O estado de São Paulo novamente liderou as violações a jornalistas no país, segundo a edição 2018 do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, divulgado sexta-feira (18) pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
No ano passado, foram 28 casos entre agressões, cerceamento do exercício profissional e da liberdade de imprensa em São Paulo. O Sudeste lidera a violência nacional, com quase 40% (53 casos) em relação ao número nacional, seguido da região Sul, com 28,15% (38 casos).
Considerando o total de 135 ocorrências nacionalmente, o crescimento da violência contra jornalistas no Brasil em 2018 foi de 36,36% na comparação com o ano anterior, e atingiu 227 profissionais. O cenário político eleitoral impactou no aumento dessa violência – em todo o país, 30 ocorrências têm eleitores/manifestantes como os principais autores das agressões, dos quais 23 partidários de Jair Bolsonaro (PSL) e sete partidários do ex-presidente Lula.
> Acesse a íntegra do relatório da Fenaj
Outro acontecimento que influenciou os dados do relatório foi a greve dos caminhoneiros, pois esses profissionais foram responsáveis por 17,04% (23) dos casos e estão em segundo lugar entre os que praticaram atos de violência contra jornalistas.
Em terceiro lugar e empatados na lista de agressores estão policiais militares/guardas e empresários – incluindo os do setor de comunicação -, revela o relatório. Cada segmento é responsável por 13 ocorrências, e as empresas foram as principais autoras não só de censura, como também de ataques à organização sindical dos jornalistas.
Presidenta da Fenaj, Maria José Braga afirmou em coletiva de imprensa que “precisamos urgentemente de um protocolo de atuação das forças de segurança, pois é inadmissível que as polícias do Brasil possam agir violentamente, deliberadamente e sem justificativa”.
Em sua área de atuação, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) tem agido no combate e prevenção dos casos por meio de diversas ações, entre as quais plantões de atendimento aos jornalistas, cláusulas de segurança nos acordos e convenções coletivas da categoria, e delegações ao Poder Público para exigir das polícias o respeito às manifestações públicas e ao exercício do jornalismo.
Em diálogo com o SJSP, o Ministério Público de São Paulo propôs, em 2016, um protocolo de atuação da Polícia Militar. A proposta foi tema de audiência entre o Sindicato e o então governador Geraldo Alckmin, mas não houve avanços em medidas práticas.
Agressões físicas e verbais em SP
A cobertura da prisão do ex-presidente Lula, em abril de 2018, concentrou várias agressões. Entre as vítimas estão o fotógrafo Nilton Fukuda, da Agência Estado, os repórteres Sônia Blota, da TV Bandeirantes, Pedro Duran, da CBN, Bruna Barbosa, da Rádio Bandeirantes, Caio Rocha, da Jovem Pan, e Roberto Kovalic, da Rede Globo, além de equipes da Rede TV!, BandNews e UOL. Acesse relatório do SJSP sobre as agressões nessa ocasião.
Em maio, uma equipe da EPTV foi agredida a pauladas e teve equipamentos da emissora destruídos enquanto fazia a cobertura da greve dos caminhoneiros, durante uma gravação na Rodovia Anhanguera Km 188, em Leme, a 189 quilômetros da capital paulista. Os agressores não foram identificados.
No segundo semestre, aumentou o número de casos contra jornalistas, como contra a repórter Ana Nery, da Rádio Bandeirantes, agredida por um manifestante pró-Bolsonaro durante protesto na Av. Paulista.
No litoral, uma equipe da Tribuna de Santos foi hostilizada, alvo de agressões verbais e intimidação por manifestantes pró-Bolsonaro, durante uma festa realizada na Praça Independência pela vitória do candidato do PSL. Já em São Carlos, o jornalista Jeferson Vieira foi agredido pelo vereador Leandro Guerreiro (PSB), com soco no rosto (que ocasionou fratura do nariz) e um chute no abdômen.
Jornalistas ameaçados e intimidados
Além das agressões ocorridas pessoalmente, os jornalistas foram alvo de ataques virtuais por partidários de Bolsonaro e de outras legendas.
Entre os casos mais emblemáticos está o da repórter Patrícia Campos Melo, da Folha de S.Paulo, vítima de agressões e ameaças nas redes sociais depois de publicar, em 18 de outubro, a reportagem Empresários bancam campanha contra PT pelo WhatsApp.
Técnicos de futebol e empresários também figuram entre os autores de agressões, ameaças e cerceamentos a jornalistas no estado.
Durante uma entrevista por telefone em julho, a jornalista Camila Mattoso, da Folha, foi agredida verbalmente pelo empresário Neymar da Silva Santos, pai do jogador Neymar Jr., enquanto a repórter tentava apurar a realização de uma festa com jogadores da seleção concentrados para a Copa do Mundo.
Em Sorocaba, a jornalista Renata Golombieski, da Rádio Ipanema FM, foi agredida verbalmente por um membro da diretoria do Esporte Clube São Bento, que chegou a dar um tapa no microfone. E em Piracicaba, o jornalista Leonardo Moniz, do portal Líder Esportes, foi agredido verbalmente pelo ex-técnico do time XV de Piracicaba.
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo denuncia os casos, dá todo o apoio aos profissionais agredidos e trabalha para elaborar medidas visando que as ameaças e agressões não mais se repitam, e que o exercício profissional do jornalismo seja encarado com respeito e civilidade, como base de uma sociedade democrática.