O jornalista Vladimir Herzog, morto pela ditadura militar em 1975, recebeu na manhã desta sexta-feira, dia 25 de outubro, uma importante homenagem da cidade de São Paulo. A praça localizada atrás do prédio da Câmara Municipal recebeu o seu nome. O novo espaço possui um mosaico que reproduz o quadro “25 de Outubro”, também conhecida como “A Guernica Brasileira”, do artista plástico Elifas Andreato (que pertencente ao acervo do SJSP), realizado por uma Organização Não Governamental (ONG) Projeto Âncora, que atua na área de Educação.
A iniciativa de transformar a praça e o Memorial Vladimir Herzog foi do ex-vereador Ítalo Cardoso (PT), então presidente da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, em conjunto com diversas instituições e personalidades ligadas aos Direitos Humanos, além da própria família Herzog. Entre elas estão o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) e a Oboré (agência especializada em comunicação popular).
SJSP na repercusão da morte de Vlado
Durante o ato, o presidente do Sindicato dos Jornalistas profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), José Augusto Camargo (Guto), citou um documento histórico feito pelos jornalistas na ocasião da morte de Vlado. “Em nome da Verdade – Os jornalistas e as dúvidas sobre a morte de Herzog”, de 6 de janeiro de 1976. Foi o 1º manifesto público feito por jornalistas que questionava as torturas e contestava as conclusões do Inquérito Policial Militar que confirmava o suicídio do jornalista, nas dependências do DOI- Codi, na capital paulista.
O ofício foi encaminhado ao então juiz auditor da 1ª Auditoria Militar de São Paulo que dizia …. temos a honra de passar às mãos de Vossa Excelência documento encaminhado a este sindicato para ser entregue à Justiça, com assinaturas de 467 jornalistas , referente ao inquérito policial militar sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog”…..
O documento foi assinado pelo então presidente Audálio Ferreira Dantas, José Aparecido, Gastão Thomaz de Almeida, Wilson Lourenço Gomes, Fernando Pacheco Jordão, Moisés Oscar Ziskinde e Hamilton Otávio de Souza.
Presidente do SJSP na época da morte de Herzog, Audálio Dantas, disse que a homenagem era em memória de Vlado, cujo sacrifício iniciou a luta contra a ditadura. Audálio reiterou a importância do documento e relatou “naquele momento ele era a voz dos jornalistas que não aceitavam a versão do suicídio. O manifesto que foi pago para ser publicado no Jornal Estado de S.P era ousado por que havia um abaixo assinado com 467 assinaturas, que colocava as vidas destes também em perigo. Essa homenagem não é só por ter sido vítima dos militares e, sim por ter sido um cidadão brasileiro que lutou pela justiça e democracia em seu país”, argumentou Dantas.
Violência contra jornalistas
O filho de Vlado, Ivo Herzog, que hoje dirige o instituto que leva o nome do pai, que se vivo completaria 72 anos, agradeceu a homenagem. Ele aproveitou o momento para destacar a importância da participação do SJSP na repercussão da morte do jornalista e, destacou a violência ocorrida contra manifestantes desde junho. ” Meu pai não estaria feliz se estivesse vivo pois presenciamos mais uma vez, a instauração da violência por parte da polícia no país, principalmente contra os jornalistas. ” Qualquer tipo de violência é injustificável e estamos aqui para documentar os crimes que continuam acontecendo – a polícia não pode ser assassina”, disse ele.
De geração para geração
O autor do quadro, Elifas Andreato, comentou que o mais importante do trabalho de reprodução em mosaico foi explicar parte da história do nosso país às crianças da ONG. “Eu passei para elas o mesmo que passerei para os meus netos. Eu sempre lutei e, é isso que me move. Se eu parar de lutar outro “burocrata” pega o meu lugar. O detalhe, é que eu faço com as armas que tenho, que é a minha arte e, que sempre esteve à disposição da militância, contou Elifas.
Os ex-presidentes do SJSP Audálio Dantas, Lú Fernandes, Zé Hamilton Ribeiro, Antonio Carlos Fon, Everaldo Gouveia e Frederico Ghedini (Fred), também participaram da cerimônia. Os parlamentares da Câmara e o presidente da Comissão da Verdade de São Paulo “Rubens Paiva”, o deputado Adriano Diogo (PT) deram seu apoio a iniciativa, além de jornalistas que viveram o período como: Paulo Markun, colega de Vlado na Cultura e Sérgio Gomes – que foi o primeiro jornalista a ser preso pela ditadura em São Paulo – Ricardo Carvalho, entre outros.
Fotos: André Freire