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Boris Casoy passado a limpo

Boris Casoy passado a limpo


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Jornalista contou  à Comissão da Verdade dos Jornalistas e ao jornal Unidade o que vivenciou durante o regime militar na direção da Folha de S. Paulo

No dia 26 de julho de 2014, Boris Casoy entregou um documento com respostas às perguntas formuladas pela Comissão da Verdade dos Jornalistas. O questionário foi enviado no início do ano na emissora em que o jornalista exerce atualmente suas atividades profissionais, a TV Bandeirantes, mas ele alega que “a demora em responder deveu-se a um lamentável extravio de correspondência”.

Evasivo em suas respostas, Casoy é um jornalista polêmico, mas nunca escondeu de que lado estava (ou está). Criador dos famosos bordões jornalísticos “Isso é uma vergonha” ou “É preciso passar o Brasil a limpo”, passou grande parte de sua carreira tendo que desmentir uma pecha que lhe foi imputada de ter supostamente participado na juventude do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Nas respostas à Comissão da Verdade, se colocou como um profissional que cumpria rigidamente as ordens do patrão, Octavio Frias de Oliveira, o dono do jornal Folha de S. Paulo.
 
Foi exatamente na Folha que Boris viveu uma das suas principais polêmicas – a de ter assumido o cargo de diretor de redação para supostamente acalmar os militares que ameaçavam fechar o jornal, usando como pretexto uma crônica de Lourenço Diaféria,”Herói. Morto. Nós”. Em sua publicação comemorativa de 80 anos, a própria Folha descreve o episódio, que culminou com a saída do então diretor de redação, Cláudio Abramo e a contratação de Boris Casoy: 
 
“Para impedir o fechamento do jornal, Octavio Frias de Oliveira decidiu pela mudança. “Chamei o Cláudio e disse: ‘A pressão é toda sobre você. Posso fazer um gesto bonito e afundamos todos’.” Abramo deixou a direção de redação. O primeiro escolhido para substituí-lo foi Alexandre Gambirasio, mas a nacionalidade italiana o impediu. O segundo nome foi o de Boris Casoy, que passava férias em Araxá (MG). Num avião alugado, ele voltou às pressas para São Paulo. Boris apoiara o movimento de 1964 e tinha bom relacionamento com a área militar”. Veja como Boris respondeu às perguntas feitas a ele.

Peguntado pelos membros da Comissão da Verdade dos Jornalistas se naquela época ele, como diretor de redação da Folha de S. Paulo, havia enfrentado alguma situação de afronta à liberdade de opinião – por ação direta ou indireta do governo, Boris  reconheceu que existia censura no jornal mas que era uma situação que ele já havia encontrado quando assumiu a direção de redação. “Aceitar essa imposição do regime foi uma decisão da empresa”, justifica.
 
Serviço de censura – A Comissão quis saber ainda se Boris tinha conhecimento de que outros jornais do Grupo Folha (Folha de S.Paulo, Folha da Tarde, Última Hora e Notícias Populares) tinham sofrido algum tipo de censura. A que ele respondeu:
“Sim. O serviço de censura transmitia suas proibições via telefone. Esses comunicados eram anotados e distribuídos por todas as redações do grupo”, revelou ele.
Vidas em risco – Boris disse ainda que não havia como reagir às restrições editoriais impostas pelos militares, pois caso não cumprisse o exigido, colocaria em risco a vida dos profissionais e da própria existência do jornal.
“Não havia possibilidade de publicar matérias sobre os assuntos proibidos pela censura. Seria colocar em risco as pessoas e o jornal. A decisão da empresa era respeitar as regras impostas”
 
Epidemia de dengue – Segundo Boris Casoy, entre as matérias que os militares não queriam que  fossem veiculadas  estava a que se referia a uma epidemia de dengue em São Paulo.
“Não havia matérias específicas submetidas à censura. Havia, sim, temas e assuntos proibidos. Lembro-me, por exemplo, da proibição de mencionar a epidemia de meningite em São Paulo”, relembra.
Driblar a censura – Boris reconhece que em momento algum a Folha de S. Paulo fez qualquer esforço para tentar driblar a censura ou que tenha traçado estratégias para impedir que ela vetasse alguma notícia ou tema. “Não havia estratégias para driblar a censura”, reconhece.
 
Imposição – Perguntado se, caso não tenha havido censura governamental, se a Folha de S. Paulo não havia agido com extrema prudência ou se autocensurado, Boris respondeu:
“Não se tratava de prudência. Havia imposição”, pondera.
Censura prévia – A Comissão da Verdade perguntou por que a revista Veja e os diários O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde haviam sofrido censura prévia  durante a ditadura militar e a Folha de S. Paulo, não. Boris creditou isso ao fato dessas publicações não terem se submetido à autocensura.
“Veja e O Estado de S. Paulo foram das poucas exceções na imprensa brasileira (a sofrer censura prévia). Ao decidir contra a autocensura, foram obrigados a receber censores na redação”, analisou Boris
 
Folha da Tarde – Boris respondeu desconhcer que um dos jornais do Grupo Folha, a Folha da Tarde, foi apontada por ex-presos políticos como alinhado ao regime militar e que entre os seus dirigentes haviam policiais.
Ele também disse desconhecer que a Folha da Tarde havia dado como manchete a morte do o ex-preso político, Joaquim Seixas,  um dia antes de ele ter sido assassinado nas dependências do DOI-Codi.
 
Carros da Folha – Os membros da Comissão da Verdade perguntaram ainda à Boris Casoy se ele tinha conhecimento de que os veículos da Folha tinham sido usados para apoio a ações de policiais ligados à repressão política, como foi denunciado.
“Esses fatos teriam ocorrido antes de eu trabalhar na Folha. Todas as vezes que conversei com diretores a esse respeito, eles garantiam desconhecimento do uso de veículos da empresa em operações desse tipo”.
CCC – Boris não se furtou a responder a pergunta que lhe persegue em sua trajetória de jornalista: de supostamente ter participado do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
 
“Não posso responder a rumores. Trata-se de informação caluniosa publicada pela extinta revista “O Cruzeiro”. Ao contrário, em minha vida acadêmica sempre fui contra tal organização”.
Jornalistas presos – Por fim, Boris disse que desconhecia o fato de os jornalistas Rose Nogueira, Sergio Gomes e Vilma Amaro terem sido demitidos pelo Grupo Folha  – respectivamente da Folha da Tarde, Agência Folha e Última Hora, enquanto estavam presos.

A trajetória de Boris, por ele mesmo

Iniciei minha vida profissional, em 1953, na Rádio Piratininga de S. Paulo , na área de esportes. Em seguida, trabalhei nas rádios Santo Amaro, Panamericana e Eldorado. Fui assessor de imprensa dos secretários de Agricultura Herbert Levy e Antonio Rodrigues Filho e do ministro da Agricultura Luiz Fernando Cirne Lima. Depois, fui nomeado secretário de Imprensa do prefeito de São Paulo José Carlos de Figueiredo Ferraz. Após rápida passagem pela Alcântara Machado Exposições, passei a trabalhar na Folha de S. Paulo. Exerci as funções de editor de política e em seguida editor chefe (1974-1976). Pedi demissão e depois de um curto período na Fundação Álvares Penteado, fui convidado a retornar à Folha de S. Paulo, quando exerci as funções de editor da coluna Painel. Em setembro de 1977 assumi novamente a direção da redação como editor-responsável. Em 1984 voltei a editar a coluna Painel. Em 1988, a convite do SBT, fui apresentar um telejornal naquela emissora. Em seguida fiz o mesmo na Rede Record e na TV JB e agora na TV Bandeirantes.

Foto: Divulgação TV Bandeirantes

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