba perpetuando. Podemos verificar valores em vários programas de televisão de que as agressões fazem parte do casamento, que a mulher teria que aguentar isso por é um processo natural em uma relação a dois.

SJSP: Os meios de comunicação contribuem para este quadro?

SJSP: Vários programas de TV pregam isso, então, na verdade, não podemos só assegurar uma assessoria jurídica precisamos também do apoio psicológico e social. Existem valores construídos socialmente e culturalmente que fazem com que ela permaneça na situação de vítima de violência. Como se isso fosse natural. Essa relação de poder entre homem e  mulher precisa ser desconstruída. Estamos falando de um problema que precisa de atenção integral. Ela é  muito delicada e se a política pública não tem essa visão de gênero e não impõem serviços que garantam esse atendimento fica difícil sair desta situação e, individualmente reorganizar a sua vida.

 

SJSP: Qual será a programação da Secretaria?

DMD: A Secretaria irá fazer O Dia Internacional da Mulher descentralizado  com eixos temáticos ao longo do mês de março – já que a data oficial é dia 8. Na Zona Leste haverá um trabalhado sobre a autonomia econômica das mulheres, na Zona Sul  será abordada a questão do funk, que é uma dança que desvaloriza o corpo da mulher. Já na Zona Norte, será São Paulo Não Tolera a Violência contra a Mulher. Todos com rodas de conversas, serviços sociais e culturais.

 

*Denise Motta Dau é secretária de Políticas Para as Mulheres da Prefeitura do Município de São Paulo. Possui graduação em Serviço Social. Foi diretora da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Presidiu a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social. No Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República atuou como conselheira.

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