Em 28 de outubro, o povo brasileiro se verá diante de uma escolha decisiva para o futuro do país. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, entidade que tem o compromisso com a luta democrática inscrito em seu DNA, se vê na obrigação cívica, neste momento, de se colocar de forma clara frente à sociedade.
No cenário eleitoral, apresentam-se duas propostas antagônicas, expressando um embate entre a volta do autoritarismo e a valorização da democracia. Jair Bolsonaro, defensor declarado da ditadura militar e da tortura¹, lidera as pesquisas eleitorais à Presidência da República. As novas gerações têm de saber que a tortura – além de ser um ato hediondo e de uma covardia sem limites – é um crime imprescritível para o direito internacional, e sua defesa é uma vergonhosa demonstração de barbárie frente ao mundo civilizado.
Para adotar nossa posição coletiva, partimos da dura experiência dos jornalistas de resistência à ditadura militar, contra a censura, a proibição a toda crítica política, o esmagamento da liberdade de imprensa. Sob as instituições do regime militar, os opositores – incluindo vários jornalistas – foram perseguidos, presos, torturados e mortos. Este Sindicato levantou-se a partir do bárbaro assassinato sob tortura do jornalista Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, para denunciar o terrível crime do regime, que permanece impune até hoje.
Em defesa da democracia no Brasil, é preciso derrotar o que Bolsonaro representa!
Como Sindicato, cuja função básica é a defesa dos direitos trabalhistas de nossa categoria profissional, temos ainda mais razões para combater as posições de Bolsonaro, apoiador da reforma trabalhista² – que precariza brutalmente as relações de trabalho no Brasil, com a terceirização irrestrita, o trabalho intermitente e a generalização do banco de horas – e de sua ampliação³. De sua campanha, vazam propostas como o fim do 13º salário e do pagamento de 30% nas férias (4), entrega total do patrimônio público (privatização da Petrobras e do BB) (5), nova Constituição feita por “notáveis” não eleitos (6), além de um desrespeito visceral aos direitos humanos e ao combate à pobreza e à desigualdade social. Já tivemos oportunidade de combater suas notórias declarações de discriminação e contrárias a direitos das mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTI+.
Como jornalistas, nos preocupa a disseminação em série de fake news em rede social usada como estratégia da campanha bolsonarista e a própria incitação à violência, que tem se espraiado socialmente e atingido inclusive diversos profissionais de imprensa.
Em suma, os compromissos de nossa entidade com a sua própria história, com os interesses diretos de nossos representados e com as liberdades democráticas nos fazem rejeitar de forma cabal a possibilidade de ascensão do capitão reformado à Presidência da República.
No atual momento, vemos a candidatura de Fernando Haddad como forma de defender a democracia no Brasil. As posições já consolidadas em nossa entidade – pela revogação da reforma trabalhista e das demais medidas de Temer, como a PEC do Teto (que destrói os serviços públicos) e a entrega do pré-sal às multinacionais – se identificam com compromissos assumidos pela candidatura Haddad. Também acreditamos, como o candidato afirmou, que “sem democracia não há direitos”.
Na adoção desta posição, somamo-nos à CUT, central sindical à qual somos filiados há mais de 30 anos, e que desde o seu nascimento se notabiliza pela combatividade incansável em defesa dos direitos dos trabalhadores brasileiros. Reafirmamos também a nossa independência frente a qualquer partido e governo, e o nosso compromisso inquebrantável com a representação e a defesa dos jornalistas de São Paulo em todas as situações.
Por tudo isso, como expressão de nossa linha de ação sindical neste momento de definição crucial para o país, nosso Sindicato vê grande identificação entre a candidatura Haddad e as propostas de interesse dos jornalistas, e apresenta com clareza e transparência sua posição para o debate democrático à nossa categoria e a toda a sociedade brasileira.
São Paulo, 11 de outubro de 2018
Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
NOTAS
1 – https://www.youtube.com/watch?v=-fMdCwlwg8E&feature=youtu.be e https://www.youtube.com/watch?v=2LC_v4J3waU
2 – https://g1.globo.com/politica/noticia/saiba-como-votou-cada-deputado-no-texto-base-da-reforma-trabalhista.ghtml
3 – https://www.redebrasilatual.com.br/eleicoes-2018/carteira-verde-e-amarela-de-bolsonaro-espalharia-a-informalidade
4 – https://www.youtube.com/watch?v=NPJybGdO5O0
5 – https://exame.abril.com.br/brasil/o-que-pensa-paulo-guedes-o-cerebro-economico-de-jair-bolsonaro/
6 – https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,uma-constituicao-nao-precisa-ser-feita-por-eleitos-pelo-povo-diz-mourao,70002501254