Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Logo da Federação Internacional de Jornalistas
Logo da Central Única dos Trabalhadores
Logo da Federação Nacional de Jornalistas

Cojira: “Falta informação sobre a África no Brasil

Cojira: "Falta informação sobre a África no Brasil


O ponto principal do debate entre o jornalista e ex-ministro Chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins e o professor Acácio Almeida, presidente do Conselho Deliberativo da Casa das Áfricas, na última sexta (23), no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, foi a falta de informação sobre o continente africano no Brasil. Organizado pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) o evento marcou o Dia da África, comemorado em 25 de maio.

Antes do debate, foi exibido um trecho de um dos treze programas da série “Presidentes Africanos”, em que Franklin Martins entrevistou 13 presidentes do continente. O jornalista afirma que produziu a série após perceber que falta informação no Brasil sobre a África e constata que a maior parte dela é divulgada pelos Estados Unidos e Europa. “Isso está melhorando, mas o déficit é brutal. Estamos mais perto do Japão do que da África, já que temos mais informação do país asiático. Me incomoda muito essa distância”, diz.

Ele afirma que nos últimos 15 anos o continente passou por processo de pacificação e chegada da democracia. “Em 2012, 23 países realizaram eleições”, ressalta. Franklin compara o processo com o período de ditaduras pelo qual a América Latina passou, há 30 anos. “A África está saindo de décadas perdidas”, considera.

O jornalista tentou ainda desmistificar outra imagem do continente afirmando que 1 bilhão de africanos vivem em situação de paz. “Em região de conflitos vivem apenas 100 mil pessoas, a maioria na região do Sahel, a mais pobre, que representa o encontro entre a África cristã e a islâmica”, detalha. Entre os países que ainda têm Estado considerado “fraco”, o ex-ministro cita o Congo, lembrando que a região abriga riquezas que atraem disputas de grupos divergentes.

Franklin Martins acredita ainda que a elite brasileira lida mal com escravidão e acha que isso contribui para o desconhecimento sobre o continente africano. “A escravidão como base legal ficou para trás, mas o Brasil foi o último do continente a acabar com a escravidão, não deu terras para o escravos. Isso não é a toa”, diz.

Movimento negro. Já o professor Acácio ressaltou que, apesar do afastamento da elite em relação à África, o movimento negro sempre discutiu o continente e criou uma comunidade de valores. “O nosso papel é manter a África presente. Há uma forma mítica, idealizada, mas é uma comunidade de valores. O movimento tem um papel importante de ver outra África”, considera.

Ele lembra que o Dia da África está “pipocando” em vários lugares e que o Brasil vive na esteira do ressurgimento do continente. Sobre os anos perdidos dos países africanos, o professor lembra que a Costa do Marfim, por exemplo, vive crescimento vertiginoso, comparado ao dos tigres asiáticos, mas que tem origem em uma monocultura de commoditiies. “Tem uma política externa que gerou endividamente. Isso acontece em outros países também”, reforça.

Acácio cobra ainda que o Ministério Público “saia da letargia” para fazer com que a lei 10.639, que tornouobrigatório o ensino da História da Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica, seja cumprida. “Há o crescimento da literatura africana, mas não só de um autor, não só do Mia Couto”, critica.

Série – Nos treze programas da série “Presidentes Africanos”, de Franklin Martins, são entrevistados os presidentes da África do Sul, Angola, Cabo Verde, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Egito, Etiópia, Gana, Moçambique, Nigéria, Senegal, Tanzânia e Tunísia. O programa ressalta a África como berço da humanidade, onde foram encontrados os primeiros ancestrais humanos. O texto dos vídeos lembra que o continente foi marcado por três grandes flagelos: escravidão, colonialismo e disputa da guerra fria. O continente possui 55 países e cresceu cerca de 5% nos últimos anos, ante 1,5% da Europa e 2% dos Estados Unidos. A classe média do continente chega a 300 milhões de pessoas, a mesma quantidade da Índia.

Franklin lembra que dos 13 programas, apenas seis foram exibidos pela TV Bandeirantes e a 1h do sábado. “[A TV aberta] não tá interessada em discutir África. Acreditam que o continente é um incidente e não veem como o principal responsável pela colonização do Brasil”, diz, lembrando que o Brasil foi o maior recebedor de escravos africanos e que a maior parte veio do Congo e da Angola. “Ainda é impossível dizer de onde os brasileiros negros descendem, mas é preciso avançar nisso”, defende.

O jornalista diz que o Brasil tem histórias mais contundentes e emocionantes do que a história do filme norte-americano “Doze Anos de Escravidão”, ganhador do melhor filme no Oscar 2014. “A história do Luiz Gama, que era livre e foi vendido pelo próprio pai. “Isso dá uma série, um filme, porque nunca foi produzido aqui”, questiona. Mesmo assim, Franklin se demonstra otimista e lembra que aos poucos a história sobre a África vai sendo inserida na pauta da sociedade. “Entrou no currículo das escolas. Hoje tem mais gente viajando para a África e há empresários que vão investir no continente sem precisar do governo”, diz.

Brasil na África – De acordo com Franklin Martins, o Brasil tem um coeficiente alto de simpatia pelos africanos. “É um capital intangível muito forte. Somos o irmão do outro lado do oceano, como uma Atlântida, que é ligada emocionalmente, mas está do outro lado. Nos veem como um irmão mais velho, que deu certo”, diz.

Dessa forma, o Brasil é visto, segundo Franklin, com expectativa de parcerias. “O Brasil saiu da fase que era recebedor e passa a ser doador, mas não financiamos projetos na África, assim como também não financiamos projetos na América Latina”, diz. Ele lembra ainda que o BNDES tem escritório na África do Sul e que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) possui escritório em Gana. “Precisamos avançar mais. Não podemos ficar tanto tempo sem embaixador em países, como Congo e Nigéria, o que já ocorreu”, diz.

Para ele, o grande potencial de investimento do Brasil no continente é a segurança alimentar, energia hidrelétrica e logística . “São áreas que precisam de cooperação e o Brasil pode ajudar”, acredita. Ele ressalta que o Congo é um país estratégico, neste sentido, já que está no meio do continente e possui o maior potencial hidrelétrico.

Já Acácio Almeida acredita que o Brasil precisa ajudar a construir uma agenda de desenvolvimento da África que não seja pautada apenas pelo agronegócio e pelo Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sem foco no social. “O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não significa melhora do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) “, ressalta.

Ele lembra que a Colômbia se organiza para fazer parte da União Africana e que o Haiti articula para ser reconhecido como estado africano. No caso do Brasil, Acácio acredita que a Agência Brasileira de Cooperação deveria fazer um mapeamento das necessidades do continente para criar agenda estratégica. “Precisa fazer cooperação e não ajuda. Angola, por exemplo, precisa de aluno que venha para cá estudar engenharia de petróleo e não português”, exemplifica.

Dia da África – Além do debate entre Franklin e Acácio, a data também foi lembrada no última dia 17 de maio, sábado, quando foi exibido no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, o documentário “Presidentes Africanos”, criado e apresentado por Franklin Martins. A atividade fez parte do CineClube Afro Sembene, que conta com parceria da Cojira e ocorre todo terceiro sábado de cada mês, exibindo filmes africanos.

 

Guilherme Soares Dias – membro da COJIRA

veja também

relacionadas

mais lidas

Pular para o conteúdo