Nesta quarta-feira (25), data em que são celebrados o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e o Dia Nacional da Mulher Negra, milhares de mulheres se reuniram em São Paulo para se manifestar sob a palavra de ordem “Por nós, por todas nós e pelo Bem Viver”.
O ato teve concentração na Praça Roosevelt, localizada na zona central da capital paulista, e foi organizado pela Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.
A principal pauta do movimento, que há três anos vem realizando manifestações nesta data, é o fim do genocídio negro por parte do Estado brasileiro e o fim dos feminicídios, que atingem, sobretudo, as mulheres negras. De acordo com o Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve um aumento de 23,1% no homicídio de pessoas negras entre 2006 e 2016, e um aumento de 22% dos feminicídios de mulheres negras, apesar de a taxa referente às mulheres brancas ter diminuído.
Esse ano, no entanto, a pauta da marcha abrange principalmente a impunidade no caso da execução da vereadora carioca Marielle Franco, que, após mais de três meses, segue sem resolução.
O nome da Marielle, militante do movimento negro e uma das políticas mais engajadas na luta contra o genocídio dessa população, foi homenageado durante todo o ato, assim como os nomes das mães dos jovens Marcus Vinícius, assassinado por policiais na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, e Brenda, executada por um Policial Militar em POA.
Marielle presente!
“Marcharemos exigindo justiça para todos esses casos ao denunciarmos o Estado racista e machista”, destaca o manifesto escrito pela Marcha das Mulheres Negras. Para Priscila Lira, integrante da organização, o assassinato de Marielle tornou a marcha deste ano “emblemática”.
“É o primeiro ato que fazemos sem a presença da Marielle, que era uma figura que sempre estava nas marchas do Rio de Janeiro fazendo a denúncia da violação de direitos que as mulheres negras estavam expostas. O atentado contra a Marielle é um dos motivos de estarmos em marcha esse ano, porque é justamente as mulheres negras que mais são vítimas de violência, seja do Estado, seja doméstica. E também as principais vítimas do desmonte de políticas pública”, afirmou.
A denúncia da retirada de direitos que vem sendo praticada por parte do governo federal nos últimos dois anos também foi parte importante dos discursos na manifestação.
De acordo com Maria José Menezes, representante do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP) e também integrante da Marcha de Mulheres Negras, a área que vem sofrendo desmonte e mais impacta a população negra no país é a da saúde.
“Nossa mobilização pauta uma questão estrutural do país, esse grande apartheid que a população negra sofre, totalmente desassistida, e o segmento que usufruí dessa exploração está sempre utilizando de seus privilégios para se manter no poder. Estamos passando por um período muito crítico em relação à saúde, com a Emenda Constitucional 95, que cortou investimentos na população, a diminuição da cobertura vacinal de nossas crianças. Em dois anos, regredimos, em termos de saúde, mais de 30 anos”, afirmou.
Juventude e futuro
O ato seguiu pela Rua da Consolação e reuniu representantes de diversos movimentos como o Educafro, a Marcha Mundial de Mulheres, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de São Paulo (Cojira-SP), além de um cordão formado por ialorixás (sacerdotisas do Candomblé), representantes da população indígena, imigrantes africanos e o bloco afro Ilu Obá de Min, que realizou uma grande apresentação durante a marcha.
Para a jovem estudante Maria Helena Reis, a importância da Marcha anual é trazer representatividade para as mulheres, e, principalmente, meninas negras.
“Esse movimento é representativo para todas as mulheres negras que, no Brasil, não tem representatividade. Ele é importante porque nele conhecemos pessoas como nós e temos elas como exemplo. Eu, criança, não tinha conhecimento algum de como era ser uma mulher negra”, afirmou Reis.
Nesse sentido, a manifestação contou também com uma “marchinha”, ala dedicada às crianças negras, e com uma creche que funcionou durante todo o tempo da marcha, possibilitando a participação de mães. A marcha teve fim por volta das 22h, em frente à Biblioteca Mario de Andrade, no centro de São Paulo.