Começando este mês especial para a categoria, na noite de 2 de abril o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) promoveu um envolvente debate sobre os desafios enfrentados pela profissão em um cenário marcado pelas pressões do neoliberalismo e pela existência de uma persistente “crise ética” no jornalismo contemporâneo. O debate foi gravado e está disponível no canal do SJSP no YouTube.
Intitulado “Vale tudo no jornalismo?”, o evento discutiu, em especial, dois casos recentes e notórios, que suscitaram acusações de má conduta profissional, conflitos de interesses e desvios éticos: o desligamento de Rodrigo Boccardi da TV Globo e a “press trip” que levou a Israel, concomitantemente ao genocídio cometido por este país na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, um grupo de jornalistas do Grupo Globo e do Grupo Estadão.
Os debatedores foram três experientes jornalistas: Maria Inês Nassif, que cobriu as áreas de política e economia para os principais jornais brasileiros e foi professora da Faculdade de Comunicação Casper Líbero; Eliane Gonçalves, editora e repórter na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e ex-integrante da Comissão de Ética do SJSP; e Renato Levi, professor de documentário e telejornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) e do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Atuou como mediador o presidente do SJSP, Thiago Tanji.

O debate levantou questões importantes a preservar a identidade do jornalista, especialmente no que se refere a comprometer sua ética. A jornalista e professora, Maria Inês Nassif cita que seu nome é seu patrimônio. “E acho que uma coisa que pode ser muito produtiva é a gente levar para a teoria essa discussão do meu nome. Eu acho isso muito importante. Não existe essa consciência de que o nome é uma coisa privada. Eu acho que a empresa não pode se apossar do meu nome e dar linha à formação ética.”
Eliane Gonçalves comentou que as empresas de mídia não devem ser capazes de manipular o nome e a ética do jornalista para servir aos seus próprios interesses comerciais e políticos. “Eu acho que a empresa não pode se apossar do meu nome e dar linha à formação ética. Ela não pode se apossar e não pode me obrigar a renunciar a ele em função dos seus níveis comerciais e políticos.”

Durante o debate, os jornalistas discutiram o impacto das mídias sociais na prática jornalística. Eliane Gonçalves destacou que as redes sociais, embora tenham democratizado o acesso à informação, também contribuíram para o crescimento de um jornalismo superficial e voltado ao sensacionalismo. “As mídias sociais muitas vezes priorizam o entretenimento e a polêmica em detrimento da busca pela verdade. Isso gera um ambiente onde os jornalistas são constantemente pressionados a atender demandas que vão contra os princípios éticos da profissão”, afirmou Gonçalves.
A jornalista Maria Inês Nassif complementou, alertando sobre o conflito de interesses enfrentado pelas empresas de comunicação, que buscam maximizar lucros. “Os jornalistas se veem obrigados a abrir mão da sua independência e de seus princípios em nome da sobrevivência das empresas para as quais trabalham”, afirmou. Segundo ela, essa dinâmica tem levado muitos profissionais a se afastarem dos fundamentos éticos do jornalismo.

Os participantes do debate enfatizaram a necessidade de um jornalismo mais transparente. Renatodefendeu que, assim como no cinema-verdade, o jornalismo deve ser claro sobre a origem das informações e o processo de apuração.
Em um dos momentos mais emocionantes do debate, Eliane Gonçalves mencionou a recente morte do jornalista Hossam Shabat, que foi morto enquanto documentava a guerra em Gaza. “Shabat dedicou sua vida a mostrar ao mundo a realidade do seu povo e a documentar os abusos cometidos. Sua morte é um reflexo do risco diário enfrentado pelos jornalistas comprometidos com a verdade”, disse Gonçalves.

Outro ponto levantado sobre a guerra em Gaza, foi a importância de falar sobre o número de mortos que cresce exponencialmente, inclusive de jornalistas. “Eu acho que toda vez que falamos sobre a guerra em Gaza, a gente tem que falar quantos morreram. São quase 200 jornalistas mortos dentro de Gaza. Hoje a Palestina é o lugar mais perigoso para jornalistas.” Destacou o jornalista e documentarista, Renato Levi.
