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Para se livrar de investigação no STF, Temer dá R$ 2 bi em emendas aos aliados

Para se livrar de investigação no STF, Temer dá R$ 2 bi em emendas aos aliados


Com a chave do cofre e a caneta na mão, Temer mostra a seus aliados que a crise econômica passa longe de Brasília. Levantamento da ONG Contas Abertas revela dinheiro para parlamentares de 27 partidos


“Não existe crise econômica no Brasil”, disse Temer ao chegar em Hamburgo na semana passada, para passar vergonha no G20. Certamente não existe. Para ele e seus aliados. Com a chave do cofre e uma caneta na mão, Temer mostrou a seus aliados que a crise econômica passa longe de Brasília.

Só no  mês passado, antes de chegar na Alemanha, Temer distribuiu cargos e dinheiro público em troca de apoio político e de barrar a denuncia de corrupção passiva oferecida pela Procuradoria Geral da República (PGR) contra ele. O levantamento feito pela ONG Contas Abertas mostra que foram gastos em junho um total de R$ 2 bilhões para parlamentares de 27 partidos e bancadas estaduais. Só para peemedebistas foram R$ 284,2 milhões em verbas empenhadas para emendas de seus parlamentares. As bancadas aliadas do Maranhão, Rio Grande do Norte e Roraima tiveram empenhados R$ 220,4 milhões e deram seis votos a favor de Temer na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara.

Só em um dia, Temer  recebeu 30 deputados. Até o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão, esteve no balcão de negócios de Temer, oferecendo  votos do PR. Resultado: o deputado Bilac Pinto (PR, partido de Costa Neto) conseguiu R$ 8,9 milhões em emendas e deu em troca o voto pró-Temer.

O deputado Beto Mansur (PRB), colocado na CCJ por Temer, dois dias antes da votação, ficou com R$ 5 milhões para garantir que a denúncia de corrupção fosse barrada. O deputado Carlos Marun (PMDB), que era suplente, entrou no troca-troca de titulares da CCJ dias antes da votação, deu seu voto a favor de Temer e levou R$ 5 milhões em emendas.

Dos 40 deputados que barraram na Comissão o relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), que recomendava o prosseguimento da denúncia contra Michel Temer, 38 tiveram R$ 134 milhões de empenhos para emendas em junho, antes da votação.

Zveiter acusou Temer de usar dinheiro público para comprar apoio e teve o relatório substituído pelo deputado tucano Paulo Abi-Ackel, que foi indicado como novo relator e apresentou um parecer pela não autorização ao STF para investigar Temer, e com a  recomendação de arquivamento do caso. Pela “gentileza”, Abi-ackel, recebeu R$ 5,1 milhões em emendas no mês passado. Abi-ackel  é amigo do senador Aécio Neves (PSDB-MG).  Por ai, percebe-se o “jogo de cena” dos tucanos, que se diziam irritados e constrangidos quando ficaram sabendo que Abi-Ackel seria o relator.

Nos bastidores, circulam rumores de que Aécio teria articulado o troca-troca de Zveiter  por Abi-Ackel com Temer, assim, os aliados de Aécio Neves votariam a favor de Temer na Câmara em retribuição a uma ajuda que o Planalto deu para enterrar o processo contra o senador tucano na Comissão de Ética do Senado.

A imprensa divulgou essa semana que Paulo Abi-Ackel é conhecido como “amigo desde sempre” de Aécio, frequentou a alta sociedade mineira desde cedo. Foi nas altas rodas de Belo Horizonte que conheceu Aécio Neves, cujos pais eram amigos de seus pais. O  cargo de maior relevância de Paulo Abi-Ackel na Câmara foi como líder da minoria, em 2011. Ele presidiu o PSDB de Minas em 2009 e, em 2016, quis se candidatar à prefeitura de Belo Horizonte, mas não conseguiu o apoio do PSDB. Abi-Ackel foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas. Ganhou o apelido de “Diamante” – uma referencia ao pai, Ibrahim, que teve o nome envolvido no escândalo de 1985, quando um  carregamento de pedras preciosas foi apreendido pela alfândega do aeroporto de Miami. Nas planilhas das delações da Odebrecht, é acusado de ter recebido propina para propor emendas de interesse da empreiteira. Na ocasião, disse que a denúncia era inverídica e que as doações recebidas em campanhas foram informadas e aprovadas pelo TRE.

O pai de Paulo Abi-Ackel, Ibrahim Abi-Ackel, foi ministro da Justiça durante o governo militar de João Figueiredo. Em 2007, o então governador de Minas, Aécio Neves, nomeou Ibrahim Abi-Ackel como assessor especial para coordenar estudos do governo do estado sobre alteração na legislação penal no Congresso Nacional da redução da maioridade penal e do tempo de regime fechado para quem comete crimes hediondos. Também foi secretário de estado de Defesa Social de Minas Gerais, no primeiro mandato do governador Aécio.

No 2 de agosto, quando os deputados voltarem do recesso, o  plenário decide se autoriza ou não o Supremo a analisar a acusação feita pela Procuradoria Geral da República. Para que a denúncia siga para o Supremo, são necessários pelo menos 342 dos 513 votos.

Escrito por: Helena Sthephanowitz
Foto: Beto Barata/PR

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