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Debate sobre livro da jornalista Jan Rocha, nesta quinta (9/11), abordará trabalho de correspondentes durante a Ditadura Militar (1964-1985)

“Nossa correspondente informa” é uma coletânea de reportagens da jornalista inglesa, que a partir de 1973 foi correspondente, no Brasil, da Rádio BBC, emissora estatal do Reino Unido. Relançamento do livro ocorrerá na próxima quinta-feira 9 de novembro, às 20 horas, no Auditório Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas (Rua Rêgo Freitas 530, sobreloja), contando com a participação da autora e do professor João Roberto Martins Filho, da UFSCar, como debatedor especialmente convidado
Redação - SJSP

“Nas páginas deste livro, encontram-se muitas das histórias censuradas na imprensa brasileira pela ditadura militar. São despachos de Jan Rocha que informavam o mundo, através da BBC, sobre o que estava acontecendo no Brasil, mas também ajudavam a informar os brasileiros através do serviço em português da ‘estação de rádio mundial’. A leitura desses despachos nos transporta para uma era obscurantista do país, onde a prática da tortura e até o assassinato de presos políticos se tornaram uma política de estado”.

O prefácio do jornalista Rosental Alves para o livro Nossa correspondente informa (Alameda, 2021), de autoria da jornalista inglesa Jan Rocha, apresenta logo de início essa síntese notável da importância da obra e das questões que ela envolve no tocante ao jornalismo e à nossa categoria profissional. “Os despachos também nos mostram a ação de brasileiros que resistiam à tirania. Uns na oposição permitida e controlada na política bipartidária imposta pela ditadura, outros na sociedade civil organizada, outros na clandestinidade”, acrescenta Rosental. 

Nossa correspondente informa foi impresso e lançado durante a pandemia de Covid-19, em outubro de 2021. Posteriormente, uma live com Jan sobre o livro, organizada pelo SJSP em abril de 2022, falhou por problemas de conexão. O debate desta quinta-feira, 9 de novembro, foi agendado depois de compromissos da autora no exterior. É uma excelente oportunidade para que jornalistas e estudantes de jornalismo debatam uma série de questões relacionadas às duras condições de trabalho dos “trabalhadores da notícia” durante a Ditadura Militar (1964-1985). Uma contribuição importante caberá ao professor João Roberto Martins Filho, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que é um dos principais estudiosos brasileiros desse período, com vários livros publicados a respeito.

Outra questão de interesse no debate é o papel histórico e atual da British Broadcasting Corporation (BBC). Por décadas, a emissora pública foi referência mundial em jornalismo de alta qualidade, e considerada independente em relação ao governo britânico. Mais recentemente, porém, a BBC vem sendo contestada até por seus próprios jornalistas no tocante à cobertura do genocídio em curso na Faixa de Gaza. Os profissionais criticam o noticiário da emissora, a seu ver fortemente enviesado em favor de Israel e em detrimento dos palestinos.


Jan chegou ao Brasil em 1964 como voluntária da United Nations Association (UNA), trabalhando em projetos sociais no Rio de Janeiro e na Amazônia. Em 1973 tornou-se a primeira correspondente do serviço mundial da BBC no Brasil. A partir de 1984, tornou-se também correspondente do jornal inglês The Guardian.

Nos anos 1990, além de produzir matérias para a Rádio BBC e The Guardian, Jan produziu documentários de TV para a BBC e outras emissoras da Inglaterra, no Brasil, Bolívia, Argentina, Chile e Equador. Em 2001, coordenou uma pesquisa sobre trabalho escravo no Brasil para a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em 2014 fez parte da equipe de consultores da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Atualmente tem um blogue no site do Latin America Bureau (LAB), onde escreve principalmente sobre política brasileira.

Jan é autora ou coautora de diversos outros livros, entre os quais Rompendo a Cerca, a História do MST (2004), que escreveu com Sue Branford, e Haximu: o massacre dos Yanomami e as suas consequências (2007, tradução atualizada de Murder in the Rainforest, de 1999), ambos pela Casa Amarela. Recebeu duas vezes o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos: em 1980, por uma reportagem de rádio sobre os mineiros bolivianos que resistiram ao golpe militar; e em 2004, pelo livro Rompendo a Cerca, a História do MST.

Em abril último, Jan esteve em Londres para lançar uma versão em inglês de sua obra A Solidariedade Não Tem Fronteiras (Expressão Popular, 2018), que relata a atividade do grupo Clamor, que acolheu refugiados das ditaduras sul-americanas e denunciou as atrocidades cometidas pelo “Plano Condor”. Publicado pelo LAB e pela Practical Action Publishing, o livro Clamor: the search for the disappeared of the South American dictatorship narra a história do grupo ecumênico de voluntários criado em São Paulo, apoiado pela Igreja Católica e pelo Conselho Mundial de Igrejas.

Jan foi uma das fundadoras do Clamor, ao lado do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, do pastor presbiteriano Jaime Wright e do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, entre outros. O grupo atuou de 1978 a 1991, lembra a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e foi um centro de resistência e ajuda a refugiados da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia, que buscavam proteção contra a violenta repressão política. “O Clamor foi uma luz de esperança e da força de um povo na sua luta pela defesa da vida e na reclamação da volta da democracia”, escreveu o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel (Prêmio Nobel da Paz em 1980).

Casada com um brasileiro, o advogado Plauto Tuyuty da Rocha, atualmente Jan mora em São Paulo.

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