Com camisetas, faixas, bandeiras, cartazes e muita disposição sindicalistas ocuparam a Avenida Paulista em São Paulo neste domingo (8) para marcar o Dia Internacional de Luta das Mulheres.
Não faltaram críticas aos governos federal, estadual e municipal e às posturas conservadoras do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. As trabalhadoras denunciaram o aumento dos casos de feminicídio e os ataques aos direitos sociais e trabalhistas.
A luta em defesa da democracia, da Previdência e do direito à aposentadoria estiveram entre as principais bandeiras levadas às ruas.
Elas também exigem justiça no caso da morte de Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro (RJ) em 14 de março de 2018, que se tornou uma inspiração para trabalhadoras que lutam contra injustiças e por democracia. O caso ainda segue em investigação pela polícia, que não chegou a uma conclusão.
Sobre a questão da violência, a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, Márcia Viana lembrou que a luta das mulheres tem tido destaque, não apenas no Brasil, como em diferentes países.
“Temos vivido uma série de retrocessos. Os governos conservadores fizeram com que direitos conquistados fossem retirados e retroagissem. Quando debatemos sobre a vida das mulheres não estamos falando só contra o feminicídio ou contra a violência, mas contra tudo o que mata as mulheres, como a reformas que retiram direitos ou a falta de investimento em políticas públicas”, disse.
Outras formas de violência contra a mulher têm relação com a informalidade, salários baixos e a precariedade das relações de trabalho, completa a secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT Brasil, Junéia Batista.
“Estamos nas ruas denunciando a propagação de mensagens misóginas por parte de alguns líderes políticos, assim como o aumento de políticas opressivas e sexistas. Aqui denunciamos a retirada de direitos que Bolsonaro vem promovendo. ‘Ele não, ele jamais’ é o nosso grande lema em todo Brasil”, afirma.
Exemplos de luta
Para a travesti, mulher intersexo e negra, Carolina Iara de Oliveira, é importante a construção de um feminismo que seja interseccional, que contemple a diversidade de todas mulheres, dos setores oprimidos e da classe trabalhadora.
“Que possamos ser vanguarda, estarmos à frente de um grande movimento de transformação social no Brasil e mundo. Que possamos resistir a este governo autoritário e mudar este sistema capitalista e neoliberal, que é tão injusto, desigual e aprofunda a pobreza. Que juntas, encarceradas ou livres, consigamos nos mover umas pelas outras”, disse Carolina, que é mestranda em Ciências Humanas e Sociais na UFABC e integra a Associação Brasileira Intersexo (ABRAI), o coletivo Loka de Efavirenz e a Rede de Jovens SP+.
Trabalhadora ambulante há 35 anos, Valdina da Silva carregava na Avenida Paulista, aos 64 anos de idade, a faixa da União dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Camelôs, Feirantes e Ambulantes do Brasil (Unicab), onde atua como presidenta.
“Entre os nossos desafios enfrentamos a violência policial nas ruas e a violência doméstica em nossas casas e, mesmo assim, temos de nos organizar para comprarmos mercadoria com o nosso próprio dinheiro, cuidarmos de nossos familiares, levarmos nossos filhos à escola, entre tantas outras tarefas. Nós matamos um leão por dia”, relatou, se referindo à violência cotidiana e à dupla e tripla jornada enfrentada pelas mulheres ambulantes.
Sob chuva constante, o ato começou na Avenida Paulista e fechou a pista sentido Rua da Consolação, na altura do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Depois, seguiu pela Rua Augusta em direção ao Centro da capital, encerrando por volta das 18h, na Praça Franklin Roosevelt, na República.