O debate “A Responsabilidade dos Meios de Comunicação no Combate ao Racismo”, realizado na noite da última quinta-feira (20) pela Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/SP), no auditório do Sindicato, trouxe uma importante reflexão sobre o papel e a participação dos negros na mídia brasileira, ainda impregnada pelo racismo e pela incipiente abordagem da questão racial nos principais veículos de comunicação.
O evento, aberto pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), José Augusto Camargo, teve a participação da mediadora Juliana Gonçalves, da blogueira Charô Nunes, do grupo das Blogueiras Negras, pelo militante do movimento negro e blogueiro Douglas Belchior e pelo jornalista Luis Nassif.
Cena racista
Douglas Belchior, que pertence ao movimento negro UneAfro e que escreve na mídia social da revista Carta Capital lembrou o recente episódio de um jovem negro, menor de idade, que foi dominado por um grupo de motociclistas e preso completamente nu a um poste com cadeados para bicicletas, na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. “É uma cena racista”, diz ele. “Mas o enfoque da mídia jamais teve esta abordagem, mas sempre criminalizou o rapaz”, completou.
Este episódio causou tamanha polêmica que a apresentadora do SBT Brasil, Rachel Sheherazade, chegou a defender a ação racista. “Num país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos ‘vingadores’ é até compreensível”. Esta fala causou grande indignação, mas teve também vários apoios.
Já a blogueira Charô Nunes lembrou o episódio da mãe de família negra que foi assassinada e arrastada por uma viatura da Polícia Militar carioca. “Também na cobertura desta tragédia não se aborda que ela era uma mulher negra. Há um racismo institucional, mas também há o racismo policial. Na mídia policial, os negros não são tratados como cidadãos. O racismo nunca é conceituado”, analisa ela.
Luiz Nassif disse que a comunidade negra tem pleno direito à informação, até por que as TVs são concessões públicas. “Deve haver isonomia e pluralidade na mídia. Caso isso não ocorra, deve-se recorrer a advogados e ao Ministério Público para fazer cumprir o que consta na Constituição”, diz ele.
A Cojira/SP esteve representada, além da mediadora Juliana Gonçalves (redatora do Centro de Estudos das Relação de Trabalho e Desigualdade – CEERT) e pelos jornalistas Flávio Carrança e Osvaldo Faustino
Foto – Luis Nassif, Charô Nunes, Juliana Gonçalves, Douglas Belchior – SJSP