No dia 26 de junho, Patrícia Abravanel, filha do empresário de comunicação e apresentador Silvio Santos, usou o tempo de que dispõe no programa do pai para destilar preconceito e demonstrar sua arrogante ignorância sobre os países africanos e os povos que neles habitam. A herdeira de uma dos maiores grupos de comunicação do Brasil comparou a África com os Estados Unidos, tratando o continente como se fosse um país, mas não parou aí. Disse ainda que a miséria do continente não se deve aos séculos de exploração europeia mas sim ao “misticismo” do povo.
Para Patrícia, “Países muito místicos muitas vezes têm consequências. O povo deixa de trabalhar. Países mais racionais, que têm uma fé em Deus, mas que acredita no esforço, no suor, no trabalho. Em se portar, em ter um casamento e ter que cuidar dele”.
São declarações que, além de revelarem a ignorância e o preconceito de quem as fez, reforçam estereótipos que contribuem em muito para a marginalização dos países de continente africano e dos povos – mulheres e homens – que neles habitam, têm também reflexos negativos para os milhões de afrodescendentes brasileiros. É inaceitável que qualquer pessoa utilize espaço de um veículo de comunicação, que é concessão pública, para divulgar e defender valores tão nefastos.
É imensa a responsabilidade dos meios de comunicação e dos comunicadores na desconstrução de estereótipos negativos, condição necessária para um efetivo combate ao racismo, ao preconceito contra africanos e afrodescendentes. Por conta disso, as entidades listadas abaixo vêm a público exigir que – após buscar informações corretas sobre o histórico de luta e resistência dos povos africanos, incluindo a relação que mantém com sua ancestralidade e ocupando mesmo espaço e faixa horária – a emissora se retrate publicamente das ofensas proferidas por Patrícia Abravanel, episódio que pode também servir de estímulo para que passe a produzir e veicular reportagens de cunho informativo e com abordagem objetiva sobre o CONTINENTE africano e suas relações históricas e atuais com o Brasil.
São Paulo 1 de julho de 2016
Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira SP) do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Núcleo de Jornalistas Afrobrasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul
Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas (Cojira-AL) do Sindicato de Jornalistas Profissionais de Alagoas
Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF) do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal
Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio) do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro
Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conajira) da Federação Nacional de Jornalistas