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Discurso de posse da diretoria do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

Discurso de posse da diretoria do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo


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Proferido pelo presidente do Sindicato, Paulo Zocchi, na cerimônia realizada no dia 19 de setembro, no auditório Vladimir Herzog, expressando os compromissos da nova diretoria. O texto do discurso é coletivo, marcando uma proposta de gestão aberta, transparente e democrática

 

Boa tarde, caras companheiras e caros companheiros:

NESTE momento de posse, queremos reafirmar nossos compromissos de campanha com os jornalistas de todo o Estado de São Paulo, e, por extensão, com o movimento sindical e com os parceiros do movimento social.

Nossa chapa foi eleita sob o lema “Defesa do jornalista e do jornalismo”. Comecemos por esta questão: nos tempos recentes, a grande mudança nas formas de produção e circulação da informação na sociedade, com o advento da internet, coloca em xeque o jornalismo como atividade e também como negócio, tal como o conhecemos. Sob o peso crescente da esfera financeira, as grandes empresas adotam como norte a busca de uma rentabilidade bancária, sacrificando o oxigênio necessário ao fazer jornalístico. Pior, numa conjuntura acirrada por conflitos políticos, praticam com frequência um partidarismo raso, levando muitas vezes ao desastre os veículos jornalísticos que dirigem.

Temos aqui, tomando posse, uma direção sindical que defende o jornalismo: o jornalismo bem feito, com apuração extensa e checagem esmerada das informações, com edição cuidadosa e responsável – um jornalismo relevante e comprometido com a sociedade. O jornalismo independente e correto continua sendo, talvez mais do que nunca, um dos fundamentos da democracia, e certamente um dos artigos de primeira necessidade para a cidadania em sociedades de massa.

E, como todos sabemos, o jornalismo é, em primeiro lugar e acima de tudo, material humano. Na esfera de um sindicato, valorizar o jornalismo significa ter como preocupação central defender as condições de trabalho e de vida do profissional, de forma a que possamos exercer nossa profissão de maneira digna e correta.


ISSO nos coloca no terreno da função básica desta entidade, e no coração dos nossos compromissos. Nossa principal missão, a partir da qual todas as demais ganham sentido, é ajudar nossa categoria a se organizar frente às empresas jornalísticas e aos demais empregadores – tanto no setor privado quanto no setor público – para assegurar boas condições para o exercício profissional.

E, para que não fiquem dúvidas: a categoria dos jornalistas é, sobretudo, assalariada. Esse foi um dos primeiros debates travados na fundação deste sindicato, há quase 80 anos. Por isso, estão no centro de nossas preocupações as lutas sindicais, em defesa do emprego, dos salários e dos direitos trabalhistas.

Como todos sabem, vivemos nos últimos meses ondas de demissões em massa. As empresas – mesmo beneficiadas por uma expressiva desoneração tributária desde o início de 2014 – enxugam seus quadros para preservar a rentabilidade, ampliando a exploração dos que permanecem. Nas campanhas salariais em curso, não querem sequer repor as perdas inflacionárias – buscam achatar o salário real. Nosso cotidiano, nestas salas da Rêgo Freitas e nas dez subsedes do Sindicato pelo Estado, é refletir e desenvolver ações práticas para, junto com a categoria, impedir a precarização de nossa profissão.

O próprio registro em carteira de trabalho tem sido minado pelas empresas, que criaram o paradoxo chamado “frila fixo”. A pejotização se espalha por todos os setores da categoria. Já sabemos, por experiência própria, que o profissional sem vínculo ganha bem menos, e, com frequência, cumpre longas jornadas – com as consequências óbvias, como estresse, adoecimento e péssima qualidade de vida. Por esta razão, desde o primeiro momento este Sindicato aderiu à campanha contra o PL 4330, que generaliza a terceirização, e se anuncia como tragédia para a classe trabalhadora brasileira caso seja adotado. Em nossa ação incessante contra este estado de coisas, podemos nos orgulhar de ter obrigado a editora Abril, em 2013, a contratar 120 frilas fixos, e, há duas semanas, em um ano repleto de demissões, ter obrigado o portal UOL a registrar em carteira 87 jornalistas que lá trabalhavam sem vínculo. Grande vitória do Sindicato e da categoria!

 

NUM cenário de transformações, nosso Sindicato está chamado a ser um organizador de debates amplos, plurais e qualificados que nos capacitem a uma atuação relevante no presente e que preparem um futuro melhor para a categoria em seus diversos segmentos: jornais, revistas, rádio, televisão, internet, assessorias de comunicação. Planejamos reforçar nossa presença em todo o estado: capital, grande São Paulo, litoral, interior.

Queremos dar conta de todos os aspectos da atividade profissional, incorporando jornalistas de texto – repórteres, redatores, revisores, editores – e de imagem – repórteres fotográficos e cinematográficos (atividade na qual contamos com a organização específica da Arfoc), e também diagramadores e ilustradores. Hoje, essas funções, descritas em nossa regulamentação profissional, assumem nomes como designer, web designer ou infografista, sem mudar a essência: somos os profissionais que trabalham com a informação jornalística e que se aplicam para levá-la ao leitor da melhor forma possível.

Nossa ação sindical se preocupa também com os aposentados, em conjunto com a Ajaesp, a Associação dos Jornalistas Veteranos. Afinal, as gerações na ativa devem proporcionar, com seu trabalho, condições dignas de vida para os que nos precederam. Sabemos que o capital quer transformar a aposentadoria em um negócio muito lucrativo, e o sucateamento da Previdência Pública equivale à abertura de um enorme mercado, às custas do futuro de cada um de nós. Temos um firme compromisso com a construção de um sistema de saúde público, gratuito e de boa qualidade, bem como com a defesa de uma aposentadoria digna para cada trabalhador brasileiro.

 

O SINDICATO dos Jornalistas tem uma característica particular: representa um segmento que a lei trabalhista classifica como “categoria diferenciada”. Isso significa que, mesmo numa empresa de outro setor, os jornalistas têm o direito de serem representados por seu Sindicato. Ao mesmo tempo, nossa categoria não tem uma ordem profissional, como advogados ou arquitetos. Por isso, nosso Sindicato assume também o lugar de uma entidade profissional dos jornalistas, papel que ele valoriza.

Defendemos a regulamentação profissional com base no diploma de nível superior. O Supremo Tribunal Federal derrubou essa exigência em 2010, aludindo à liberdade de expressão. O argumento é falso. Sabemos que não há, para o profissional, liberdade plena de expressão em um jornal que pertence a uma empresa privada. Portanto, fazem parte das demandas sindicais cláusulas que garantam ao máximo essa liberdade, como a cláusula de consciência, à qual os patrões sempre se opuseram.

A questão do diploma diz respeito única e exclusivamente às relações de trabalho – e não à liberdade de qualquer pessoa se expressar eventualmente em um órgão de imprensa. É nosso direito e interesse, em nome do bom jornalismo, garantir que o acesso à profissão exija nível superior. Apoiamos as duas PECs relativas ao assunto que tramitam no Congresso Nacional neste momento, e não arredaremos pé até recuperar nossa regulamentação. Nesta batalha, cerramos fileira com nossa federação nacional, a Fenaj, com a qual nos organizamos em comum com todos os sindicatos brasileiros.

Como Sindicato, também estamos todo o tempo vigilantes para defender os jornalistas no exercício de sua profissão, seja contra a violência – policial ou não –, seja contra arbitrariedades na forma de ações judiciais ou penas inaceitáveis para profissionais da informação.

No terreno da informação, nos guiamos pela defesa da democratização dos meios de comunicação. A extrema concentração da propriedade dos grandes veículos de comunicação nas mãos de meia dúzia de famílias conspira contra a democracia e contra a possibilidade de exercício do bom jornalismo. Como profissionais da área, sabemos que a diversidade favorece a ampliação do mercado de trabalho e a circulação de informações na sociedade. Ao mesmo tempo, também interessa profundamente à nação brasileira o crescimento e o fortalecimento da comunicação pública. Em nossa base, temos os exemplos da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), da Rádio e TV Cultura e da Imesp (Imprensa Oficial do Estado), para as quais defendemos verbas públicas, concursos para o preenchimento de vagas e a ampliação dos quadros e planos de carreira, dando segurança e estímulo ao seu corpo de funcionários.

 

VIVEMOS um difícil momento político no país. Temos um governo democraticamente eleito, em 2014, que, contrariando seus compromissos de campanha, decidiu nomear um representante dos bancos como ministro da Fazenda. Junto com a CUT, nos opomos ao Plano Levy e ao recente Pacote do governo federal, que joga o país na recessão e despeja nas costas dos trabalhadores brasileiros o custo por uma crise que não foi criada por eles.

Ocorre que, aqui, temos um Sindicato independente de governos e partidos, cujo fundamento é a defesa intransigente dos direitos trabalhistas. São os princípios da liberdade e autonomia sindicais que compartilhamos com a CUT, central sindical da qual nosso Sindicato participa desde a fundação, em 1983. Com a CUT, já fomos para a rua neste ano contra os planos de ajuste e os projetos contra os trabalhadores, e com ela voltaremos às ruas tantas vezes quantas forem necessárias. Desde já, chamamos todas e todos a estarem presentes nas manifestações do Dia Nacional de Lutas de 3 de outubro próximo, convocadas pela CUT e pela Frente Brasil Popular.

Ao mesmo tempo, nestes 40 anos da morte de Vladimir Herzog, já lembrados aqui pela companheira Rose Nogueira, reafirmamos que nosso compromisso com a democracia é inquebrantável. Não aceitamos golpismos, não aceitamos casuísmos, não aceitamos retrocessos.

Exigimos, isto sim, um caminho para que o nosso país retorne ao crescimento, com a redução dos juros, o aumento nos salários, a preservação de empregos, a taxação das grandes fortunas e da remessa de divisas, o combate aos bilhões de sonegação de impostos, o fortalecimento das empresas estatais – como a Petrobras –, e o investimento nos serviços públicos. Queremos que todos os corruptos sejam punidos – todos mesmo, sem viés partidário ou de classe –, apoiamos o fim do financiamento privado para as campanhas eleitorais, e consideramos que a resposta para a grave crise institucional é uma Constituinte exclusiva para que, democrática e soberanamente, a palavra seja dada ao povo, como protagonista da necessária reforma política.

Desenvolvemos nos últimos anos uma Comissão da Verdade em nosso Sindicato, para apurar os crimes da ditadura que envolvem jornalistas, e vamos lançar em breve seu relatório. Mas o trabalho vai continuar. Só descansaremos com a apuração e a punição dos criminosos da ditadura, pois seus crimes são imprescritíveis, e constituem uma mancha na história brasileira.

AO FINAL de meses de batalha, chegamos aqui e hoje à posse.

Este é um Sindicato democrático. Em nosso cotidiano sindical, estamos sempre pelo diálogo com todos os jornalistas e nos opomos à lógica do enfrentamento interno permanente, que só favorece as empresas e enfraquece a unidade de ação em favor dos jornalistas.

Este é um Sindicato aberto, que incorpora todos os jornalistas dispostos no trabalho coletivo, como fazemos com a Comissão de Assessoria de Imprensa, com a Cojira (Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial) e com a Comissão de Ética. Pretendemos, nesta gestão, fortalecer essas comissões e criar outras, segundo os interesses dos próprios sindicalizados.

 

A CHAPA 1, Unidade e Luta, que agora toma posse, expressa a nossa categoria e a realidade de suas lutas. Somos 87 integrantes. As mulheres, maioria hoje na categoria, são a maioria de nossa Executiva e 30 companheiras no total da chapa. Somos 23 jornalistas da capital, 7 da Grande São Paulo, 10 do litoral e 47 do interior paulista. Nossos diretores atuam em jornais e revistas, rádio, TV, internet e assessorias de comunicação; com texto, imagens e arte.

E se a Chapa 1 é de continuidade, também é de renovação: 33 integrantes, 38% de nossa chapa, são companheiras e companheiros que entram para começar agora sua atividade de dirigentes sindicais.

 

INICIAMOS aqui e agora nosso mandato de três anos à frente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Vamos nos dedicar de corpo e alma a honrar as tradições deste Sindicato e a corresponder à confiança da categoria depositada nas urnas, no bojo da luta dos trabalhadores por um mundo com igualdade e Justiça para todos.

Muito obrigado.

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