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Entidades lançam projeto de pesquisa sobre a saúde mental do jornalista

Juliana Almeida - SJSP

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apresentou na terça-feira, 9 de abril, na sede da Fundacentro, em São Paulo, a pesquisa nacional sobre condições de saúde mental dos/das jornalistas, projeto desenvolvido pela Fenaj, com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT).

A mesa de abertura foi composta por Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro, Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj e Juliana Mombelli, procuradora do MPT (Ministério Público do Trabalho) e membra do Codemat (Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho).

Paulo Zocchi destacou em sua fala inicial que toda a classe trabalhadora brasileira está em situação de pressão a partir da reforma trabalhista, da desregulamentação e da precarização. “Se você recortar os jornalistas, (percebe que) é uma categoria que está sob forte impacto das mudanças tecnológicas das mais variadas […] Ao contrário do avanço tecnológico ajudar a organizar o trabalho, a melhorar as condições de trabalho, coisa que ele poderia fazer, ele é utilizado para ampliar a exploração do trabalho”. Zocchi concluiu dizendo que é urgente avançar na regulamentação das plataformas digitais e na defesa dos direitos trabalhistas dos jornalistas, visando garantir condições dignas de trabalho e preservação da saúde mental da categoria.

A procuradora do MPT, Juliana Mombelli, comentou que o gravo a saúde física e mental dos trabalhadores não deve ser algo inerente a atividade profissional, e por isso não pode ser normalizado. “O acidente do trabalho é algo visível, é algo agudo, é uma coisa concreta e palpável, que pode ser evidenciada. O adoecimento não. É estigmatizado, inviabilizado”.

A proposta é identificar, por meio de pesquisa quantitativa e qualitativa, os impactos da pandemia de Covid-19 e dos novos arranjos laborais, aprofundados a partir da reforma trabalhista de 2017. De 2019 a 2022 ataques diretos à categoria foram feitos pelo governo Bolsonaro, em especial às mulheres e aos que trabalham para grandes empresas de comunicação, jornais, TV e portais. A ações que trouxeram consequências à saúde mental das e dos jornalistas no país.

Pedro Tourinho, presidente da Fundacentro e Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj, assinaram Acordo de Cooperação Técnica, durante a apresentação da Pesquisa Nacional sobre Condições de Saúde Mental dos/das Jornalistas, projeto desenvolvido pelas instituições, com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT). Foto: Fundacentro.
Pedro Tourinho (à dir.), presidente da Fundacentro e Paulo Zocchi (à esq.), vice-presidente da Fenaj, assinaram Acordo de Cooperação Técnica, durante a apresentação da Pesquisa Nacional sobre Condições de Saúde Mental dos/das Jornalistas, projeto desenvolvido pelas instituições, com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT). Foto: Fundacentro.

Saúde mental e condições de trabalho no Brasil

O termo saúde mental compreende um conjunto de fatores que contribuem para o bem-estar geral do ser humano e seu equilíbrio físico e emocional. A ausência ou limitação dessas condições tende a causar sofrimento mental, que acarreta consequências, tanto no desempenho profissional como nos diversos aspectos da vida social e privada, com reflexos psicossociais.

O evento foi seguido por um debate que contou com a participação de José Roberto Heloani, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, na área de Gestão, Saúde e Subjetividade, Cristiane Reimberg, jornalista da Fundacentro, com pesquisas sobre saúde mental e trabalho do jornalista, Cynthia Lopes, procuradora do MPT e membra do Codemat e Norian Segatto, secretário de saúde e segurança da Fenaj.

O problema do esgotamento psicológico dos jornalistas não é recente. Na pesquisa realizada por Cristiane Reimberg em 2014 já destacava que as jornadas exaustivas e a pejotização eram problemas que afligiam a saúde mental dos profissionais, apontada sobretudo por profissionais idosos. Doenças como síndrome do pânico, dor emocional, cansaço, ansiedade, insônia, e dores das mais variadas possíveis como dor de cabeça, pescoço, coluna, ronquidão, foram algumas das mais relatadas no trabalho.

Norian Segatto,secretário de saúde e segurança da Fenaj, destacou em sua fala o Relatório de Violência contra Jornalistas, que é elaborado pela entidade desde 1999. “Em 2020, foram 428 ataques, mais do que dobrou, 105% a mais do que em 2019. E em 2021 foi ainda pior, 430 ataques registrados contra jornalistas, ou seja, mais de um ataque por dia. Um ataque e meio por dia, uma grande parte deles promovida pelo então presidente Jair Bolsonaro, que originou o processo o SJSP ganhou contra ele”.

Este quadro também foi agravado pela pandemia de Covid-19 que assolou o país. Jornalistas, apesar de não serem qualificados como profissionais em risco, estavam na linha de frente, cobrindo o que acontecia pelo país.  “Precisamos entender o que está acontecendo, precisamos entender para onde vai a saúde mental dessa categoria, dessa profissão, para ajudar a proteger esses trabalhadores e ao mesmo tempo”, completou Norian.

Marcelo Kimati, assessor da presidência da Fundacentro, comentou que a ideia da pesquisa surgiu após a pandemia proporcionar um espaço para o debate sobre saúde mental. Além de tendência da psiquiatria contemporânea, estudos como esse buscam apontar o sofrimento mental como uma doença. “Esse estudo vai nos dar condição, por um lado de entender, de como se dá essa relação, quais são essas variáveis de sofrimento mental e ao mesmo tempo ele vai nos indicar alguns caminhos para que essas relações, por exemplo, entre precarização de trabalho e sofrimento mental, possam ser mais aprofundadas em uma continuação desse estudo, que pretende ter um caráter mais qualitativo”, comenta Marcelo.

Com esse projeto, a Fenaj e seus 31 Sindicatos filiados, em conjunto com a Fundacentro, querem identificar impactos, o que deverá contribuir para auxiliar pesquisas paralelas que já ocorrem no campo da saúde mental e do trabalho. Os resultados ajudarão a formular políticas sindicais e negociação com as entidades patronais, visando à melhoria das condições gerais e subjetivas do trabalho. Pretende-se incentivar a criação de novas leis que protejam o trabalho do assédio e da pressão, com consequente manifestação da melhora da saúde mental coletiva.

Para assistir ao evento na integra, clique aqui.

Especialistas e participantes que estiveram no auditório da Fundacentro, em São Paulo, para a apresentação da Pesquisa Nacional sobre Condições de Saúde Mental dos/das Jornalistas. Foto: Fundacentro
Especialistas e participantes que estiveram no auditório da Fundacentro, em São Paulo, para a apresentação da Pesquisa Nacional sobre Condições de Saúde Mental dos/das Jornalistas. Foto: Fundacentro

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