Para as Comissões do SJSP e da Câmara Municipal a repressão continuou nos anos 80, após a queda da censura
Nesta terça-feira, dia 22, a Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (CVSJSP) e a Comissão Municipal da Verdade (CMV) Vladimir Herzog realizaram audiência conjunta que apurou os relatos de profissionais que sofreram com os atentados à bancas de revistas e apreensão de publicações, no início dos anos 80. Entre eles foram ouvidos jornalistas e jornaleiros que viveram a truculência da época. A ex-diretora do SJSP, Lia Ribeiro Dias, e a atual diretora do Regional ABC, Vilma Amaro e, o ex-presidente, Davi Moraes, depuseram suas experiências no período.
SJSP – Na avaliação do presidente do SJSP, José Augusto Camargo, o objetivo era calar os jornais alternativos, pois neles haviam espaços de denúncia contra o regime militar uma vez que a censura prévia havia terminado. Para ele, este estrangulamento trouxe consequências históricas pois atrasou a democratização da comunição, que naquele momento, tinha tudo para ser alavancada pois as publicações respondiam ao clamor da sociedade civil.
“Havia em circulação cerca de 160 publicações regulares contrárias à ditadura. Então a estratégia, após os anos 80 com o fim da censura era de sufocar economicamente essas publicações, inviabilizando a distribuição nas bancas com ameaças aos jornaleiros”, conta Guto.
Davi Moraes disse que o Sindicato dos Jornalistas era um grande aglutinador de ideais e de ações – principalmente depois do assassinato de Vlado. Conforme ele, muitos profissionais optaram por seguir a linha de esquerda do jornalismo – sem o controle da censura. O que se queria era a verdade e não que era publicado na grande imprensa”, relembrou o então presidente do SJSP.
JORNALEIROS: Paolo Pelegrini, proprietário de uma banca de jornais na Praça da República, lembrou a atentado a uma banca no Itaim Bibi. ” O causou pânico entre os jornaleiros porque não sabíamos como vender um produto que era muito procurado. “O mercado exigia que nós continuássemos fazendo com que tudo chegasse ao leitor, de qualquer maneira, até que alguém nos proibisse. Isso provocava medo na classe. Alguns recuavam e não vendiam os jornais. Havia medo entre os jornaleiros”, revelou.
MOVIMENTO: Lia Ribeiro Dias, ex-dirigente do SJSP, que trabalhou no jornal Movimento, avaliou que a imprensa alternativa foi extremamente relevante, por ser a única fonte verdadeira de informação, já que a grande imprensa se rendia à ditadura. “Ela era uma imprensa crítica, que apontava todas as atrocidades da ditadura e ajudava na mobilização das massas. Os ataques foram uma operação orquestrada do regime para tentar segurar o acesso das massas à imprensa alternativa e fazer um processo de transição controlada, com domínio conservador. Temos que entender os atentados nesse contexto”.
Armando Sartori que também era do jornal “Movimento” contou que os ataques tiveram início num momento em que os jornais não estavam mais sob censura mas que uma tentativa cercear o movimento alternativo de voz popular que denunciavam os abusos de tortura e violação dos direitos humanos no período da ditadura militar.
EM TEMPO – A jornalista Vilma Amaro, que trabalhava no jornal Em Tempo, informou que o atentado partiu devido à publicação ser corajosa e ter denunciado o nome de 233 torturadores em ações do Exército. “Nós éramos comprometidos com a transformação social do país. Nós sofríamos ameaças constantes tentando calar o jornal. Houve um atentado próximo do local onde ficava o jornal, mas não nos sentíamos intimidados em nenhum momento”, relata Vilma.
CASO JK – O presidente da CMV, Gilberto Natalini, contestou a notícia veiculada pela grande imprensa de que a Comissão Nacional da Verdade teria concluído que o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu, de fato, em um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, como afirma a versão oficial, e não em um atentado político, como concluíram as investigações realizadas em São Paulo. Ele disse que solicitará esclarecimentos à Comissão Nacional para saber o porque do laudo com base em diversos depoimento, inclusive do motorista que teria vitimado Juscelino não foram levadas em conta. O mesmo descontentamento foi manifestado pelo relator, Mário Covas Neto, e o vereador Toninho que também copuseram a mesa. Segundo os integrantes da comissão, mais de 100 elementos indicavam a possibilidade de atentado, mas não foram, aparentemente, levados em conta na investigação nacional.
Também estiveram presente na audiência o secretário geral do SJSP, André freire, e o jornalista Milton Bellintani, que fazem parte (CVSJSP) além dos ex-presidentes Fred Ghedini e Everaldo Gouveia.
Foto Luiz Alberto França