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Ataques a jornalistas exigem compromisso da mídia no combate ao racismo

Ataques a jornalistas exigem compromisso da mídia no combate ao racismo


 

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A ampla comoção originada pelas ofensas racistas desferidas à apresentadora da TV Globo, Maria Júlia Coutinho, serve de alerta para uma preocupante escalada da visibilidade do racismo, nesse caso tendo por alvo mulheres cuja presença midiática, ou seja, a evidência e popularidade despertam a fúria de pessoas racistas.

Diante desses fatos, vimos a público prestar solidariedade à jornalista Maria Júlia Coutinho, mas também a todos os jornalistas que vêm sendo discriminados racialmente. O episódio não é isolado. Por esse mesmo motivo, preocupa e deve ser interpretado de forma mais ampla.

Ressaltamos que o combate ao racismo na categoria dos jornalistas é fruto de uma luta intensa há anos, por meio da organização dos coletivos de jornalistas antirracismo em nossas entidades sindicais, e pauta dos Congressos Nacionais promovidos pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). Historicamente, os meios de comunicação representam um largo abismo de racismo institucional, uma vez que a ocupação dos espaços por negros e negras ainda é desigual, e mais perverso ainda se considerarmos os indígenas, totalmente petrificados numa perspectiva exótica primitiva em rápida extinção.

O Brasil, ao ratificar inúmeros acordos internacionais de combate ao racismo, assumiu o compromisso de desenvolver ações internas de promoção à eliminação de todas as formas de discriminação ou preconceito de raça ou etnia. Criaram-se legislações antirracistas e o Estatuto da Igualdade Racial, que tem um capítulo específico sobre os meios de comunicação.

Nos congressos de jornalistas têm sido apresentadas discussões e propostas que buscam sinalizar diálogos possíveis para a efetiva promoção da desconstrução do racismo e o combate às desigualdades raciais no campo da comunicação. Entre os temas em debate está o questionamento às empresas de comunicação sobre a qualidade dos serviços prestados e dos produtos e conteúdos veiculados, que negam a rica diversidade cultural deste país.

Sendo assim, é fundamental ter a compreensão de que os veículos de comunicação têm considerável parcela de responsabilidade na construção, reprodução e ressignificação de estereótipos que afetam a população negra, em geral, ligados à violência, miserabilidade, decadência humana, despreparo, com baixa instrução e imoralidades, que tornam o afrodescendente um quase cidadão. Tais estereótipos engessam as pessoas em determinados modelos que as afastam de oportunidades de ascensão profissional e social.

Lembramos outros jornalistas vítimas de racismo, a exemplo de Cristiane Damacena e Raíssa Gomes, residentes em Brasília, que foram atacadas no Facebook, assim como a apresentadora do SBT, Joyce Ribeiro, que registrou boletim de ocorrência por injúria racial, bem como a jornalista Juliana Albino, que foi racializada por Manoel Costa, mestre de cerimônias de uma feira de negócios paulista.

Na Paraíba, o repórter Daniel Motta foi vítima de um comentário racista em seu perfil no Facebook, tendo como autor Arquimedes de Castro, diretor de Jornalismo da Rádio 98 FM de Campina Grande. Recentemente, em Salvador (BA), o jornalista negro Marivaldo Filho, editor de política do site Bocão News, foi vítima de uma brutal e covarde agressão por parte de policiais militares.

É necessário, como há anos defendem as Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial, apostar em conteúdos de combate ao racismo nas escolas de comunicação social, e combater a impunidade quando o assunto diz respeito a delitos de racismo e injúria racial, inclusive nas redes sociais.

Faz-se ainda mais urgente que os meios de comunicação tomem medidas efetivas de promoção da igualdade racial em seus processos de seleção interna, e aceitem as propostas sobre o tema nas negociações de acordos coletivos. As emissoras de TV podem usar o seu poder de influência para não só prestar solidariedade aos seus colaboradores vítimas de racismo, mas, também, contribuir para uma sociedade melhor, investindo numa programação que represente a diversidade étnico-racial. E, especialmente, não veicular, em programas humorísticos, representações preconceituosas em relação às mulheres negras. São essas representações que sustentam e alimentam o racismo reproduzido nas redes sociais.

É imperativo não se calar, não minimizar, individualizar ou banalizar fatos como o vivenciado pelos jornalistas, até mesmo para evitar-se a personalização de uma questão que é muito mais ampla, que tem histórico secular e público efetivo: racismo e discriminação racial contra a população negra e indígena.

Esperamos um compromisso efetivo da sociedade como um todo contra o racismo, cuja face mais visível neste momento atinge jornalistas negros e negras, mas é uma realidade na vida da população negra brasileira.

 

 

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Município do RJ

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de Alagoas

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial da Paraíba

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Espírito Santo

Diretoria de Relações de Gênero e Promoção da Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas da Bahia

Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial da Federação Nacional dos Jornalistas (CONAGIRA/FENAJ)


Foto: Reprodução Twitter

Texto: Fenaj

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