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Assassinato de Vlado é lembrado em ato político no Sindicato

Assassinato de Vlado é lembrado em ato político no Sindicato


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Jornalistas, estudantes e militantes dos Direitos Humanos lotam o auditório Vladimir Herzog

 

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) realizou na noite de terça-feira (27) ato político em memória do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, assassinado pela ditadura militar no dia 25 de outubro de 1975. A atividade foi realizada no auditório que leva o nome do jornalista assassinado, exatos 40 anos depois de onde se realizou a assembleia da categoria que definiu as ações que seriam tomadas para desmontar a farsa montada pelos algozes de que Vlado havia se suicidado na cela.

Naquele mesmo dia de 1975, o espaço foi denomeado Vladimir Herzog, dois dias após o seu assassinato nas dependências do Destacamento de Operações Internas – Centro de Operações de defesa (DOI- Codi) do II Exército.

Em 2015, para marcar os 40 anos da morte do jornalista, o auditório recebeu uma placa em homenagem a Vlado e aos jornalistas presos pelo regime de exceção: Antony de Christo, Diléa Frate, Fred Pessoa, George Duque Estrada, José Pola Galé, Marinilda Marchi, Paulo Markun, Ricardo de Moraes Monteiro, Rodolfo Konder (in memoriam) e Sérgio Gomes.

O ato foi aberto pelo secretário geral do SJSP, André Freire e a mesa composta pelo presidente do SJSP, Paulo Zocchi, pela diretora, ex-presa política e colega de Vlado na TV Cultura, Rose Nogueira, pelo ex-presidente SJSP em 1975, Audálio Dantas, pelo jornalista Sérgio Gomes, pelo apresentador da Jornal Hora da Notícia (do qual Vlado era diretor de jornalismo), Nemércio Nogueira e pelo presidente da Associação dos Jornalistas Veteranos, Amadeu Mêmolo.

 
placaAudálio Dantas lembrou os episódios que aconteceram após o dia 25 de outubro, data da morte de Vlado. “Estivemos no 2º Exército, onde o general Ferreira Marques exibiu as fotos de Herzog morto na cela do Doi-Codi e tentava nos convencer da tese do suicídio. Os militares diziam que havia uma grande infiltração de comunistas na imprensa e por isso se justificava a prisão de grande número de jornalistas.  Voltamos do sepultamento do Vlado e os jornalistas vieram em peso ao Sindicato. Estavam tão indignados que perderam o medo e decidiram levar nosso grito para as ruas. Por sugestão de Davi de Moraes, decidimos procurar dom Paulo Evaristo Arns, na Cúria Metropolitana, que de pronto aceitou nossa sugestão de fazer um ato ecumênico na catedral da Sé. O Sindicato e os jornalistas tiveram um papel preponderante na luta contra a ditadura”, relembrou ele, sendo aplaudido de pé.

O presidente do SJSP, Paulo Zocchi, lembrou os trabalhos da Comissão da Verdade dos Jornalistas, coordenado pelo Milton Bellintani (que não pode comparecer ao ato), e disse que o auditório já consta da lista dos 10 locais de São Paulo que integram a lista do Memorial de Resistência.

“Esse também é um ato de luta e nós somos a continuidade entre as gerações. A luta democrática de resistência contra a morte de Vlado e o Sindicato se tornou um protagonista nessa luta e depois na luta pela Anistia, pelas Diretas Já, pela fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras. Esse ano  tivemos uma posição clara, quando saímos às ruas em defesa da presidente Dilma Rousseff que foi eleita pelo voto popular. O voto tem que ser respeitado e repudiamos qualquer tipo de golpismo”, disse o presidente do SJSP.

E continuou: “queremos nossa posição de reforma política do Brasil feita pela Constituinte Exclusiva que seja feita pela mão do povo e não pelo Congresso desmoralizado e corrupto e em defesa dos direitos trabalhistas da nossa categoria e dos trabalhadores. As chagas causadas pela ditadura ainda estão abertas na figura da militarização da polícia militar. É uma herança nociva da ditadura que atingiu os jornalistas nas últimas manifestações porque são eles que registram a sua ação. Somos a favor da apuração e punição de todos os crimes da ditadura. E nós temos muito orgulho de continuar nessa luta”, finalizou.

Já a diretora do SJSP, Rose Nogueira, que trabalhou com Vlado, relembrou a atuação histórica do Sindicato no repúdio ao assassinato de Vlado e a sua experiência profissional com o jornalista. Ela editava as notícias internacionais e colocou a cobertura sobre a guerra do Vietnã no ar. Ela relembra que Vlado lhe sugeriu que fugisse para salvar sua vida.

“Eu ficava atenta à notícias porque eu tinha sido presa política em 69/70. Para mim, aquilo que estava acontecendo era terrível porque era a minha editoria e quando o Paulo Markun foi preso, apareceu uma pessoa chamada Paulo Nunes que passou a frequentar a redação como jornalista, mas era ligado ao Exército. Eu não falava da minha prisão, mas ele passou por mim na redação e disse: da segunda (vez) ninguém escapa. Fiquei com medo. Vlado me chamou e contou que a polícia tinha ido à casa dele e ele disse que ira se apresentar na amanhã seguinte.  Eu expus a ele a minha condição de presa política e que respondia um processo pela participação na Ação Libertadora Nacional (ALN) e ele disse: some por uns tempos.  Fui para casa de uns parentes e soube que Paulo Nunes dormiu na casa do Vlado e o acompanhou até a delegacia. Depois, dois colegas da redação bateram na minha casa contando que Vlado havia morrido”, finaliza ela.

O presidente da Associação dos Jornalistas Veteranos, Amadeu Mêmolo, fez uma homenagem a Vladimir Herzog e fez uma reprodução ampliada da carteira associativa da entidade (colocada em uma moldura) com a foto e o nome de Vladimir Herzog. “Ele é, a partir de hoje, nosso sócio de honra”, disse.

Ao final, os jornalistas presos com Vlado foram homenageados e descerraram a placa alusiva aos 40 anos do assassinato de Vladimir Herzog.

 

 

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Da esquerda para a direita: Sérgio Gomes, Paulo Markun, Luis Paulo Costa e Antony de Crhisto, homenageados no Sindicato

 

 Fotos: Vitor Ribeiro

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