A direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) já definiu os primeiros componentes da Comissão da Verdade e Justiça dos Jornalistas paulistas escolhidos, sobretudo, pela excelência do perfil e pela história de lutas que cada um deles dedicou, não somente para a categoria, como também à conquista da democracia no Brasil.
A Comissão é composta por dois ex-presidentes do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e uma atual diretora, cujos nomes são incontestáveis na luta pela redemocratização do país: Audálio Dantas, Antônio Carlos Fon e Rose Nogueira.
A Comissão terá o apoio de um Grupo de Trabalho coordenado por dois outros diretores da atual gestão do SJSP: o secretário geral André Freire e o diretor da Regional de Campinas, Agildo Nogueira Junior. Outros jornalistas poderão se somar a este Grupo.
O SJSP, mantendo sua tradição de luta pela Democracia, pretende assim dar sua contribuição e, irmanado com outras entidades sindicais e da sociedade civil, ajudar na reconstituição da verdade histórica e na elucidação dos crimes cometidos em um passado recente, que ceifou a vida de milhares de brasileiros, entre eles os de 24 profissionais de imprensa. O lançamento oficial da Comissão da Verdade do SJSP ocorreu durante o XIV Congresso Estadual dos Jornalistas, realizado em setembro do ano passado, em Caraguatatuba, no litoral paulista.
A entidade, além de prestar homenagem aos jornalistas, assassinados pela ditadura militar, procura também atender a orientação da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, que com a criação da Comissão da Verdade e Justiça em nível nacional, sugeriu que a exemplo do que já vem sendo feito em assembleias legislativas, câmaras de vereadores e entidades de direitos humanos, também os sindicatos pudessem dar sua contribuição. “Os sindicatos têm que assumir a responsabilidade pelo seu passado”, disse Gilney Viana, coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria.
Os jornalistas foram fundamentais para o processo de redemocratização do país e vários deles, se não foram assassinados, foram torturados nos porões da ditadura. Centenas deles foram encarcerados por desafiar o regime de intolerância que os militares submeteram o país e tantos outros perderam seus empregos e alguns, a vida.
O jornalista Vladimir Herzog, cuja morte inaugurou nova etapa da luta pela cidadania, pelos direitos humanos e pela abertura democrática no Brasil se transformou em símbolo da resistência da sociedade civil contra o arbítrio. É em homenagem a ele e a outros 23 colegas de profissão assassinados que se forma a Comissão da Verdade e Justiça do SJSP que pretende, também, esclarecer casos de violação à liberdade de imprensa, de opinião, de atividade sindical e de censura pelos quais passaram os jornalistas.
Leia abaixo um pequeno perfil dos componentes da Comissão
Audálio Dantas é ex-presidente do SJSP e da Fenaj. Esteve à frente da entidade por ocasião do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, articulando os protestos que denunciaram a farsa do suícidio no Doi-Codi montada pelos militares.Atuou nas principais publicações do país, como Folha de S.Paulo, revistas O Cruzeiro, Quatro Rodas, Manchete e Realidade. Tem vários livros publicados.
Tornou-se deputado federal em 1978 e recebeu na ONU, em 1982, prêmio por sua atuação em defesa dos Direitos Humanos.Foi presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e do Conselho Curador da Fundação Cásper Libero, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa e conselheiro da UBE – União Brasileira de Escritores.
Rose Nogueira é jornalista, membro do Conselho de Diretores do SJSP e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Rose foi presa em 1969. Ficou detida no DOPS onde foi torturada. Transferida para o presídio Tiradentes, virou companheira de cela da presidenta Dilma Rousseff.
Iniciou a carreira no DCI e fez parte da equipe de Vladimir Herzog na TV Cultura. Foi diretora do programa TV Mulher, da Rede Globo e assessora de do senador Eduardo Suplicy (PT/SP). Tem passagens ainda pela TV Brasil.
Por sua atuação na luta pelos Direitos Humanos, Rose foi condecorada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e recebeu o Título de Cidadã Paulistana da Câmara Municipal de São Paulo.
Antonio Carlos Fon foi presidente do SJSP (1991-1994) e membro da Junta Governativa da entidade em 1991. Combateu a ditadura na Aliança Libertadora Nacional (ALN) e acabou preso em 1979. Foi torturado e processado na Lei de Segurança Nacional. Ficou preso na Oban (Operação Bandeirantes), no DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) e Presídio Tiradentes.
Escreveu para a revista Veja a reportagem intitulada “Descendo aos porões”, uma das primeiras a abordar os cárceres da repressão. Ganhou quatro prêmios Vladimir Herzog e outros quatro prêmios Esso.
Fon trabalhou no jornal O Dia, Diário Popular, Jornal da Tarde, revista Realidade, Veja, Visão, Quatro Rodas e Istoé.
Fenaj também cria Comissão da Verdade Memória e Justiça
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também criou sua Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas, que foi instalada durante o Seminário Internacional de Direitos Humanos e Jornalismo, ocorrido nos dias 18 e 19 de janeiro de 2013, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
O objetivo da Comissão é registrar os casos de jornalistas mortos e desaparecidos e também dos que foram perseguidos, ameaçados, indiciados em processos, condenados, exilados, presos e torturados na ditadura militar.
Dois membros são de São Paulo
Aprovada no 35º Congresso Nacional dos Jornalistas, realizado em Rio Branco, no Acre, a Comissão Nacional da Verdade da categoria é composta pelos jornalistas Audálio Dantas (SP), Nilmário Miranda (MG), Rose Nogueira (SP), Carlos Alberto Caó (RJ) e Sérgio Murillo de Andrade (SC), que vai coordenar a comissão.
Ao final dos trabalho, a comissão deve produzir uma publicação especial e encaminhar o resultado à Comissão Nacional da Verdade (CNV) até agosto de 2014.
Foto: Roberto Claro, André Freire e Roberto Claro respectivamente.